13 janeiro 2012

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Ainda sobre os riscos da desindustrialização

No ano passado, o Brasil mais importou do que exportou café moído! Ou seja, continuamos com a velha e burra política de vender café verde em grãos, de baixa qualidade, sem ter conseguido dar um salto à frente nos processos crescentes de café torrado e moído de maior qualidade, de acordo com exigência do mercado internacional.

Enquanto alguns preferem ficar comemorando as notícias de que PIB brasileiro poderia ter ultrapassado o da Inglaterra, acho que deveríamos todos é estar mais preocupados com a continuidade do processo de desindustrialização de nossa economia. 

A situação não é para brincadeira, pois o quadro é trágico! A cada dia surgem mais notícias e avaliações relativas à perda relativa de competitividade da indústria brasileira. São muitas as evidências de que as decisões de ampliação do investimento produtivo tendem a preferir a opção por território estrangeiro para a instalação industrial e apenas o destino das mercadorias para simples consumo em nossas terras.

Os casos mais simbólicos são políticas empresariais como as da mega corporação Vale, que exporta minério de ferro bruto extraído de nosso subsolo sob concessão da União e importa os produtos manufaturados para seu próprio uso. É o que ocorre com os trilhos comprados para suas ferrovias ou os super cargueiros encomendados para transporte de minérios– na grande maioria dos casos importados da China. Muitos setores festejam os impressionantes números obtidos com as exportações de pindorama, que contabilizaram quase uma centena de bilhões de dólares em nossa balança comercial no ano que se encerrou. Mas o conjunto de nosso País lamenta, de outro lado, os igualmente expressivos valores das importações. Com o péssimo agravante de que vendemos produto primário barato e compramos produtos manufaturados de maior valor agregado. Até parece que os responsáveis pela nossa política econômica e industrial esqueceram tudo o que devem ter lido e estudado sobre as chamadas trocas desiguais no capitalismo, em especial os prejuízos causados aos países de menor grau de industrialização.

Agora, recentemente, foram divulgadas informações que são ainda mais carregadas de expressivo simbolismo. Ao longo de 2011, essa mesma lógica chegou a atingir um setor que durante muito tempo foi considerado como “genuinamente brasileiro”. No ano passado, o Brasil mais importou do que exportou café moído! Ou seja, continuamos com a velha e burra política de vender café verde em grãos, de baixa qualidade, sem ter conseguido dar um salto à frente nos processos crescentes de café torrado e moído de maior qualidade, de acordo com exigência do mercado internacional. E pior: passamos a importar esse tipo de café manufaturado e com maior valor agregado do resto do mundo, em volumes mais altos do que vendemos lá fora. Uma loucura! No concreto, isso significa redução de investimento em novas plantas industriais aqui dentro, com a conseqüente geração de emprego e renda lá fora.

Apesar de ser um processo complexo e de múltiplas causas, há dois fatores que são os mais determinantes na conjuntura atual para explicar a desindustrialização. São eles a nossa conhecida duplinha dinâmica: câmbio e juros. A questão é tão evidente que chega mesmo a causar espanto a forma irresponsável como os diversos governos têm enfrentado esse importante problema.

Sai ano e entra ano, mas o quando não muda em sua essência: continuamos sérios e obstinados em manter a condição de líder mundial no quesito dos juros. Com a taxa oficial lá nas alturas, a lógica da rentabilidade do capital prioriza a opção pela aplicação no mercado financeiro e não na atividade produtiva. Assim, a política monetária de SELIC elevada causa um duplo transtorno em nossa economia. De um lado, sacrifica de forma absurda o orçamento do Estado com gastos puramente financeiros e limita as despesas na área social e de investimento estratégico do Estado. De outro lado, as altas taxas de juros inibem os novos investimentos nas áreas da produção e nos serviços.

Mas aqui surge uma outra conseqüência negativa da SELIC elevada. Ela exerce uma atração continuada e apetitosa sobre o capital financeiro internacional – em especial sobre os recursos de natureza puramente especulativa. Aquele tipo de dinheiro que vai e vem ao sabor dos riscos e dos ganhos, sem nenhum compromisso com a geração de renda e emprego no país em que está aportando no momento. E, por incrível que possa parecer para muitos, nossa política econômica se dirige para satisfazer exatamente os desejos do investidor de tal perfil. O resultado desse tipo de movimento é que nossa praça fica inundada de recursos externos de curtíssimo prazo – aliás, fator potencialmente gerador de elevada instabilidade macroeconômica. A qualquer susto ou boato, o chamado “efeito manada” da massa especulativa pode causar sérios problemas de desequilíbrio em nossas contas externas. Isso porque as nossas regras tupiniquins, ao contrário do que ocorre na maioria dos países industrializados, não prevêem nenhum tipo de controle sobre entrada e saída desse capital, nem mesmo exige um tempo mínimo de permanência como contrapartida de poder usufruir das benesses do ganho financeiro fácil patrocinado por nosso setor público.

