04 fevereiro 2012

ECONOMIA, POLÍTICA, CARNAVAL





Aeroportos vão a leilão; sindicatos armam protesto e ações judiciais

Guarulhos, Viracopos e Brasília serão privatizados segunda(6). Governo espera arrecadar ao menos R$ 5,4 bi. Central Única dos Trabalhadores (CUT) vai protestar na Bolsa de Valores na hora do leilão. Sindicato de aeroportuários ainda espera que Justiça barre venda. Segundo mensagem de Dilma ao Congresso, governo precisa de parceiro para modernizar aeroportos.

Brasília - O leilão de privatização de três dos maiores aeroportos do país - Guarulhos, Viracopos e Brasília – está marcado para segunda-feira (6), mas entidades sindicais prometem lutar até que o martelo seja batido contra o que classificam como “entrega do patrimônio público brasileiro ao capital privado internacional”.

Enquanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocou filiados para protesto em frente à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), local do leilão e bem na hora dele, o Sindicato Nacional dos Aeroportuários (SINA) tenta barrar o pregão na Justiça, com ações que alegam o descumprimento de acordos firmados.

Para o secretário-geral da CUT, Quintino Severo, o governo adotou modelo privatizador que prejudica os interesses estratégicos do país, pois permite que a iniciativa privada seja majoritária no comando dos três aeroportos. Juntos, eles respondem por 30% dos passageiros, 57% do volume de cargas e 19% das aeronaves que passam pelos terminais brasileiros.

“Após a privatização, a Infraero terá, no máximo, 49% das ações destes aeroportos, que são os mais lucrativos do país. Como ela irá subsidiar os investimentos que os outros, muitos deles deficitários, precisam para atender bem aos passageiros?”, questiona.

A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) administra 66, dos 67 aeroportos brasileiros. Em 2011, o governo Dilma privatizou um aeroporto no Rio Grande do Norte como experiência-piloto.

“Aprovaríamos se fosse um modelo como o da Petrobras, que é uma empresa de capital aberto, mas controlada pelo governo”, diz Severo.

O Sindicato Nacional dos Aeroportuários, que no ano passado iniciou greve contra as privatizações, tenta suspender o leilão por via judicial. Para o SINA, o edital descumpre acordo firmado durante a greve, que garante a estabilidade dos trabalhadores da Infraero nos terminais que serão privatizados.

O sindicato também contesta os prazos apertados para a concessão dos serviços, que prejudicariam a empresa pública.

Na última terça-feira (31), o juiz federal Haroldo Nader, da 8ª Vara Federal em Campinas, negou uma ação popular movida por quatro trabalhadores que pretendiam barrar o processo de privatização.

Para eles, o leilão vai tolher a participação das empresas nacionais. O juiz entendeu, porém, que o Judiciário não pode avaliar a conveniência dos atos administrativos, a menos que haja flagrante desvio de finalidade.

Quem investe?

A CUT questiona também o fato do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiar até 90% da privatização, com empréstimos aos compradores. Para Severo, o governo deveria usar esse dinheiro para capitalizar a Infraero e permitir que a estatal pudesse ela mesma investir na modernização e ampliação dos terminais.

A falta de recursos públicos é o principal argumento do governo Dilma para a privatização. “Queremos parcerias para garantir que os aeroportos brasileiros se modernizem e expandam em ritmo adequado e compatível com o extraordinário crescimento da demanda por esses serviços no Brasil”, diz Dilma na mensagem que mandou quinta-feira (2) ao Congresso, com suas prioridades em 2012.

Em nota divulgada na última quarta-feira (1), a Secretaria Nacional de Aviação Civil, órgão que Dilma criou para ficar ligado diretamente a ela, diz que a privatização é necessária por causa do aumento do tráfego nos aeroportos, situação que vai piorar com a Copa de 2014.

“O crescimento no número de passageiros transportados no Brasil, no período de 2003 a 2011, foi de 118%, uma variação percentual que não foi registrada em nenhum outro país”, afirma.

No modelo de privatização dos três aeorportos proposto pelo governo e aprovado pelo Tribunal de Contas das União (TCU), a margem de lucro das empresas compradoras foi fixada em 6%. Para levar o aeoroporto de Guarulho, o interessado terá de pagar ao menos R$ 3,4 bilhões. No de Campinas, R$ 1,5 bilhão. E no Brasília, R$ 582 milhões.


