05 janeiro 2012

5 de janeiro de 2012

Política Nacional


                                 política nacional





DEBATE ABERTO

Sistema político é ruim, mas a história é inexorável

As regras continuam as mesmas – e em algum momento o Brasil vai ter que se decidir entre duas que são incompatíveis: um sistema de votação presidencial que fortalece popularmente o presidente eleito em dois turnos (ou já consagrado majoritariamente num primeiro) ou um sistema de votação parlamentar que tende a pulverizar cada vez mais o voto.

Nem tudo é igual no país de Macunaíma. Até o ano passado, o Brasil convivia com uma realidade meio torta, segundo a qual um presidente eleito pelo voto direito em dois turnos (portanto, com exigência de maioria absoluta dos votos válidos), governava sob um sistema partidário extremamente pulverizado que impedia a formação de uma maioria monopartidária, ou uma coalizão menos volumosa.

As regras continuam as mesmas – e em algum momento o Brasil vai ter que se decidir entre duas que são incompatíveis: um sistema de votação presidencial que fortalece popularmente o presidente eleito em dois turnos (ou já consagrado majoritariamente num primeiro) ou um sistema de votação parlamentar que tende a pulverizar cada vez mais o voto, e que está longe de fortalecer as instituições partidárias. Quando mais o voto é pulverizado, maior o número de partidos para compor um governo de coalizão.

De certa forma, a democracia brasileira merece os parabéns por conseguir sobreviver nessa corda bamba, com as crises que fatalmente irrompem de leis que fortalecem popularmente um presidente, mas dão, simultaneamente, um poder enorme de barganha aos partidos, mesmo aos muito pequenos.

A distorção, todavia, vem sendo empurrada com a barriga desde a Constituinte de 1988, quando, votadas em separado, as propostas deram ao sistema partidário um perfil parlamentarista, enquanto o presidencialismo vencia e levava para casa um modelito dois números menor que o seu corpanzil. Ainda assim, como a história anda, independente de quanto aperta a roupa, a chamada correlação de forças (termo que minha geração, e também a anterior, usou à farta para explicar por que num momento as coisas fatalmente mudam, mesmo com tanques nas ruas) prevalece sobre as consequências previstas para um determinado sistema político.

Na prática, a pulverização partidária, aliada às práticas tradicionais de fazer política, resultam em enorme poder de barganha dos partidos frente a um Executivo. Mas, como as variantes conjunturais nunca são as mesmas, nem sempre isso acontece. Até pela contradição entre partido forte frente ao Executivo e desacreditado junto ao eleitorado, e entre Executivo forte junto ao eleitorado e refém de um Congresso pulverizado, coisas ocorrem – e podem ser suficientemente fortes a ponto de balançar a lógica desse sistema maluco.

Nos governos de Fernando Henrique Cardoso, existia uma maioria parlamentar onde, embora com as restrições conferidas pela lei, o ambiente ideológico, inclusive internacional, era propício à formação de maiorias (que permitiram, por exemplo, a venda de enorme patrimônio público sem qualquer tipo de vantagem para o Estado, como descreve Amaury Ribeiro Jr. no livro que é sucesso de vendas, “A Privataria Tucana”). As maiorias eram mais orgânicas, digamos assim, porque a maioria dos partidos do centro à direita embarcaram na onda neoliberal; e porque nesse processo foram escolhidos, a dedo, aqueles que viriam a se constituir na “burguesia moderna”, capaz de conviver de forma proveitosa com o capital monopolista financeiro.

Estar no círculo de poder era definitivo. Nossa elite mudou de cara nesse período, sem grande espaço para oposição, que exercia o direito de espernear, apenas. Além das variáveis ideológicas, a “democratização” de recursos junto às “bases tradicionais” viabilizaram um projeto de poder (que era para ser de 20 anos de poder tucano-pefelista e tornou-se oito, mais por conta da conjuntura econômica do que da ação de uma oposição que apenas saiu do atordoamento da queda do Muro de Berlim depois que foi obrigada a governar).

Nos dois governos Lula, as distorções do sistema se acentuariam. No primeiro, o presidente era um homem limitado em suas possibilidades pelo perfil do governo de coalizão, por uma crise financeira que foi uma herança pesada e por uma relação com parceiros no Congresso que, na falta de qualquer afinidade orgânica, passava mesmo pelas relações de troca da política tradicional.

A partir do segundo, era um presidente consagrado popularmente, e sob cujo governo as condições objetivas da maior parte da população melhorou – e com partidos de oposição cada vez mais enfraquecidos pelo modelo político arcaico em que, quanto mais longe do poder, menos chances uma legenda tem de eleger representantes. O que sobreviveu de oposição valeu-se da força de mediação da mídia tradicional, que teve um importante papel no pleito de 2006, do lado da trincheira do PSDB representada por José Serra, que perdeu para a candidata de Lula, a presidenta Dilma Rousseff.

O empréstimo de credibilidade da imprensa à candidatura Serra, evidentemente, não foi suficiente para fazê-lo vitorioso, mas estabeleceu um vínculo profundo entre o maior partido de oposição e a mídia tradicional. A perda de credibilidade que resultou dessa relação carnal entre um e outra (mídia e PSDB) atingiu parte de público leitor e tornou cada vez mais reduzidas condições de ampliação de sua influência na opinião pública. Manteve um público leitor fiel, mas partidarizado. Perdeu público que representava a outra parte da polaridade política que, apesar de todas as deficiências do quadro partidário, se consolida numa espécie de Fla-Flu na sociedade.

O poder de persuasão desse tipo de jornalismo, no entanto, é eficiente para os mesmos. O público não se amplia. Da mesma forma que, na internet, a tendência é uma conversa com o lado oposto.