Essa pressão derivada do ingresso de dólares e outras moedas estrangeiras provoca um desequilíbrio importante em nosso mercado de câmbio. Mas um dos pilares básicos da estabilidade herdada desde os tempos do Plano Real é o pressuposto da “liberdade cambial”. Assim, o receio - quase um temor - em contrariar as vontades dos que mandam no mercado financeiro faz com que o setor de câmbio seja considerado “imexível” pelo governo. O resultado é uma sobrevalorização absolutamente artificial de nossa taxa de câmbio. Ao longo da semana atual ela está na faixa de R$1,80/US$. É verdade que já melhorou um pouco em relação aos níveis de 2010. Mas estamos ainda muito longe de uma taxa que possa se considerar mais realista, que muitos analistas econômicos situam na faixa de R$ 2,50.

Com esse poder de compra de nossa moeda no mercado internacional, as importações são muito estimuladas. Desde as compras das famílias animadas da classe média que fazem a farra nas terras da Disney até, e principalmente, as empresas que importam a preços artificialmente baixos os produtos finais e intermediários fabricados no exterior, em especial na China. O contraponto desse processo de valorização de nossa moeda é o encarecimento relativo dos produtos brasileiros manufaturados em sua busca por mercados para exportação. Ficamos, portanto, mais uma vez relegados ao nosso papel de agente secundário nessa divisão internacional do trabalho da modernidade pós-colonial. Como sempre, mais uma vez perdendo o bonde da História. E ainda tem gente que se vangloria, enche mesmo a boca, na hora de falar dessa nossa triste especialização em exportação de produtos primários, as famosas “commodities”.

O que mais chama a atenção na passividade de nossos responsáveis pela política econômica é que as medidas a serem adotadas são até singelas, se pensarmos pela lógica da complexidade do funcionamento de outras variáveis da economia. Basta reduzir a atratividade do mercado financeiro brasileiro na comparação com as demais alternativas existentes no mercado internacional. Caso o governo estabeleça controles mínimos de entrada e saída dos recursos especulativos e imponha uma quarentena para um tempo mínimo de permanência, uma parcela da elevada atração desaparecerá. Por outro, e talvez mais importante, trata-se de promover uma redução significativa na taxa SELIC. Com isso, haverá tendência à diminuição do ingresso de capital especulativo. E o novo equilíbrio do mercado de câmbio promoverá a necessária desvalorização em nossa moeda. Em resumo, nossa taxa de câmbio tenderá a refletir de forma mais realista nossa situação de contas externas.

Algumas pessoas poderão estar se perguntando se por acaso essa fuga de capitais não seria prejudicial ao Brasil. De forma alguma! E veja que não se trata aqui de pregar nenhuma volta ao modelo passado das autarquias isoladas, países isolados uns dos outros. De jeito nenhum! O que se pretende é apenas que os fluxos de capitais entre o Brasil e o resto do mundo privilegiem os investimentos produtivos. O capital puramente especulativo não oferece nenhuma vantagem ao nosso País. Sua fuga, pelo contrário, é muito bem vinda e poderia até mesmo ser festejada. Que se aventurem a sugar o rentismo parasitário alhures, de outras sociedades. 

Nós, inclusive, já oferecemos até hoje muito mais do que podíamos e devíamos. As demais características da sociedade e da economia brasileiras é que devem ser os elementos determinantes para os investimentos que desejem para cá se dirigir. Um mercado interno consumidor em expansão, com boas perspectivas de retorno de tais aplicações no curto, no médio e no longo prazos. Uma Nação com tradição de paz, sem os conflitos militares que caracterizam boa parte dos países do mundo. Um país em condições de exercer importante liderança no processo de aprofundamento da integração regional, no âmbito da América do Sul. Enfim, boas razões não faltam.

Uma vez resolvida essa artificialidade na definição da taxa de câmbio, a tendência é de haver uma reacomodação dos fluxos de importação e exportação. As importações sairão mais caras e perderão força por conta dos chamados “preços relativos”. Já as exportações de produtos industrializados poderão ser estimuladas. No cômputo final, se o governo der demonstrações que as medidas virão para ficar, estarão dadas as condições objetivas para a reversão do processo de desindustrialização. Como sempre, o que falta é apenas a vontade política! Com um pouco também, é claro, de coragem política para contrariar interesses poderosos.

Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.