Fonte: www.cartamaior.com.br


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Dinamismo econômico não tira Salvador e Recife da lanterna no ranking do desemprego

As duas capitais do Nordeste seguem com taxas de desemprego mais elevadas do que cidades do Sul e Sudeste. Dieese avalia que histórica fragilidade do setor industrial local, apesar dos avanços recentes, explica o descompasso. A situação é pior na capital baiana, que ostentou em 2011 a maior taxa entre as sete regiões pesquisadas no país.

São Paulo - Apesar do dinamismo econômico na última década, Salvador e Recife ainda não conseguiram reduzir suas taxas de desemprego ao nível de outras capitais do Sul e Sudeste do país.

A situação é pior na capital baiana, que ostentou em 2011 a maior taxa de desocupação entre as sete regiões pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estudos Sócio-econômicos, o Dieese. Os dados referem-se não apenas às cidades, mas à totalidade das regiões metropolitanas.

"O Nordeste ainda paga um preço alto por ter uma cadeia industrial menos desenvolvida", explica à Carta Maior a economista Ana Margaret Simões, coordenadora da pesquisa em Salvador.

Segundo ela, Recife avançou com a construção da refinaria da Petrobras e a ampliação do Porto de Suape, mas a capital da Bahia, com menos impulsos locais, segue a reboque do crescimento do país. A refinaria ainda não foi inaugurada, mas as obras de infra-estrutura movimentam a economia pernambucana.

No ano passado, Salvador registrou desemprego de 15,3%, queda de 7,8% em relação à taxa de 2010. Na capital pernambucana o índice caiu mais, 16,7%, o que gerou um recuo na desocupação para 13,5%.

Ambas as regiões metropolitanas possuem taxas acima da média das sete regiões pesquisadas, que é de 10,5%. Em São Paulo, o desemprego em 2011 alcançou 10,5% (menos 11,8% sobre 2010), em Porto Alegre, 7,3% (menos 16,1%), e em Belo Horizonte, 7% (menos 16,7%).

As outras regiões pesquisadas foram o Distrito Federal (taxa de 12,4%, com baixa de 8,8%) e Fortaleza (8,9%, com recuo de 5,3%). Conforme Simões, a capital cearense se distingue das outras metrópoles nordestinas por ter uma cadeia industrial mais extensa, ainda que focada em setores menos tecnológicos, como o têxtil.

Importância da indústria
A fragilidade industrial é a chave para compreender o subdesenvolvimento relativo no Nordeste, na opinião de Ana Margaret Simões, por três razões: o setor tem salários médios mais altos, abaixo apenas do serviço público; é gerador de pesquisa tecnológica e inovações; é indutor do setor de serviços.

Essa relação fica ainda mais clara quando se analisam as estatísticas do Dieese: quanto mais empregos industriais uma região possui, menor o nível de desemprego dos trabalhadores.

As capitais com maior taxa de ocupação na indústria - Fortaleza (18,7% dos trabalhadores), São Paulo (18,3%) e Porto Alegre (17,4%) apresentam menos desocupação. No lado oposto, regiões com menos emprego industrial - Salvador (8,8%) e Recife (8,7%) - revelam maiores taxas de desemprego.

O diagnóstico não passa despercebido ao poder público. Em novembro do ano passado, o governo da Bahia, a Petrobras e a Federação das Indústrias da Bahia lançaram o estudo "Política Industrial da Bahia – Estratégias e Proposições". O documento discute a criação de estímulos para setores como o automotivo, a agroindústria e o de petróleo e gás, entre outros.

Na ocasião, o governador Jaques Wagner (PT) declarou: “Esse documento é importante neste momento de desenvolvimento que a Bahia vive. Não é nada mais do que planejamento para aproveitar esse bom momento, orientando os diversos setores, a iniciativa privada, o governo e a academia”.

O momento é realmente bom. Segundo dados do Dieese, Salvador registrou em 2011 o maior crescimento na ocupação industrial entre as regiões pesquisadas, com 10,2%. Recife teve avanço de 1,4% e a média nacional ficou em 1,1%. O problema é que o muro ainda continua alto demais para o tamanho da escada.