O segundo ano do governo Dilma Rousseff começa com algumas mudanças de parâmetro. Ela não foi ruim na política quanto apostavam seus opositores e temiam seus adeptos – aliás, parece que a presidenta deu um passo além daquele dado por Lula, a partir de 2005, quando estourou o chamado Escândalo do Mensalão. Na época, até porque em véspera de eleição, o grande enfraquecido foi o PT. Embora os outros partidos da base tenham ficado tão expostos quanto o partido, foi o de Lula que sofreu mais. Lula surfou, com sua popularidade, no vácuo deixado pelo partido. Fortaleceu-se como figura política, mas preservou os demais da coalizão. E, embora tenha tirado de letra a oposição sistemática feita pelos meios de comunicação, esteve no meio de uma guerra constante.

Dilma demitiu ministros por pressão dos jornais. No momento em que anuncia uma reforma ministerial, a maioria dos partidos da coalizão foram alvejados por denúncias. Ela está mais forte que os partidos que a apoiam. E, ironia das ironias, a exposição do vínculo carnal da imprensa com o PSDB, em especial com o grupo de Serra, configurada no “Privataria Tucana”, enfraquece também a mídia nesse momento – aquela que, teoricamente, foi a vitoriosa na batalha de derrubar ministros. No mínimo, nesse processo, a mídia mostrou que tem apenas um lado. Um dos diários nacionais, aliás, cometeu um vanguardismo jornalístico: estabeleceu a norma de ouvir o lado acusado sem mencionar as acusações contidas num livro que, aliás, não foi objeto anterior de sua curiosidade jornalística.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.



Fonte: www.cartamaior.com.br



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DEBATE ABERTO

A verdadeira farra do governo Lula

A verdadeira farra do governo Lula, não só em 2010, mas ao longo de todo o seu governo foi ter aumentado substancialmente o investimento, contribuindo para reverter os impactos da crise internacional de 2009 e sustentando uma trajetória de crescimento econômico que foi decisiva para transformar o Brasil na 6ª maior economia do mundo.

O ano de 2010, último do governo Lula, tem sido apunhalado como um momento de péssimo exemplo, de gastança com fins eleitorais. Segundo aqueles que sistematicamente fazem a caveira do ex-presidente, a dita cuja, a "farra", teria se transformado em uma conta salgada que teve que ser paga em 2011.

Uma análise meticulosa, com dados de uma série de longo prazo, mais preocupada em analisar o comportamento das finanças públicas, apresenta informações pra lá de interessantes e elucidativas para tirarmos conclusões bastante diferentes.

O estudo do IPEA "Como anda o investimento público no Brasil?" (coordenado pelo pesquisador Claudio Hamilton) mostrou que a taxa de investimento público, de 1995 a 2011, atingiu seus níveis mais baixos nos anos de 1999 e 2003.

Em 1999 e 2003, o investimento bateu o fundo do poço, próximo a 1,5% do PIB. Em 2003, houve um ajuste fiscal duríssimo. Ambos foram momentos de crise. 1999 foi o ano da crise de desvalorização cambial, e 2003 foi o ano de ajuste após a instabilidade econômica e política que marcou o fim do governo FHC. A partir de 2004, houve uma retomada progressiva do investimento público. A presidência Lula o fez crescer de forma progressiva até bater o recorde, justamente em 2010, de 2,9% do PIB.

Resumindo a ópera, os dados nos permitem verificar que ocorreu, a partir de 2004, uma expansão contínua da taxa de investimento público.

É verdade que há picos de investimento em anos eleitorais e retrações nos anos seguintes? Tudo indica que sim. A presidenta Dilma está pagando parte da conta do último ano do governo Lula? Certamente, do mesmo modo como Lula pagou a conta do último ano do governo FHC. Diga-se de passagem, muitíssimo salgada.

As oscilações ocorridas entre 1995 e 2002 são bruscas. Desenham o que já se convencionou chamar "vôo de galinha" - saltos abruptos e quedas desconcertantes.

Contudo, para além das oscilações sazonais, por abalos decorrentes de crises e dos períodos eleitorais, o mais importante seria considerar o óbvio ululante: a presidência Lula reverteu a trajetória declinante do investimento público, que persistiu até 2003, e a fez ascendente a partir de seu segundo ano de mandato.

Tal tendência torna-se muito mais firme após 2007, coincidentemente, ano de lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pois bem, este programa, vez por outra criticado como lento e ineficiente, foi a base que fez o investimento público mais que duplicar, passando de R$ 49,5 bi, em 1995, e R$ 42,6 bi, em 2003, para mais de R$ 104 bilhões em 2010.

Detalhe: o estudo não inclui os investimentos promovidos pelas empresas estatais. Significa dizer que a taxa de investimento em 2010 deve ter sido substancialmente mais elevada do que o patamar apurado, e que a contribuição do PAC deve ser bem maior do que a analisada pelo estudo.

Portanto, essa foi a verdadeira farra do governo Lula, não só em 2010, mas ao longo de todo o seu governo: ter aumentado substancialmente o investimento, contribuindo para reverter os impactos da crise internacional de 2009 e sustentando uma trajetória de crescimento econômico que foi decisiva para transformar o Brasil na 6ª maior economia do mundo, com perspectiva de se tornar a 5ª maior entre 2015 e 2020.

Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente opiniões do Instituto.



Fonte: www.cartamaior.com.br




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Fundação Roberto Marinho investigada

Por José Augusto, no blog Os amigos do presidente Lula:

A batata da ONG da Rede Globo está assando.

Uma solicitação de informações ao TCU (Tribunal de Contas da União) mostra que o Ministério Público Federal está investigando as relações da Fundação Roberto Marinho com os desvios de dinheiro público no Ministério Turismo, desbaratados na operação Voucher da Polícia Federal.



A operação Voucher, em agosto de 2011, prendeu diversos funcionários do Ministério do Turismo, acusados de participarem de um esquema de fraudes envolvendo ONG's.

Este blog mostrou na época que uma das maiores ONG's que receberam dinheiro do Ministério do Turismo foi a Fundação Roberto Marinho, a ONG ligada às Organizações Globo. E ficamos incomodados com o cinismo da falta de transparência da ONG na prestação de contas públicas sobre R$ 17 milhões extraídos dos cofres públicos.