Fonte: www.cartamaior.com.br



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A falta de visão de futuro do Brasil



Luis Nassif


Alguns analistas julgam que se superestima o papel do câmbio na economia de um país.
Algum tempo atrás, um deles escreveu um livro sobre o milagre britânico do século 18, que acabou transformando o país em uma potência imperial. Destacou aspectos ligados à legislação, à inventividade do inglês, aos investimentos em ensino, que permitiram ao país comandar a primeira revolução industrial.
Todos esses aspectos são importantes para o desenvolvimento do país.
cada vez mais o Brasil se firma como mero fornecedor de matéria prima. Foto: Unica/Divulgação
Mas a chama que incendiou o imaginário do país abriu espaço para o florescimento de manufaturas sem fim e, depois, criou o clima adequado para as demais reformas foi o câmbio desvalorizado, barateando os produtos ingleses em relação aos concorrentes.
Depois, uma estratégia comercial que consistia em comprar matéria prima dos países emergentes e vender produtos acabados.
É uma forma de apoio à greve geral contra a alta dos preços dos combustíveis. A Nigéria é o maior produtor de petróleo da África
Em seu histórico “A era das revoluções”, o historiador inglês Eric Hobsbawn anota que “qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade científica e tecnológica”.
A França era superior na matemática e na física, enquanto na Inglaterra eram vistas como ciências suspeitas. Os franceses desenvolveram inventos mais originais, como o tear de Jacquard, em 1804, e tinham melhores navios. As escolas inglesas eram uma piada e as duas únicas universidades inglesas intelectualmente nulas, compensadas apenas pelas escolas do interior e pelas universidades da Escócia calvinista. Por temor social, não era encorajada a educação dos mais pobres e a alfabetização em massa só ocorreria em princípio do século 19, com a revolução industrial já em curso – pressionando por mão de obra mais especializada.
As invenções técnicas, que comandaram a revolução industrial, eram bastante modestas: a lançadeira, o tear e a fiadeira automática, ao alcance dos carpinteiros, moleiros e serralheiros.
A grande invenção inglesa do século 18, a máquina a vapor rotativa de James Watt (de 1784) só ganhou estabilidade e utilização ampla a partir de 1820. Com exceção da indústria química, as demais inovações industriais – na expressão de Hobsbawn – “se fizeram por si” – isto é, foram desenvolvidas no dia a dia, sem grandes investimentos tecnológicos.
Um dos grandes avanços britânicos foi no campo, eliminando o antigo sistema de propriedades herdades por empresários com espírito comercial, que passaram a articular cadeias produtivas – arrendando terras para camponeses sem terra ou pequenos agricultores e direcionando as atividades agrícolas para o mercado. E as manufaturas tinham se espalhado pelo interior não dominado pelo feudalismo.
Com isso, a agricultura cumpriu suas três funções em uma era de industrialização acelerada: aumentar a produção e a produtividade para alimentar uma população cada vez menos agrícola; fornecer mão de obra para as novas atividades industriais, através do êxodo rural; e garantir capital que foi aplicado em setores mais modernos da economia.
Paralelamente, o país investia na construção de uma frotra mercante e de estradas e infraestrutura adequada.
Até então a atividade empresarial mais lucrativa era do comerciante, comprando mais barato e vendendo mais caro. A revolução industrial muda esse paradigma e passa a deixar a melhor parte do bolo para o industrial.
Mercado mundial
Política cambial, acordos comerciais, domínio dos mares, abriram um mercado sem precedentes para seus industriais. Através de inovações simples e baratas, os industriais conseguiam taxas de retorno extraordinárias. No início, lã para abastecer o mundo. Quando o algodão substituiu a lã, compra de algodão dos países emergentes – basicamente Estados Unidos e América do Sul – e venda de tecidos para eles.
América Latina como comprador
Entre 1750 e 1760, as exportações inglesas de tecidos de algodão aumentaram dez vezes, sempre com apoio agressivo do governo nacional. E aí, toca enfiar produtos na América Latina – como a China está fazendo hoje em dia. Por volta de 1840, o continente consumia quase metade do consumo europeu de tecidos de algodão ingleses. Indústrias eram criadas e, da noite para o dia, tornavam-se gigantes.
Puxando o resto
Com o mercado internacional à disposição, a indústria do algodão lubrificoiu todos os demais setores relevantes da Inglaterra, máquinas, inovações químicas, setor elétrico, frota mercante etc. Ou seja, primeiro criou-se o mercado, depois o mercado abriu um mundo inédito de possibilidades para os empreendedores que, com pouco capital e pouca inovação, tinham condições de saltos expressivos. Não é muito diferente do que ocorre na China.
Salto chinês
Tempos atrás viajei com um importador brasileiro de lâmpadas led. Ele importava de um pequeno fabricante chinês, que adquiria os insumos da Alemanha, processava e vendia mais barato. Depois, o industrial resolveu comprar máquinas para fabricar ele próprio os insumos. Em dois anos, tinha 35 mil m2 de instalações. Guardadas as proporções de época, apenas repetia o fenômeno da Inglaterra do século 18.
Brasil na contramão
No caso do Brasil, o desabrochar do mercado interno criou as primeiras condições para o salto da indústria. Mas o câmbio está matando o deslanche. Cada vez mais, o crescimento do mercado interno está sendo apropriado pela manufatura chinesa; e cada vez mais o Brasil se firma como mero fornecedor de matéria prima. Chega uma hora que nem o mercado interno garantirá mais o crescimento da economia.
Falta de visão
Essa falta de visão sobre o salto futuro é disseminada no país. No governo federal, lançam-se planos ditos de desenvolvimento sem concatenação com a política macroeconômica. No Estadão de ontem, José Serra criticou o governo federal. Mas, em plena crise de 2008, aumentou os impostos paulistas, recusou-se a receber industriais e não desenvolveu um programa sequer de inovação para o Estado.