Fonte: www.cartamaior.com.br




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A 'Copomização' do debate

02.02.2012 09:53

Falta uma política bancária ao país


Por Luís Nassif 


Ex-economista chefe da Febraban (Federação de Bancos do Brasil), Roberto Troster escreveu para o jornal Valor Econômico provavelmente o mais importante artigo sobre política monetária.
O título é “A ‘Copomização’ do debate do sistema bancário” e se refere ao hábito entranhado de se discutir a política monetária somente através da taxa Selic (a taxa referencial de juros do Banco Central) sem analisar a ponta, isto é, a maneira como a taxa impacta a economia real.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Foto: Agência Brasil
A taxa Selic é mero instrumento para o BC atuar sobe o mercado de crédito. Ela é eficaz ou não dependendo da maneira como impacta o mercado. Sem essa análise, a taxa Selic torna-se quase uma abstração.
Constata Troster que uma Selic a 9% ou a 12% não faz a menor diferença para o tomador de empréstimo.
A consequência é que, apesar dos lucros enormes do sistema financeiro, “a oferta de crédito apresenta níveis de instabilidade e ineficiência incompatíveis com a sofisticação dos bancos”, diz ele. Em 2011, as taxas médias de crédito variaram mais de 20% entre as diversas instituições.
Há uma medida de eficiência de um sistema bancário: a diferença entre as taxas de captação e de aplicação. No último Fórum Econômico Mundial, de Davos, essa diferença superou 300%, em alguns casos, tornando o sistema bancário brasileiro o segundo mais ineficiente do mundo, superado apenas  pelo Zimbábue.
Disso resulta uma série de consequências:
1. Mesmo com o recorde de desemprego baixo, a inadimplência brasileira é mais que o dobro da média mundial.
2. Apesar dos avanços da bancarização, a demanda por crédito está diminuindo. Segundo pesquisa do IPEA, o número de famílias sem nenhuma dívida aumentou para 56%. Na mesma sondagem, mostra que 36% dos endiividados não teriam como saldar suas dívidas.
3. Levantamentos do Sebrae mostram que 71% das pequenas e médias empresas não recorrem a empréstimos bancários.
4. Apesar de bancos sólidos e bem geridos, a relação crédito/PIB é parecida com a da Bolívia. Pelas projeções atuais, levará dez anos para alcançar a do Chile.
O banqueiro brasileiro não é diferente de outros países, argumenta Troster. O problema está na redução do debate às reuniões do Copom. “Enquanto a taxa Selic, centro das atenções, aumentou 0,25% em 2011 e foi manchete em cada alteração, a de crédito pessoal (excluído o consignado) se elevou 11,40% (quarenta e cinco vezes mais!), e não foi notícia. Há taxas médias para pessoa jurídica que são mais de dez vezes maiores que a Selic. Para pessoa física, mais de 15 e há também financiamentos para o tomador final que estão a mais de trinta”.
O BC precisa avançar além da Selic. “Falta ao país uma política bancária que trate do custo do crédito, da cunha tributária, da transparência, da proteção ao consumidor bancário, do direcionamento de recursos, do desempenho dos bancos públicos, da estabilidade da oferta, dos compulsórios, do processo de precificação, da concorrência, do financiamento de longo prazo” diz ele.
“O crédito é a ponte entre o presente e o futuro e necessita de uma política consistente que alinhe interesses privados com sociais (…)  Não são objetivos incompatíveis, pelo contrário. É possível, há uma janela de oportunidade e o governo quer fazer acontecer”, conclui ele.

Fonte: www.cartacapital.com.br 


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            s O C i e D a d E





Crônica

02.02.2012 11:23

Coisas de velho

Por Alberto Villas

Quando eu tinha dez anos, velho para mim era quem tinha uns 25. Mulher então aos 25 anos já era uma solteirona ficando pra tia, já criando gatos ou pensando em ser freira. O tempo passa, o tempo voa e a gente vai refazendo as contas. Quando chegamos aos 30, velho é quem tem 50 ou mais. Aos 60, considero velho só quem já passou dos 80. E, acredito eu, quem tem 80 deve achar velho, velho mesmo, o Oscar Niemeyer, a Dona Canô e a Tomie Ohtake.
Mas, pensando bem, quando a gente atinge os 60 anos de idade, começa a apresentar uns sintomas de velhice sim. Não é que outro dia eu me peguei apagando todas as luzes da casa, resmungando que eu não era sócio da Light, igualzinho ao meu pai que apagava e resmungava, isso lá pelos anos 50?