O noticiário da TV Globo (e da chamada grande imprensa) sobre a "faxina" no Ministério do Turismo, varreu para debaixo do tapete o nome da Fundação dos donos da Globo.

Relatório do TCU indica superfaturamento de R$ 13,86 milhões pela ONG da Globo junto ao Ministério do Turismo.

Um relatório TCU constatou que o contrato tinha como meta treinar 80 mil profissionais ligados ao turismo. Porém, até a data analisada, apenas cerca de 19.751 pessoas eram alunos de verdade (mesmo assim nada diz sobre quais completaram de fato o curso).

O número de alunos ativos corresponde a apenas 25% da meta.

E aponta para um possível superfaturamento de 75% embolsado indevidamente pela ONG da Globo.

Em valores financeiros, esse superfaturamento corresponde a um rombo de R$ 13,86 milhões nos cofres públicos, já que o custo por aluno era de R$ 176,65.





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Maria José Rosado: O que é isso, Presidenta?

É costume dizer que no fim do ano não se deve comer peru ou qualquer outra ave que “cisque para trás”, pois significaria arriscar-se a viver todo o novo ano andando de marcha a ré.
Neste final de 2011, enquanto no Uruguai, seguindo o que aconteceu no México e na Colômbia, o Senado aprova a descriminalização do aborto, no Brasil vivemos o retrocesso.
Nesses países, como também na Argentina, amplas discussões na sociedade apontam na direção de mudanças legais que efetivem o respeito aos direitos humanos das mulheres. Em nosso país, uma Medida Provisória – instrumento herdado do autoritarismo da ditadura militar – decretada em momento oportuno para evitar o debate e a crítica, quer tornar compulsória a maternidade para as mulheres brasileiras.
Nenhum artifício de retórica poderá convencer de que a Medida não diz o que efetivamente diz: Todas as gestantes brasileiras estarão sob a vigilância do Estado e das forças mais reacionárias da sociedade para impedir que a maternidade se realize em nosso país de forma digna do ser humano: como resultado de escolha e decisão pessoal.
A MP assinada pela Presidenta implanta no Brasil a figura da maternidade constrangida. A criação de um cadastro nacional de gestantes havia já sido proposto por um ex-deputado que declarou alto e bom som seu objetivo: combater o aborto. Ora, o Brasil é signatário de documentos internacionais em que se comprometeu a respeitar os direitos das mulheres, especialmente em relação à sua capacidade reprodutiva.
O que leva então o Governo, na figura de sua mais alta representante, a desrespeitar suas próprias decisões políticas? Estaremos diante de uma teocracia disfarçada? Foram públicas e explícitas as pressões de setores religiosos conservadores, contrários à vida das mulheres na última campanha eleitoral. Será então esse cadastro nacional parte do cumprimento de compromissos assumidos naquele momento com tais setores?
Se assim é, repetimos a pergunta: O que é isso, Presidenta? Nossa Constituição, fruto de debate democrático, estabelece respeito às religiões, mas impede o Estado de guiar-se por princípios que impeçam a realização das liberdades individuais, inclusive a de não professar qualquer crença. Não se pode impor doutrinas e valores particulares de grupos religiosos a toda a sociedade. É vergonhoso que, na América Latina, seja o Brasil o país do retrocesso em relação à vida das mulheres, aos seus direitos e à possibilidade da realização livre e desejada da maternidade.
Maria José Rosado é presidenta ONG Católicas pelo Direito de Decidir







I M P R E N S A            i m p r e n s a
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DEBATE ABERTO

O partido único da mídia

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira.

A superficialidade e o descrédito a que chegaram os meios de comunicação tradicionais no Brasil é incontestável. Posicionamento político-partidário explícito e "reengenharias" administrativas estão na raiz desse processo.

Dispensas em massa de profissionais qualificados explicam, em parte, a baixa qualidade editorial. Foi-se o tempo em que ler jornal dava prazer. Mas fiquemos, por aqui, apenas na orientação política.

A concentração dos meios e a identidade ideológica existente entre eles criou no país o "partido único" da mídia, sem oposição ou contestação. Ditam políticas, hábitos, valores e comportamentos. O resultado é um grande descompasso entre o que divulgam e a realidade. Hoje, para perceber esse fenômeno, não são mais necessárias as exaustivas pesquisas em jornalismo comparado, tão comuns em nossas academias lá pelos anos 1980.

Agora basta abrir um jornal ou assistir a um telejornal e compará-los com as informações oferecidas por sites e blogues sérios, oferecidos pela internet. São mundos distintos.

No caso da mídia brasileira essa situação começou a se consolidar com a implosão das economias planificadas do leste europeu, na virada dos anos 1980/90.

Em 1992, no livro "O fim da história e o último homem", ampliando ideias já apresentadas em ensaio de 1989, Francis Fukuyama punha um ponto final no choque de ideologias, saudando o capitalismo como modo de produção e processo civilizatório definitivo da humanidade, globalizado e eternizado.

Tese rapidamente endossada com euforia pela mídia conservadora e hegemônica que, a partir dai, pautaria por esse viés seus recortes diários do mundo, transmitidos ao público. Faz isso até hoje.

Só que, obviamente, a história não acabou. Ai estão as crises cíclicas do capitalismo, neste início de milênio, evidenciando-o como modo de produção historicamente constituído, passível de transformações e de colapso, como qualquer um dos que o precederam. Mas a mídia trata o capitalismo como se fosse eterno, excluindo de suas pautas as contradições básicas que o formam e o conformam. Dai a pobreza de seus conteúdos e o seu distanciamento da realidade, levando-a ao descrédito.

De fomentadora de ideias e debates, fortes características de seus primórdios em séculos passados, passou a estimuladora do conformismo e da acomodação. Para ela o motor história não é a luta de classes e sim o consumo, apresentado em gráficos e infográficos, alardeando números e índices que, muitas vezes, beiram o esotérico.