Fonte: www.cartacapital.com.br






INTERNACIONAL
                                    internacional



Do Viomundo ,no excelente texto da sensível Heloísa Vilella, sobre as desenxabidas eleições americanas, num clima totalmente diverso daquele que, há quatro anos, embalou nossas esperanças de uma nova ordem mundial.
Desânimo com processo político marca prévias nos EUA
Algo ficou muito claro depois da consulta no estado  de Iowa e das primárias em New Hampshire, ao menos para mim, não foi o  favoritismo do ex-governador de Massachusetts, Mitt Romney, ou da força  dos independentes, representados pelo deputado texano Ron Paul. O que  veio à tona, com força, foi o desânimo geral com o processo político nos  Estados Unidos. E dessa vez, dos dois lados da briga.
Há quatro anos, quando surgiu um senador novato,  negro, com um perfil diferente o suficiente para provocar curiosidade,  ódio e paixão, havia no ar um que de esperança. De vontade de participar  e acreditar que a democracia é um processo representativo onde quem  quer ter voz é ouvido. Foi um momento, agora, distante na memória do  eleitorado geral. Quatro anos depois, não existe nada parecido.
Esta é a primeira eleição presidencial em que  vigora a decisão da Suprema Corte americana, de janeiro de 2010,  conhecida como “Cidadãos Unidos”. Somente no país onde candidato a  presidente diz que empresa também é gente, essa decisão poderia ter  título tão enganador. Ela permite que as empresas invistam o quanto  desejarem em propaganda política. Autoriza a criação dos Comitês de Ação  Política, grupos que levantam dinheiro para produzir e divulgar  material de campanha em favor deste ou daquele candidato. E,  principalmente, contra os adversários.
Foi o que aconteceu em Iowa. Os grupos  comprometidos com a campanha de Mitt Romney inundaram as tevês locais de  anúncios para atacar diretamente o ex-deputado Newt Gingrich. Assunto  não falta. Entre outros problemas, ele deixou o Congresso em 1999,  depois de ser repreendido e multado pelo comitê de ética da Câmara.  Milagrosamente, ressuscitou politicamente e está dando o troco esta  semana. Com um aporte de US$ 5 milhões de dólares de um empresário do  jogo, em Nevada, depositado em um desses Comitês de Ação Política, já  está no ar a propaganda contra Romney.
Então, é assim. Com muito dinheiro para gastar, um  tenta acabar com a imagem do outro enquanto o Presidente Barack Obama  assiste a tudo, provavelmente, sorridente. Essa luta intensa entre os  republicanos é capaz de destruir os aspirantes a candidato a presidente.  Mas não está sendo capaz de entusiasmar as bases. Eu me lembro do  entusiasmo que transbordou nas ruas aqui de Manchester, New Hampshire,  há quatro anos. O “fator Obama” realmente mobilizou os eleitores, dos  dois partidos. Agora, entre os democratas, existe um sentimento de  frustração, de decepção, inegável.
A mudança que se esperava não veio. Os  republicanos, empurrados ainda mais para a direita pelos radicais do Tea  Party (Sarah Palin, etc.), tentam encontrar alguém “elegível” para  enfrentar Obama, mas os eleitores não estão entusiasmados com as  opçõesdisponíveis. Com certeza, no momento, já se pode prever um  resultado em novembro: baixíssimo índice de comparecimento às urnas.
E mais. Quem saiu de casa para dormir em praça  pública nas várias vilas improvisadas do movimento Occupy, não está nem  um pouco interessado nesse processo político. Nessa democracia com  regras estabelecidas pelo e para o poder do dinheiro. Quanto mais  dinheiro as empresas investem na produção e eleição de seus candidatos,  menos a população se interessa e participa.
A única cédula eleitoral realmente interessante que  encontrei aqui em New Hampshire me foi oferecida no acampamento do  Occupy local e nos postos de votação das primárias. Ela é longa. São  onze perguntas ao todo. Entre elas, se os Estados Unidos deveriam fechar  as mais de 850 bases militares que mantém em outros países. Como  deveriam investir o dinheiro economizado, como garantir tratamento  médico para a população, como regulamentar a participação do dinheiro na  política ou simplesmente eliminar a presença financeira de uma vez,  etc.  A cédula está aqui. A votação continua, ao vivo ou pela internet. E  este grupo, que continua ocupando as praças do país, está mais  preocupado com esta votação e nada interessado nos candidatos,  republicanos ou democrata, que vão torrar milhões e milhões de dólares  na briga pela Casa Branca.