'Você pode se considerar velho quando começa a se irritar quando alguém chama terceira idade de melhor idade'. Kevin Dooley/Flickr

Velho gosta de fazer listas. Mesmo não tendo praticamente nada para fazer durante o dia, ele tem sua lista de afazeres. Lista os horários dos remédios que tem de tomar, as contas que tem de pagar, as datas dos aniversários dos amigos, lista os telefonemas que precisa dar. Sendo assim, fiz a minha lista dos primeiros sintomas da velhice. Vamos lá!
Você pode se considerar velho quando começa a sair de casa com um guarda-chuva debaixo do braço, mesmo que a Meteorologia anuncie sol para o dia inteiro.

Quando insiste em chamar o condicionador de creme rinse.
Quando decide abandonar todos os botões do controle remoto, achando que importante mesmo é só o que liga e o que desliga.
Quando entra de óculos no chuveiro para tomar banho.
Quando coloca no celular o número do urologista, do cardiologista, do dermatologista, do geriatra, sem contar todos os números dos hospitais e emergências: Polícia, Samu, Bombeiro, Eletropaulo, Comgás e por aí vai.
Quando vê um bebum na rua e diz que ele está pinguço.
Quando chega a um laboratório de exames e escolhe apenas alguns folhetos para levar para casa: Osteoporose, AVC, Próstata, Insônia, Alzheimer.
Quando deixa um talão de cheques inteirinho assinado para alguma emergência.
Quando vai direto ao obituário dos jornais ver quem morreu e fica aliviado quando fica sabendo que fulano morreu aos 96 anos e beltrano aos 89.

William Hurt e Isabella Rossellini em cena do filme em 'Late Bloomers – O Amor Não Tem Fim'
Quando insiste em chamar calendário de folhinha.
Quando diz que um aparelho doméstico escangalhou e pessoas ao lado olham assustadas e perguntam: Escangalhou? O que é isso?
Quando rega as plantas nas jardineiras das janelas mesmo nos dias de chuva.
Quando começa a desconfiar que um pé está mais inchado que o outro.
Quando esquece sistematicamente a água fervendo no fogão.
Quando começa a dizer “deixa eu anotar senão eu me esqueço”.
Quando começa a organizar as notas de real na carteira todas de cabeça pra cima e por ordem decrescente.
Quando pega o correio debaixo da porta e ainda acha que vai chegar uma carta num envelope verde e amarelo pra você.
Quando alguém diz que vai baixar uma música e você, por um segundo, imagina que ele vai apenas diminuir o volume da vitrola. Sim, vitrola.
Quando você, desconfiado, não faz mais depósito em dinheiro num caixa eletrônico.
Quando começa a achar que os anos 80 foram ontem.
Quando pega o saleiro e vacila em colocar mais sal na comida.
Quando começa a se irritar quando alguém chama terceira idade de melhor idade.
Outro dia me vi esfregando com bucha e sabão uma travessa, tentando desesperadamente tirar a pimenta da travessa. Foi quando percebi que a pimenta era um desenho na travessa. Pensei: “Coisa de velho!”
Mas que bobagem. Pensando bem, eu não estou tão velho assim. Nem mesmo o Oscar Niemeyer, a Dona Canô ou a Tomie Ohtake.

Fonte: www.cartacapital.com.br 


CARNAVAL        CARNAVAL           CARNAVAL

Liberdade com limites na festa de Momo

Justas interdições no carnaval libertário
Luciano Siqueira

Publicado no portal Brasil 247

A festa libertária, quem diria, incorpora uma lista de proibições justamente para assegurar ao folião que quer legitimamente se divertir as condições para tal, sem o incômodo de práticas indevidas de porcos-espinhos.

É uma imensa festa que, como bem assinala a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, Rita de Cássia Barbosa de Araújo, autora do belíssimo artigo “Carnaval do Recife: a alegria guerreira” (revista Estudos Avançados – USP, abril de 1997), acumula rica tradição marcada por um sentido libertário.

No final do século XIX e início do século XX, só as elites participavam da festa, através do desfile de alegorias e clubes de máscaras, reservando-se ao populacho o papel de simples expectador. Com o surgimento de agremiações populares destinadas a lutar pelo direito de brincar, abrindo alas e arrostando a norma excludente e a repressão policial, pouco a pouco as multidões ocuparam seu espaço nas praças e ruas do Recife. Agremiações hoje centenárias, como Vassourinhas, Pás Douradas, Lavadeiras, Lenhadores e outras surgiram inspirados na luta por direitos corporativos e pelo anseio de participar dos folguedos.