Se nos anos 1990 essas políticas editoriais obtiveram relativo êxito apoiadas na expansão do neoliberalismo pelo mundo, na última década a realidade crítica abalou todas as certezas impostas ideologicamente. As contradições vieram à tona.

No entanto a mídia, reduzida e conservadora, especialmente no Brasil, segue tratando apenas das aparências, deixando de lado determinações mais profundas. Movimentos anti-capitalistas espalhados pelo mundo são mencionados, quando o são, particularmente pela TV, como "fait-divers", destituídos de sentido, a-históricos. Seguindo rigorosamente a tese de Fukuyama.

Fazendo jus ao seu papel de "partido único", os meios oferecem ao público, como elemento condutor de sua ideologia conservadora, algo que genericamente pode ser chamado de kitsch. Definição dada pelos alemães no século passado para a arte popular e comercial, feita de fotos coloridas, capas de revistas, ilustrações, imagens publicitárias, histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood. Atualizando seriam os nossos programas de TV, os cadernos de variedades de jornais e revistas, as músicas e as preces tocadas no rádio.

Esse é o prato diário da mídia, oferecido em embalagens sedutoras e entremeado de informações ditas jornalísticas, apresentando o mundo como um quadro acabado, inalterável. Não existindo alternativas, resta o conformismo anestesiado pelo consumo, ainda que para muitos apenas ilusório.

Claro que esse quadro midiático tem eficácia até certo momento, enquanto realidade e imaginário de alguma forma guardam proximidade. Mas ele também é histórico e, portanto, mutável.

Enquanto as contradições básicas da sociedade, aqui mencionadas, permanecerem existindo, a integração das consciências "pelo alto" será irrealizável, alertava Adorno, num dos seus últimos textos. Por mais que os meios de comunicação se esforcem por integrá-las.

Ao se fixar nos seus próprios dogmas, desprezando o real, o poder dos partidos midiáticos tende ao enfraquecimento. Ao se descolarem da realidade perdem credibilidade e apoio, cavando sua própria ruína. Confrontados com a internet desabam. Trata-se de um caminho trilhado de forma cada vez mais acelerada pela mídia tradicional brasileira. Sem falar na contribuição dada a esse processo pela queda da qualidade editorial, tema que fica para outro momento.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.


Fonte: www.cartamaior.com.br


S O C I E D A D E       s o c i e d a d e      
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O mundo do dinheiro e seus heróis
O mundo do dinheiro e seus heróis


Por Emir Sader, em seu Blog






Até um certo momento os ricos ou escondiam sua riqueza ou tratavam de passar despercebidos, como se não ficasse bem exibir riqueza em sociedades pobres e desiguais. Ou até também para escapar da Receita.

De repente, o mundo neoliberal - esse em que tudo vale pelo preço que tem, em que tudo tem preço, em que tudo se vende, tudo se compra – passou a exibir a riqueza como atestado de competência. Nos EUA se deixou de falar de pobres, para falar de “fracassados”. Numa sociedade que se jacta de dar oportunidade para todos, numa “sociedade livre, aberta”, quem nao deu certo economicamente, é por incompetência ou por preguiça.

Ser rico é ter dado certo, é demonstrar capacidade para resolver problemas, ter criatividade, se dar bem na vida, etc., etc. Até um certo momento as biografias que se publicavam eram de grandes personagens da historia universal – governantes, lideres populares, gênios musicais, detentores de grandes saberes. A partir do neoliberalismo as biografias de maior sucesso passaram as ser as dos milhardários, que supostamente ensinam o caminho das pedras para os até ali menos afortunados.

Todos dizem que nasceram pobres, subiram na vida graças à tenacidade, à criatividade, ao trabalho duro, ao espirito de sacrifício. Tiveram tropeços, mas nao desistiram, leram algum guru de auto-ajuda que os fez aumentarem sua auto estima, acreditarem mais em si mesmos, recomeçarem do zero, até chegarem ao sucesso indiscutível.

Seus livros se transformam em best-sellers, vendem rapidamente – até que vários deles caem em desgraça, porque flagrados em algum escândalo -, eles viajam o mundo dando entrevistas e vendendo seu saber que, se fosse seguido por seus leitores, produziria um mundo de ricos e de pessoas realizadas e felizes como eles.

Quem vai publicar um livro de um “fracassado”? Só mesmo se fosse para que as pessoas soubessem quais os caminhos errados, aqueles que nao deveriam seguir, se querem ser ricos, bonitos e felizes. O mundo do trabalho, da fábrica, do sindicato, dos movimentos de bairro, das comunidades – mundo marginal e marginalizado.

Programas de televisão exaltam os ricos, os bem sucedidos, as mulheres que exibem sua elegância, sua falta de pudor de gastar milhões na Daslu e nas viagens a Nova York e a Paris. Ninguém quer ver gente feia, pobre, desamparada, que só frequenta os noticiários policiais e de calamidades naturais. As telenovelas tem como cenários os luxuosos apartamentos da zona sul do Rio e dos jardins de Sáo Paulo, com belas mulheres e homens que não trabalham, no máximo administram empresas de sucesso. Os pobres giram em torno deles – empregadas domésticas, entregadores de pizza, donos de botecos -, sempre como coadjuvantes do mundo dos ricos, que propõem o tipo de vida que as pessoas deveriam ter, se quiserem ser ricos, bonitos, felizes.

Esse mundo fictício esconde os verdadeiros mecanismos que geram a riqueza e a pobreza, os meios sociais – os bancos por um lado, as fábricas por outro – em que se geram a riqueza e a fortuna, a especulação e a expropriação do trabalho alheio. Em que estão os vilões e os heróis das nossas sociedades.




POLÍTICA INTERNACIONAL


                                    política internacional




A esquerda mundial após 2011

A questão para a esquerda mundial é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. As forças de centro-direita ainda comandam cerca de metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma. O artigo é de Immanuel Wallerstein.