Fonte: O Tijolaço (blog do Brizola Neto)




drogas      DROGAS      DROGAS






Dor, sofrimento e erro de cálculo

A tal política de combate ao crack pela "dor e sofrimento", inaugurada pelo governo do Estado de São Paulo (aparentemente de forma coordenada com a prefeitura paulista), é mais um capítulo da política higienista que foi a marca dos governos José Serra e Gilberto Kassab na prefeitura da capital, nos últimos quase oito anos.



Por qualquer ângulo que se analise, a tal política de combate ao crack pela "dor e sofrimento", inaugurada pelo governo do Estado de São Paulo (aparentemente de forma coordenada com a prefeitura paulista), é mais um capítulo da política higienista que foi a marca dos governos José Serra e Gilberto Kassab na prefeitura da capital, nos últimos quase oito anos; e é mais um episódio da opção preferencial do governador Geraldo Alckmin pelo uso da força policial, a exemplo do que aconteceu nas suas gestões anteriores (2001-2002 e 2003-2006). 

A ação policial, enfim reconhecida como fonte de desgaste e abandonada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, não obteve nenhum resultado positivo. Foi simplesmente um ato de truculência. Os dois mandatários, do Estado e da capital, apenas conseguiram reforçar suas imagens de governantes conservadores, com o cerco e a agressão aos dependentes químicos da Cracolância paulistana - a chamada "Operação Centro Legal" -, o presente de Ano Novo da polícia paulista aos maltrapilhos que se aglomeram no centro da cidade para consumir a pedra.

Crianças, jovens e adultos, após o desalojamento e sem opção de moradia, de acesso a assistentes sociais ou a serviços de Saúde, formaram batalhões de zumbis que andavam sem rumo pela cidade. A "dor e o sofrimento", estratégia de combate à dependência química, não deu sequer a alternativa do tratamento das crises de abstinência, que devem ser avassaladoras em pessoas comprometidas com uma droga como essa: a rede pública não dispunha de vagas para atender qualquer tipo de demanda.

Do ponto de vista de política pública, a Operação Centro Legal foi repressão pura. Como política de assistência social, foi desassistência. E, do lado da Saúde, um reforço à doença. Não existe uma única qualidade na ação policial contra craqueiros, exceto as que dizem respeito aos interesses imobiliários de recuperação da zona central da cidade, o projeto Nova Luz, que derrapa na vizinhança de drogados e favelados. A Polícia tentou eliminar a comunidade de drogados pela força; a Prefeitura teve uma ajudazinha providencial, e quase simultânea à ação policial: o incêndio da Favela do Moínho, nas imediações.

A opção pela truculência no momento em que existe, de fato, uma tentativa de integração de políticas de desenvolvimento social e Saúde, nas três esferas de poder, às quais a ação policial seria apenas complementar, é inexplicável. Uma hipótese pode ser a tentativa do Estado e do Município, que são oposição ao governo federal, de se anteciparem ao programa federal, num ano de eleições municipais. Pelos resultados pífios da ação, imagina-se que nem a elite conservadora da cidade tenha gostado muito do desfile de zumbis do crack pelas zonas mais nobres. A outra é a de que a polícia fugiu ao controle da Secretaria de Segurança Pública e do próprio governador de Estado, e resolveu passear na Cracolância com balas de borracha e bombas de efeito moral por sua conta e risco. Isso não seria nada bom, do ponto de vista das instituições. 

A última possibilidade é que se optou por uma política higienista que não pegou bem junto ao eleitorado que será chamado às urnas em outubro, no pior momento do bloco tucano-kassabista no Estado. Pela repercussão e resultados que teve, no mínimo o dono da ideia merece ser demitido. A ação policial apenas pegou mal.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.




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Narcoguerra no México: 27 pessoas mortas por dia

A Procuradoria Geral da República do México divulgou esta semana os índices oficiais das vítimas da guerra envolvendo o narcotráfico no país. As estatísticas do ano passado são as seguintes: 27 pessoas mortas por dia, 819 por mês e 9.830 por ano, em um total de 47.515 homicídios contabilizados até o dia 30 de setembro de 2011. Senador da oposição diz que governo de Felipe Calderón vai chegar ao fim com mais vítimas dessa guerra do que os EUA tiveram no Vietnã.

Mais dois decapitados na porta de uma loja, uma média de 48 executados por dia ao longo de 2011 e um total de 12.903 mortos na chamada “narcoguerra” nos últimos nove meses. As cifras da violência que assola o México desde que o presidente Felipe Calderón lançou em 2006 a ofensiva contra os cartéis da droga revelam a amplitude permanente da narcoviolência. 