Hoje, no Recife, em Olinda e muitos outros lugares de Pernambuco tem-se certamente o carnaval mais democrático do Brasil. Ao folião comum, bastam camiseta, bermuda e tênis, ou uma fantasia improvida ou não, ganhar as ruas e curtir a alegria geral. Com uma ressalva: nem tudo é permitido.

Há um conjunto de interdições punitivas que a vida mostrou serem necessárias para coibir o mau uso da liberdade pelo pessoal que quer botar água no chope da maioria.

Som eletrônico nas ruas do sitio histórico de Olinda, já é proibido há alguns anos, precisamente porque praticamente impedia o livre trânsito das agremiações carnavalescas.

Outra prática abusiva: urinar na rua, que muita gente cheia de oxidrila na cuca gosta de fazer e outros nem tanto também, por pura preguiça de entrar na fila dos sanitários públicos químicos. A lavagem das ruas e ladeiras de Olinda faz-se todas as madrugadas porque a fedentina se torna insuportável. No bairro do Recife Antigo também.

Pior: além de urinarem ali mesmo, pegam o embalo se despem – talvez como modo extremo (sic) de proclamarem a liberdade.

E tem o abuso machista inaceitável: beijar à força, como se as mulheres tivessem que aceitar a “brincadeira” em nome da algazarra geral. Aí a punição pode ser pesada, pois pela legislação em vigor esse tipo de agressão pode ser tipificado como tentativa de estupro.

Isso para garantir o direito conquistado há pouco mais de um século com muito sangue, suor e cachaça.

A verve de Jomard

REDOBRANDO outros CARNAVAIS

Jomard Muniz de Britto, jmb em folia

É bom recomeçar pelas dobras da visual
verticalidade. Maior legibilidade?
Sua viagem será mais longilínea diante
das retas e curvas do desejo sem lei.
Pelas ruas, avenidas, becos sem saída
alguns tolinhos(as) podem até jogar
líquidos dengosos sobre nós.
Perversa nulidade da doença recorrente.
Mas não se irrite com vadios gestos e
grosserias suplementares.
Tudo é libertação sem estupros.
Se curvo é o caminho da eternidade,
compreenda as dobraduras carnavalescas.
Porém dispense e disperse a retidão
das acadêmicas imortalidades.
Igrejas de Olinda até a mais barroca
de São Pedro dos Clérigos no Recife
revisitam experimentações.
Carnavais neon-barrocos circulando
rotinas e roteiros, visgos da fogosa
mun da ni da de. Para todos. 
Se pelos foliões não existe BEM &
MAL, o que persiste é bom e mau
REencontros:de corpos e compaixões,
dialéticas cotidianas, interesses
corporativos do Kapital, faxinas
obrigatórias, escambau de brasis.
Carnaval é acontecimento MULTIpolar
de raças e graças, famas e desgraças,
tudo rodopiando da poeira cósmica ao
abismo das terceiras opções e traduções.
O BLOCO do NADA pode ser nossa
MUSA RARA e ararinha azul.
Tudo pelas dobraduras e intensidades
dos amores líquidos às sutis e sórdidas
traições da língua em linguagens.
Pelos clarins clamando DORA, Rainha
do frevo e maracatudos. Acordando
multidões do Galo da Madrugada ao
Nóis Sofre Mas Nóis Goza dos céticos.
Recife, carnavais do ano inteiro.
atentadospoeticos@yahoo.com.br


POLÍTICA INTERNACIONAL




As torcidas organizadas e a Revolução egípcia

As torcidas organizadas que surgiram na América Latina nos anos 70 apareceram recentemente no Egito. Os primeiros grupos apareceram em 2005 e, quase imediatamente, entraram para a oposição ao regime do deposto Hosni Mubarak e aos membros de seu braço político, o Partido Nacional Democrático (PND). Os torcedores radicais da equipe do Cairo, Ahly, e os do Zamalek foram os que mais se comprometeram no combate contra Mubarak. Não parece ser um acaso que tenham sido agora objeto de uma vingança sangrenta ante à passividade cúmplice da polícia.