(*) Publicado originalmente em português no site Outras Palavras.

Por qualquer ângulo, 2011 foi um bom ano para a esquerda mundial – seja qual for a abrangência da definição de cada um sobre ela. A razão fundamental foi a condição econômica negativa, que atinge a maior parte do mundo. O desemprego, que era alto, cresceu ainda mais. A maioria dos governos enfrentou grandes dívidas e receita reduzida. A resposta deles foi tentar impor medidas de austeridade contra suas populações, ao mesmo tempo em que tentavam proteger os bancos.

O resultado disso foi uma revolta global daquilo que o movimento Occuppy Wall Street chama de “os 99%”. Os alvos eram a excessiva polarização da riqueza, os governos corruptos e a natureza essencialmente antidemocrática desses governos – tenham eles sistemas multipartidários ou não.

O Occuppy Wall Street, a Primavera Árabe e os Indignados não alcançaram tudo o que esperavam. Mas conseguiram alterar o discurso mundial, levando-o para longe dos mantras ideológicos do neoliberalismo – para temas como desigualdade, injustiça e descolonização. Pela primeira vez pessoas comuns passaram a discutir a natureza do sistema no qual vivem. Já não o veem como natural ou inevitável…

A questão para a esquerda mundial, agora, é como avançar e converter o sucesso do discurso inicial em transformação política. O problema pode ser exposto de maneira muito simples. Ainda que exista, em termos econômicos, um abismo claro e crescente entre um grupo muito pequeno (o 1%) e outro muito grande (os 99%), a divisão política não segue o mesmo padrão. Em todo o mundo, as forças de centro-direita ainda comandam aproximadamente metade da população mundial, ou pelo menos daqueles que são politicamente ativos de alguma forma.

Portanto, para transformar o mundo, a esquerda mundial precisará de um grau de unidade política que ainda não tem. Há profundos desacordos tanto sobre a objetivos de longo prazo quanto sobre táticas a curto prazo. Não é que esses problemas não estejam sendo debatidos. Ao contrário, são discutidos acaloradamente, e pouco progresso tem sido feito para superar essas divisões.

Essas discordâncias são antigas. Isso não as torna fáceis de resolver. Existem duas grandes divisões. A primeira é em relação a eleições. Não existem duas, mas três posições a respeito. Existe um grupo que suspeita profundamente de eleições, argumentando que participar delas não é apenas politicamente ineficaz, mas reforça a legitimidade do sistema mundial existente.

Os outros acham que é crucial participar de processos eleitorais. Mas esse grupo está dividido em dois. Por um lado, existem aqueles que afirmam ser pragmáticos. Eles querem trabalhar de dentro – dentro dos maiores partidos de centro-esquerda quando existe um sistema multipartidário funcional, ou dentro do partido único quando a alternância parlamentar não é permitida.

E existem, é claro, os que condenam essa política de escolher o mal menor. Eles insistem que não existe diferença significativa entre os principais partidos e são a favor de votar em algum que esteja “genuinamente” na esquerda.

Todos estamos familiarizados com esse debate e já ouvimos os argumentos várias vezes. No entanto, está claro, pelo menos para mim, que, se não houver algum acordo entre esses três grupos em relação às táticas eleitorais, a esquerda mundial não tem muita chance de prevalecer a curto ou a longo prazo.

Acredito que exista uma forma de reconciliação. Ela consiste em fazer uma distinção entre as táticas de curto prazo e as estratégias a longo prazo. Concordo totalmente com aqueles que argumentam que obter poder estatal é irrelevante para as transformações de longo prazo do sistema mundial – e possivelmente as prejudica. Como uma estratégia de transformação, foi tentada diversas vezes e falhou.

Isso não significa que participar nas eleições seja uma perda de tempo. É preciso considerar que uma grande parte dos 99% está sofrendo no curto prazo. Esse sofrimento é sua preocupação principal. Tentam sobreviver e ajudar suas famílias e amigos a sobreviver. Se pensarmos nos governos não como agente potencial de transformação social, mas como estruturas que podem afetar o sofrimento a curto prazo, por meio de decisões políticas imediatas, então a esquerda mundial se verá obrigada a fazer o que puder para conquistar medidas capazes de minimizar a dor.

Agir para minimizar a dor exige participação eleitoral. E o debate entre os que propõem o menor mal e os que propõem apoiar partidos genuinamente de esquerda? Isso torna-se uma decisão de tática local, que varia enormemente de acordo com vários fatores: o tamanho do país, estrutura política formal, demografia, posição geopolítica, história política. Não há uma resposta padrão. E a resposta para 2012 também não irá necessariamente servir para 2014 ou 2016. Não é, pelo menos para mim, um debate de princípios. Diz respeito, muito mais, à situação tática de cada país.

O segundo debate fundamental presente na esquerda é entre o desenvolvimentismo e o que pode ser chamado de prioridade na mudança da civilização. Podemos observar esse debate em muitas partes do mundo. Ele está presente na América Latina, nos debates fervorosos entre os governos de esquerda e os movimentos indígenas – por exemplo na Bolívia, no Equador, na Venezuela. Também pode ser acompanhado na América do Norte e na Europa, nos debates entre ambientalistas/verdes e os sindicatos, que priorizam manutenção dos empregos já existentes e a expansão da oferta de emprego.

De um lado, a opção desenvolvimentista, apoiada por governos de esquerda ou por sindicatos, sustenta que, sem crescimento econômico, não é possível enfrentar as desigualdades econômicas do mundo de hoje – tanto as que existem dentro de cada país quanto as internacionais. Esse grupo acusa o oponente de apoiar, pelo menos objetivamente e talvez subjetivamente, os interesses das forças de direita.

Os que apoiam a opção antidesenvolvimentista dizem que o foco em crescimento econômico está errado em dois aspectos. É uma política que leva adiante as piores características do sistema capitalista. E é uma política que causa danos irreparáveis – sociais e ambientais.