A Procuradoria Geral da República (PGR) divulgou esta semana os índices oficiais dos “narcomortos”. As estatísticas globais podem ser assim traduzidas: 27 pessoas mortas por dia, 819 por mês e 9.830 por ano, em um total de 47.515 homicídios contabilizados até o dia 30 de setembro de 2011. As ONGs e os analistas estimam que os cálculos forem ampliados até dezembro de 2011 e se forem incorporadas às estatísticas a violência que impera em estados como o de Sinaloa e Morelos, onde os assassinatos aumentaram em 84 e 44%, respectivamente, o ano terminará com 17 mil vítimas da guerra cruzada entre os cartéis da droga e do Estado contra estes.

Segunda dados da mesma Procuradoria Geral da República, o narcotráfico está controlado por dois poderosos grupos: o de Joaquim Guzmán, El Chapo, chefe do Cartel de Sinaloa, e o de Osiel Cárdenas, chefe do Cartel do Golfo, para quem trabalha outra rede de assassinos chamados de “Zetas” que se converteram em um protagonista da narcoviolência. Mas essas são apenas as duas principais organizações criminosas. A PGR contabiliza sete cartéis operando no país: o Cartel do Golfo, o de Tijuana, o de Ciudad Juárez, o de Sinalou, o de Colima, o de Milenio e o de Oaxaca. A DEA norteamericana estima que existem 30 organizações criminosas de peso e a Subprocuradoria de Investigação Especializada contra o Crime Organizado do México (SIEDO) calcula que há mais 130 células de delinquentes estruturadas em território mexicano.

A DEA, obviamente, incorre nas hipocrisias de sempre. As estatísticas norte-americanas quase sempre excluem a enorme responsabilidade dos Estados Unidos no drama mexicano. Washington não só é o principal consumidor da droga que sai do México, como também é o país onde os “narcos” adquirem todas as armas que usam na guerra. As supostas “ajudas” dos EUA são ridículas comparadas com os números dos negócios do narcotráfico. A chamada Iniciativa Mérida, ativada pelo ex-presidente George W. Bush em 2008 para combater o narcotráfico e o crime organizado no México e América Central chega a 1,5 bilhões de dólares. É uma lágrima lançada em um incêndio perto dos 20 bilhões de dólares anuais que representa o narconegócio.

A grande maioria das vítimas está ligada ao conflito envolvendo o tráfico de drogas. Os dados do Secretariado Executivo do Sistema Nacional de Segurança Pública (SESNSP), acrescidos aos da PRG permitem estabelecer que cerca de 75% dos homicídios estão relacionados com os narcos. Outro dado oficial desenha a geografia do crime: grande parte das execuções se concentra em 8 Estados dos 32 que compõem o México: Chihuahua, Coahuila, Durango, Nuevo León, Veracruz, Sinaloa, Tamaulipas e Estado do México. A PRG estima que nestes 8 Estados estão espalhados e enfrentando-se entre si os cartéis de Sinaloa, Juárez, Beltrán Levya, do Golgo, Zetas, La Familia e Los Caballeros Templarios (Cavaleiros Templários). O organismo oficial assegura em seu resumo que 2011 foi o ano no qual o percentual de homicídios resultou menos importante. No entanto, cabe observar que se trata somente de dados preliminares, faltando os números do último trimestre. Comparativamente, em 2010 ocorreram 15.273 homicídios.

A publicação desses números ocorre no contexto de uma dura polêmica entre os meios de comunicação e o Executivo. O jornal Milênio e o portal animipolitico.com sustentaram que o governo federal estava encobrindo os homicídios relacionados com o narcotráfico. O informe da Procuradoria é mais leve que os cálculos extraoficiais: estes falavam de 55 mil mortos nos seis anos de mandato de Felipe Calderón. Os dois partidos de oposição ao governista PAN, PRI e PRD, estimaram que o grande volume de vítimas expõe o fracasso da política de segurança implementada pelo chefe do Estado. O senador do PRI, Francisco Labastida Ochoa declarou que quando terminar “o mandato de Felipe Calderón, o país vai contar com um número de pessoas mortas na estratégia adotada contra o crime organizado superior às baixas que os Estados Unidos tiveram na Guerra do Vietnã”.

Trata-se, além disso, de mortos sem justiça. A justiça mexicana é praticamente incapaz de investigar e prender os responsáveis. Em novembro passado, a ONG Human Rights Watch denunciou o fato de que o aumento da violência não significou um incremento da quantidade de julgamentos. Muito pelo contrário, apenas “em uma fração desses casos foram iniciadas investigações”. 2011 terminou com um morto a cada meia hora e uma justiça que, embora tenha prendido milhares de pessoas, pronunciou muito poucas sentenças. Ciudad Juárez foi o município onde se registrou o maior número de vítimas em 2011. Não é um acaso geográfico. Ciudad Juárez é a plataforma estratégica de onde parte a droga para os Estados Unidos e, por conseguinte, uma zona de disputa central pelo controle desse território entre os cartéis da droga.