Nas horas mais violentas da segunda fase da Revolução egípcia que fez da praça Tahrir o seu território de rebeldia, as torcidas organizadas egípcias atuaram como a tropa de choque que se enfrentou com a polícia nos combates mais cruentos que estouraram nos acessos à rua Mohamed Mahmud. Essa via conduzia ao Ministério do Interior e era, tanto para os manifestos quanto para a polícia, um lugar estratégico. Sem aqueles jovens de 20 anos fanáticos por futebol e oriundos dos bairros pobres do Cairo, sem sua cultura aguerrida dos enfrentamentos, a praça teria caído nas mãos da polícia. As torcidas organizadas que surgiram na América Latina nos anos 70 apareceram recentemente no Egito. Os primeiros grupos apareceram em 2005 e, quase imediatamente, entraram para a oposição ao regime do deposto Hosni Mubarak e aos membros de seu braço político, o Partido Nacional Democrático (PND).

Incontroláveis pelas estruturas patriarcais que dirigem os clubes de futebol, a maior parte das vezes aliadas de uma ou de outra forma com o regime, hostis ao comando do PND, furibundos contestadores da autoridade policial, a qual desprezam por sua endêmica corrupção e pela brutalidade insensata com que atuava, os « ultras », como são conhecidos, desenvolveram uma estrutura poderosa, rebelde e violenta.

Autônomos nos planos político e material, já que não dependem dos clubes com os quais simpatizam, eles fizeram da guerrilha contra as forças da ordem um estilo de vida. Seu desenvolvimento foi tão rápido quanto sua capacidade de se organizar. Os analistas egípcios davam conta de que, depois da Irmandade Muçulmana, os clubes de torcedores que nasceram nos meados do ano 2000, eram as estruturas mais organizadas do país. Duas torcidas se destacam entre todas : a White Knights, dos torcedores do clube Zamalek SC, e a dos torcedores do Al Ahly Sporting Club, um dos grupos envolvidos no massacre de Porto Said.

Em outubro e novembro do ano passado, em plena revolta da Praça Tahrir, Carta Maior compartilhou com esses torcedores momentos de uma extrema violência e de uma grande solidariedade interna. Poucos dias antes das eleições que marcaram o ingresso do Egito em um sistema democrático mais aberto, os revolucionários de janeiro de 2011 voltaram a ocupar a praça para exigir da junta militar mudanças substanciais no dispositivo eleitoral, assim como a entrega imediata do poder aos civis. A polícia respondeu com mais virulência do que nas revoltas que desembocaram na queda de Hosni Mubarak. Mas as torcidas organizadas estavam ali para defender a praça Tahrir. Nada os dissuadia : estavam perfeitamente treinados para suportar os gases lacrimogêneos, pular paredes, atirar pedras e se chocar diretamente contra as unidades policiais especializadas em repressão urbana.

A Revolução egípcia unificou as trocidas por cima das rivalidades clubísticas. « Eles foram os atores determinantes da Revolução de janeiro. No dia 25, sem que ninguém os chamasse e sem que houvesse uma consigna posterior, eles vieram para defender a Praça Tahrir e dali não se moveram », lembrava Tamer, um advogado recém formado. Sua presença ficou gravada nos muros do Cairo junto aos grafites da revolução.

A consiga dos ultras, ACAB (All Cops are bastards, Todos os policiais são bastardos) ocupa tantos lugares quanto as consignas revolucionárias.
Graças à internet, aos telefones celulares e às redes sociais, a capacidade de mobilização destes grupos é tão massiva como instantânea. Os três principais nucleos de torcidas organizadas, Ahlawy, White Knights e Blue Dragons, atraem dezenas de milhares de pessoas em um piscar de olhos.

Calcula-se que esses três grupos são capazes de reunir cerca de 20 mil pessoas e levara para a rua mais de 50 mil. Sua influência chegou a tal nível que, durante os últimos anos de Kubarak, a policia ia prender os líderes das trocidas em suas casas e os julgava logo em tribunais militares.

Os torcedores radicais da equipe do Cairo, Ahly, e os do Zamalek foram os que mais se comprometeram no combate contra Mubarak. Não parece ser um acaso que tenham sido agora objeto de uma vingança sangrenta ante à passividade cúmplice da polícia. Omar, um cairota de 20 anos, membro dos White Knights, dizia em novembro de 2011 que a polícia egípcia era « uma assassina » e que se havia algo que era preciso mudar com urgência no país era « limpar esse corpo de torturadores e corruptos ». Gasser Abdel Ruzek, um dos dirigentes da Iniciativa Egípcia para os Direitos Pessoais, contava no ano passado que os torcedores de futebol passaram da condição de fanáticos de um clube para a de « soldados » da liberdade.

Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: www.cartamaior.com.br 




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