Essa divisão parece ainda mais apaixonada, se é que é possível, do que a divergência sobre a participação eleitoral. A única forma de resolver isso é com compromissos, diferentes em cada caso. Para fazer com que isso seja possível, cada grupo precisa acreditar na boa fé e nas credenciais de esquerda do outro. Isso não será fácil.

Essas diferenças poderão ser superadas nos próximos cinco ou dez anos? Não tenho certeza. Mas se não forem, não acredito que a esquerda mundial possa ganhar, nos próximos 20 ou 40 anos, a batalha fundamental. Nela definir-se-á que tipo de sistema sucederá o capitalismo, quando este sistema entrar definitivamente em colapso.

Tradução: Daniela Frabasile


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Cresce a tensão contra o Irã

Editorial do sítio Vermelho:

A crescente tensão que opõe, de um lado, Estados Unidos e União Europeia (França e Reino Unido, particularmente) e o Irã, demonstra, mais uma vez, que a real ameaça à paz mundial tem endereço certo e conhecido: Washington, Londres e Paris.

As tais potências ocidentais, em sua decadência, teimam em reafirmar um domínio internacional que se esvai quando a crise econômica aprofunda o enfraquecimento das velhas nações imperialistas. E insistem em tentar acuar o Irã, acusado de manter um programa nuclear para construir uma bomba atômica.



Esta acusação é o biombo que esconde as reais intenções geopolíticas envolvidas. A agressão contra o Iraque, que devastou o país, abriu espaço para o inesperado (para os governantes do imperialismo) crescimento do Irã como potência regional, ameaçando a correlação de forças na região onde Israel tem praticado contra árabes e palestinos todas as barbaridades sabidas, sem encontrar pela frente um adversário à altura em armamento e capacidade militar.

A ascensão iraniana, desde a revolução de 1979 e a guerra contra o Iraque, fomentada pelos EUA (1980-1988) para enfraquecer o governo de Teerã, é a novidade na região com a qual os imperialistas não contavam. E trabalham, desde então, para eliminá-la.

Mas o Irã contemporâneo, nascido da revolução dirigida pelo aiatolá Khomeini, é um país controverso mas unido, com forte orgulho nacional e dono de uma capacidade militar crescente, como demonstrou nos exercícios navais do final do ano, onde exibiu perante o imperialismo uma musculatura bélica considerável. Dono de uma marinha moderna e eletronicamente sofisticada, mostrou uma capacidade de autodefesa notável, com mísseis que podem atingir desde os porta-aviões norte-americanos que desfilam ameaçadoramente no Golfo Pérsico até as bases dos EUA na região e mesmo uma capital sensível, deste ponto de vista, como Tel Aviv.

Essa capacidade militar dá suporte à advertência feita pelo ministro da Defesa iraniano, o general Ahmad Vahidi, para que os navios de guerra dos EUA deixem de circular pelo Golfo. "Sempre afirmamos que a presença de forças não regionais no Golfo Pérsico era nociva e só poderia criar distúrbios. Portanto, pedimos que não estejam presentes nesta via marítima", disse o general, numa declaração que a mídia conservadora interpreta como um desafio às “potências ocidentais”. Não se trata de uma bravata ofensiva, mas a manifestação preocupada de um chefe militar cioso da defesa de seu país ameaçado pela presença militar estrangeira em suas fronteiras.

Além dos aspectos militares, o quadro se agrava neste início de ano depois que o governo do presidente Barack Obama aprovou leis para endurecer as sanções econômicas contra o Irã, e a França prepara-se para fazer o mesmo. Adotam o caminho de aprovar leis nacionais que pretendem impor sanções unilaterais a um país soberano porque Rússia e China se opõem à aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de mais sanções econômicas contra o Irã, defendendo o caminho mais sensato oferecido pela diplomacia.

Obama e seu parceiro francês, Nicolas Sarkozy, têm motivos que não confessam para endurecer a linguagem contra Teerã – vão enfrentar eleições este ano e imaginam que, rosnando contra nações que não acatam as ordens dos chefes do imperialismo, vão conseguir fatias maiores do eleitorado conservador. São acompanhados, e aplaudidos, pela direita que governa Israel, que deseja tirar de seu caminho um poder militar que pode contrabalançar o poderio do exército israelense na região.

A ameaça de guerra é real e concreta, e já se traduz num aumento do preço do petróleo que pode se transformar numa escalada se a tensão continuar. Afinal, se o Irã fechar mesmo o Estreito de Ormuz, que é um verdadeiro oleoduto dado o volume de petróleo que circula por ali – calcula-se que é da ordem de 40% do consumo mundial – o preço do petróleo pode explodir, contribuindo para aprofundar ainda mais a crise que corrói a economia dos países ricos.

O Irã demonstrou, com a manobra militar do final do ano, que tem força militar suficiente para fazer isso, embora seu governo negue essa intenção. É preciso ver, na sequência dos acontecimentos, se as tais “potências ocidentais” terão a irresponsabilidade de pagar para ver. O pavio está aceso para uma explosão de consequências que mesmo os mais ousados analistas militares não conseguem prever. A ameaça à paz mundial tem endereço certo e conhecido, esta é a conclusão; e ele fica nas capitais do imperialismo, e não na vizinhança dos desertos do Oriente Médio.


E C O N O M I A 
                                  e c o n o m i a










Em ano de crise global, comércio exterior surpreende com recordes

Exportações e importações alcançam níveis históricos em 2011, e superávit de US$ 30 bi é o maior em quatro anos. Segundo governo, Brasil é quem mais elevou vendas industriais. Apesar disso, primarização da pauta avança, puxada por exportação de commodities à China. 2012 é incógnita, e governo prepara medidas de estímulos.