Tradução: Katarina Peixoto


Fonte: www.cartamaior.com.br


PRECONCEITO     PRECONCEITO













Humberto Costa nem parece do PT. O NE é um problema para o PiG

    Publicado em 13/01/2012
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Saiu no Globo, na página 10, mais escondido do que notícia sobre a Privataria Tucana – clique aqui para ler “O Cerra ainda pode ser presidente?”:

“A defesa mais enfática (e por isso mais escondida pelo Globo – PHA ) de Fernando Bezerra (no Senado, em depoimento nesta quinta-feira – PHA) foi feita pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), que falou em preconceito contra “ministro nordestino”. ” 

Humberto Costa, como se sabe, foi o único líder do PT no Congresso que subiu à tribuna para exigir que seu colega (será ?) de Partido, o Ministro da Justiça, Zé – clique aqui para saber por que os amigos de Dantas o chamam de ”Zé” – investigue as denuncias contidas no livro “Privataria Tucana”, de Amaury Robeiro Junior:

http://www.senadorhumberto.com.br/

Agora, Costa enfia o dedo na ferida: o preconceito contra nordestino  sustentou a campanha para destabilizar a presidenta Dilma Rousseff, através do enfraquecimento de Fernando Bezerra Coelho, Ministro da Integração.

Foi o Estadão, o órgão do PiG (*) que melhor expressou esse preconceito, em “reportagem” sobre a predominância de nordestinos na pasta da Integração.

(O que dizer da predominância de paulistas no Ministério da Fazenda e Banco Central ?)

Na mesma “reportagem”, o Estadão chamou o melhor governador do Brasil – segundo avaliação de instututos de pesquisa que o Estadão consulta -, Eduardo Campos, de Pernambuco, de “coronel moderno”…

Clique aqui para ver entrevista de Eduardo Campos a Paulo Henrique Amorim, quando ele fala da “crise” da enchente, Fernando Bezerra e do preconceito.

E o Alckmin, o Cerra e os que coronelizam São Paulo há 17 anos – são coronéis medievais ?

Convém chamar o proconceito pelo que é: preconceito.

A elite de São Paulo não gosta de nordestino e, se pudesse,  concretizava a aspiração contida na Guerra da Secessão de 1932 – e se descolava do Brasil para ser um grande Porto Rico.

O outro ponto sinistro desse preconceito é que ele se agravará.

Se agravará quando ficar mais claro que o centro da economia brasileira se “desconcentra” aceleradamente – foi o “plano secreto” do Nunca Dantes.

São Paulo não é mais a única locomotiva e, se bobear, será uma grande plantação de açúcar, com um monte de bancos no meio.

Dezessete anos de tucanato em São Paulo ofuscaram qualquer visão estratégica, porque Montoro, Covas, Cerra e Alckmin não pensavam o papel de São Paulo dentro do Brasil, ou quiseram fazer de São Paulo, apenas, um trampolim para governar o Brasil. 

A fruto mais exuberante dessa “descentralização” é  que a elite de São Paulo saiu do centro da política brasileira há muito tempo.

Só sobrevive no PiG (*) e, sem ele, não passaria de Resende.

Esse rebaixamento político de São Paulo tem desdobramentos fora de São Paulo. 

O PIG (*) é São Paulo-dependente.

Porque o Globope mede São Paulo e porque as agencias de publicidade ficam em São Paulo e não sabem distinguir Caruaru de Cabuçu.

Assim como os neolibelês (**) perderam o Norte, com o desmoramento da ideologia do Consenso de Washington, a Globo e seus colonistas perdem a referência quando o sol que brilha não nasce mais no Palácio dos Bandeirantes nem na Avenida Paulista. 

(E muito menos na Casa das Garças, onde habita o novo jenio tucano.)

O Brasil tem que encarar de frente essa questão do preconceito.

Aleluia, Humberto Costa !

Ele nem parece do PT, não é isso, Zé Cardozo ?


Paulo Henrique Amorim



(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
Fonte: www.conversaafiaca.com.br 