BRASÍLIA – Num ano em que as economias de Estados Unidos e Europa claudicaram e prejudicaram todo o planeta, o Brasil teve um desempenho comercial surpreendente. Elevou as exportações em mais de US$ 50 bilhões (ou 26%), colocando-se entre os quatro países de melhor performance no quesito. Foi o campeão de crescimento de vendas de produtos industrializados, área mais afetada pela “guerra cambial” que se viu em paralelo à crise global. Teve o maior superávit em quatro anos (US$ 30 bilhões).

Essa é a parte boa da história divulgada nesta segunda-feira (2) pelo ministério do Desenvolvimento, já de posse dos números definitivos do comércio exterior brasileiro em 2011. O reverso da moeda é que o país primarizou mais um pouco sua pauta de exportações, com aumento da fatia dos produtos básicos (agropecuários e extrativistas; em suma,commodities).

E, até por consequência disso, houve uma ampliação da dependência do mercado da China, voraz consumidora de commodities que sinaliza uma desaceleração econômica em 2012 a qual contribui para o Brasil começar o ano em dúvida sobre seu desempenho comercial, a ponto de o governo não ter divulgado uma meta de exportações, como costuma fazer.

Em 2011, o Brasil teve números recordes no comércio exterior, todos com variações na casa de 25% - exportações (US$ 256 bilhões), importações (US$ 226 bilhões) e fluxo comercial (US$ 482 bilhões). O saldo de US$ 30 bilhões foi o mais elevado desde 2007, ano pré-crise de 2008 que até hoje provoca estragos pelo mundo.

Em janeiro de 2011, o chamado “mercado”, que o Banco Central consulta toda semana sobre uma série de indicadores, havia previsto que o país terminaria o ano com lucro de US$ 8 bilhões na balança comercial. Um pequeno erro na de uns 300%...

O próprio governo foi surpreendido, no entanto. Há um ano, o ministério do Desenvolvimento apostava que as exportações em 2011 totalizariam US$ 228 bilhões.

Em café da manhã de fim de ano com jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia avaliado, no dia 22 de dezembro, que o Brasil tinha ido “muito bem” no comércio exterior, valendo - para ele - destacar que 2011 foi um “ano de grande disputa comercial”.

A tese foi reforçada pela secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, que, ao divulgar os dados neste segunda (2), disse que o Brasil teve, “sem dúvida”, “um ano excepcional para o comércio exterior”.

Segundo dados parciais sobre outros países de uma lista pré-selecionada de concorrentes pelo governo, o Brasil foi o quarto que mais aumentou suas exportações em 2011 (27%). Perdeu para dois parceiros de BRICs (Rússia e Índia) e para Austrália.

Indústria
Um dado particularmente enfatizado pelo governo, foi o fato de o Brasil ter sido o campeão de crescimento das exportações de produtos industriais em 2011. O Brasil teria elevado em 19% suas vendas de manufaturas, enquanto os EUA teriam incrementado em 12% e a Alemanha, em 10%.

O setor industrial é o que mais sente os efeitos da crise econômica global, pois é nele que os países mais acirram a concorrência, com medidas protecionistas e de busca por mercados no exterior que compensem a expansão contida internamente pela crise.

Para fazer frente a essa situação, o governo adotou medidas igualmente protecionistas e de incentivo comercial ao longo de 2011. E deve reforçar tal estratégia, com novas medidas ainda neste trimestre, segundo o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira.

O setor industrial brasileiro sofreu ainda com o preço do dólar, considerado barato demais, em meio a uma "guerra cambial". Mas algumas medidas adotadas pelo governo em 2011 também tiveram o poder de frear o barateamento da moeda norte-americana, e esse foi um dos motivos apontados pelo ministro da Fazenda, ainda em dezembro, para o que se mostraria um surpreendente desempenho comercial em 2011.

Mas Guido Mantega também admitiu, naquele café, que as chamadas commodities foram decisivas para o bom resultado em 2011. No ano passado, o Brasil primarizou um pouco mais sua pauta de exportações. Os produtos básicos, que em 2010 representavam 44% do total das exportações, tiveram crescimento de 36% e chegaram a 48% da pauta. Já os manufaturados subiram 16% e, assim, caíram de 39% para 36% da pauta.

Segundo o ministério do Desenvolvimento, 2012 deverá ser um ano de mais guerra cambial, derrapagens econômicas nos EUA e na Europa e desaceleração da China. Por isso, enxerga um ano turvo, sobre o qual prefer não fazer previsões.

Segundo o "mercado" ouvido pelo BC semanalmente e a Confederação Naconal da Indústria (CNI), as exportações vão crescer de novo em 2012, ainda que em ritmo menor. Já a Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB) prevê queda.



Fonte: www.cartamaior.com.br




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Inimigo nº 1 no passado, estrangeiro vira 'aliado' da dívida pública

Governo consegue vender no exterior títulos com juros bem menores que os cobrados pelo 'mercado' dentro do Brasil e expõe rentismo interno. Em mais recente operação, Tesouro Nacional emite US$ 825 mi na Europa, EUA e Ásia pagando 3,4%, menor taxa da história brasileira e um terço da praticada em leilões semanais no país. Dívida externa pesa 4% do total.

BRASÍLIA – A Secretaria do Tesouro Nacional, que gerencia a trilionária dívida pública brasileira com o sistema financeiro, informou nesta quarta-feira (4) ter concluído a venda de US$ 825 milhões em títulos aos “mercados” de Europa, Estados Unidos e Ásia, com um custo para os cofres do país (juro ao comprador do papel) de 3,4%. É a menor taxa já paga pelo Brasil em uma operação do tipo.

O negócio, que envolve papéis a vencer em dez anos, chamados de Global 21, é mais um exemplo de que, ao contrário do que se via nos anos 70 e 80, décadas em que o país era assombrado pela dívida externa e seus credores estrangeiros, há algum tempo que o principal “inimigo” das contas públicas é o “mercado” brasileiro.

São os bancos, os fundos de investimentos e de pensão e as seguradoras instalados dentro do Brasil, os responsáveis por uma ciranda que hoje custa de 10% a 11% de juros ao Tesouro. Essa tem sido a taxa que, nos últimos tempos, o governo paga nos leilões semanais no “mercado” brasileiro de venda do papel mais transacionado hoje, em que o comprador sabe o lucro de antemão (pré-fixado) até 2014.