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LEITURAS DE ÉPOCA

Teló, BBB e os conceitos sobre cultura

Por Sylvio Micelli em 10/01/2012 na edição 676
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Os assuntos mais discutidos na primeira semana de 2012, ao menos nas redes sociais (que hoje pautam muita coisa), versam sobre a capa da revista semanal Época com o cantor (?) Michel Teló e sobre o início de mais uma edição do Big Brother Brasil transmitido pela Rede Globo de Televisão. Por sinal, apenas para constar, Época e Globo pertencem à mesma organização.
O paranaense Teló foi parar na capa da publicação por ser o “cantor, compositor, multiinstrumentista” que mais tocou nas rádios em 2011. Sua música (?) “Ai Se Eu Te Pego” vendeu horrores. Ele fez centenas de shows, ganhou um bom dinheiro e a segunda revista semanal mais vendida do Brasil achou por bem colocá-lo na primeira capa do ano. Mais que isso: destinou 12 páginas, isso mesmo, 12 longas páginas, e o apresentou como a tradução de “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”. Teló está na dele. Não tem culpa nenhuma.
Big Brother Brasil, por sua vez, completa 10 anos de transmissão e chega à sua 12ª edição. A temática é mesma de sempre, em que pese a produção do programa tentar dar uma reciclada. Trancafia pessoas dentro de uma casa. Elas deverão viver e conviver com as diferenças ao longo das semanas. O jogo vai se desenrolando. As máscaras caem e o mais forte, ou o mais popular, ou o que der mais retorno de mídia, sagra-se o campeão. Tem gente que fez carreira artística e até política no jogo.
Para o paredão
Vamos, enfim, aos fatos.
Inicialmente, fico numa enorme sinuca de bico. Porque se eu elevar Teló e o BBB à condição de “cultura” irei contra tudo aquilo que suponho ser cultura e estarei a nivelar, por baixo, o que efetivamente entendo que seja cultura. Se eu chamar o músico e atração global de subcultura, os patrulheiros de plantão (e eles sempre estão presentes) vão me chamar de preconceituoso, quiçá burguês, e de desrespeitar a cultura, que eles assim entendem, diversificada e multifacetada do meu país. Então sobram duas óticas: Teló eBBB são estratégias de marketing para ganhar dinheiro. E muito dinheiro. Simples assim.
No caso do cantor, você pega um rapaz do interior do Paraná, jovem e simpático, que cai no gosto de jovens iguais a ele. Cria uma música (?) de pouquíssimos versos e de letra paupérrima, põe uma pegajosa melodia e usa de todos os métodos para que isso vire um hit. O resultado é infalível. Não é a primeira vez que acontece e também (infelizmente) não será a última. O Brasil passará por Teló, como já passou pelo Tchan, Créu, dancinha da garrafa e tantas coisas efêmeras que depois apodrecem nos sebos da vida.
BBB é a catarse humana em versão compacta. Da mesma forma que se coloca uma dúzia ou mais pessoas dentro de uma casa, para que se suportem – mas no fundo sendo todos inimigos e buscando o prêmio ou fama (ou ambos) – também em nosso dia-a-dia lidamos com diversas pessoas que adoraríamos mandar para o paredão (e vice-versa), mas que a santa hipocrisia social nos (os) impede.
Três questões
Há, ainda, uma outra ótica. Essa muito mais perigosa e é dela que devemos (ou deveríamos) nos reguardar. Teló e BBB são braços fortes da grande mídia, em busca da hegemonia na comunicação, como nos ensina o mestre Vito Giannotti do Núcleo Piratininga de Comunicação. Quando a Época decreta que Teló traduz “valores da cultura popular para os brasileiros de todas as classes”, ela quer dar hegemonia ao Brasil. Dizer que somos todos felizes como os smurfs e que a música de Teló, que faz sucesso com a doméstica e com o empresário, acaba por aproximar todos nós. Olha que lindo! Um país sem preconceitos, onde todos somos rigorosamente iguais.
Por outro lado, o BBB, que (lembrando) pertence ao mesmo grupo de Época, mostra que, sob confinamento, vence o mais forte ou o que cai no gosto da população. Dessa mesma população hegemônica que discutirá nas próximas semanas quem deve ir para o paredão e ficará a bisbilhotar se um novo casal é feito na casa (e, certamente, dois são desfeitos fora). Então, todas as terças à noite, o mercador de ilusões Pedro Bial, de forma histriônica, unirá um país de norte a sul porque todos estarão (assim eles querem que seja) interessados em descobrir quem se dará mal naquela semana.
Essa hegemonia, meus caros, é o nosso grande problema. O Brasil deveria buscar a discussão de assuntos de mais importância. Claro que devemos ter lazer. Claro que o lúdico, mesmo de gosto duvidoso, é importante. E aqui não reside nenhum preconceito da minha parte. É que a hegemonia faz com que boa parte dos cidadãos acredite que tratar de temas polêmicos não lhes pertence. Mas pertence, sim. Só nesta semana posso destacar três: as questões que envolvem o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a tentativa de abertura do Poder Judiciário, as chuvas que voltam sempre em janeiro (a natureza é perfeita) e o pouco que se fez desde a desgraça do ano anterior e as eleições de 2012 que chegam logo, e há muito que mudar.
Conceitos de cultura
Enquanto deveríamos gastar nosso tempo com isso, e reitero que não se trata de discussão de elites, a mídia hegemônica nos impõe coisas “desimportantes”. E isso também não é novidade. É o “velho e bom”panis et circenses com que a Roma Antiga brindava seu povo. A única diferença é que os gladiadores de hoje não derramam uma gota de sangue sequer.
Ao final de tudo, mantenho a esperança de que dias melhores virão. Sempre acredito que o Brasil, enquanto sociedade, ainda é novo e devemos passar por tudo isso para que possamos amadurecer e chegar, um dia, aos conceitos de cultura de países nem tão longínquos daqui como a Argentina ou o Chile.
Já estaria feliz.
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[Sylvio Micelli é jornalista]






























































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