O juro médio dos papéis pré-fixados vendidos internamente é o triplo do embutido na operação do Global 21 no exterior. E mais: a taxa aceita pelos estrangeiros vale para um papel que vai vencer em uma década, enquanto os pré-fixados negociados dentro do país, a um juro três vezes maior, vencem em 2014.

Em novembro de 2011, o Tesouro também fez uma operação no exterior que igualmente explicitara a diferença do comportamento rentista do “mercado” brasileiro e do “mercado” externo. Vendera US$ 1,1 bilhão nos mesmos “mercados” do Global 21 (Europa, EUA e Ásia) em títulos que só vencem em 30 anos, o Global 2041. Taxa de juros: 4,69%.

Essas operações no exterior servem de referência para o que seria juro um juro razoável e compatível com padrões internacionais e pesam pouco no total da dívida pública brasileira, também ao contrário do que se via nas décadas de 70 e 80. Segundo os últimos dados disponíveis no Tesouro, referentes a novembro de 2011, a dívida brasileira com o “mercado” era de R$ 1,833 trilhão, mas só 4% eram dívida externa.

Estrangeiro 'interno'

A política do Tesouro de “usar” estrangeiros para explicitar a diferença no rentismo deles frente ao dos brasileiros e para melhorar o que se chama em linguagem técnica de “qualidade” da dívida começou em 2006. Na época, o ex-presidente Lula assinou medida provisória (MP) dando isenção de imposto de renda para estrangeiro que viesse ao Brasil comprar título público.

Mesmo que o título esteja nas mãos de estrangeiros, esse tipo de transação é formalmente dívida interna, porque os valores estão em reais, não em dólares. Também segundo os dados mais recentes do Tesouro, estrangeiros controlam 11% da dívida total, embora cobrando juros não como fazem no exterior, mas de forma mais parecida com os brasileiros. E, mesmo assim, também há diferenças.

Os estrangeiros que lucram com a dívida interna têm 80% de seus papéis atrelados a juro pré-fixado. Só 4% estão vinculados à taxa do Banco Central (BC). Do ponto de vista da gestão da dívida, o Tesouro considera que é melhor evitar papéis ligados à Selic porque, como o BC pode mexer nela a qualquer momento, a dívida torna-se mais imprevisível.

Como comparação: 54% dos títulos de posse dos fundos de investimentos são “selicados”; 28% dos papéis de posse dos bancos, também.

Quando se observam os prazos de vencimento da dívida, também se nota que os estrangeiros contribuem para torná-la um pouco melhor. Eles ajudam a deixá-la mais longa, o que nos manuais dos gestores de dívida é considerado algo positivo. Dos papéis que controlam, 40% têm prazo superior a três anos, mais que bancos (30%) e fundos de investimento, de 35%.



Fonte: www.cartamaior.com.br



ENTREVISTA    entrevista     entrevista







Em sua primeira entrevista, Graziano diz que fome na África será prioridade da FAO

Ao falar à imprensa internacional pela primeira vez após assumir o cargo de diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva disse que os preços dos alimentos continuarão voláteis em 2012, elogiou os programas de transferência de renda na América Latina e prometeu priorizar a África em seu mandato.

São Paulo – Apesar dos sinais de que a crise financeira internacional não dará trégua em 2012, o número de famintos no mundo, próximo a um bilhão, não sofrerá grande incremento. Uma das razões são os programas de transferência de renda em países da América Latina, que já beneficiam 120 milhões de pessoas e têm mitigado as turbulências econômicas. Na África, porém, o drama da fome pode piorar, sobretudo em sua área setentrional.

Por conta disso, José Graziano da Silva, novo diretor-geral da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, promete priorizar o continente africano em seu início de mandato, que vai até 2015. “A FAO é necessária para os países mais pobres, que não têm capacidade de lidar com esses desafios por si mesmos”, disse o brasileiro, que concedeu sua primeira entrevista coletiva no cargo, nesta terça-feira (3), na sede da organização, em Roma.

Com a experiência de quem conduziu o escritório da FAO na América Latina por quase seis anos, Graziano quer testar na África um novo modelo de atuação da entidade, em que os programas regulares e os de emergência terão atuação integrada. Além disso, promete colocar seus técnicos para auxiliar os governos nacionais a captarem recursos adicionais de outras fontes, porque em muitos casos “eles sequer têm condições de ir aos doadores e apresentar projetos”.

Ao longo de 2012, o novo diretor-geral acredita que os preços das commodities agropecuárias continuarão voláteis, sobretudo porque os estoques mundiais permanecerão baixos. Além da crise financeira, que limita os investimentos para aumento de produção, ele explica que grandes produtores mundiais de cereais foram atingidos por inundações e outros desastres naturais, o que prejudica a atual colheita e desestimula a ampliação das áreas de plantio para o próximo período.

Outro projeto da FAO com foco na África será a criação de regras que permitam aos governos nacionais ao menos monitorarem o mercado de terras em seus países. Nos últimos anos, empresas estrangeiras têm comprado – ou mesmo grilado – largas extensões de terra no continente africano. Segundo Graziano, isso preocupa a FAO por três razões:

- muitos governos nacionais não exigem que haja registros sobre compra e venda de propriedades, o que não permite que eles tenham sequer estatísticas confiáveis sobre terras;

- empresas estrangeiras têm comprado áreas comunais de comunidades e tribos, gerando migração de grandes grupos para a periferia das cidades;

- as empresas compram terras como reserva de valor ou para produzirem commodities destinadas à exportação, o que não contribui para a segurança alimentar local.

A adoção pelos países de regras sobre a posse de terra será voluntária, uma vez que a FAO não tem poder para regular questões desse tipo internamente entre seus membros. “Será uma referência para aqueles que tenham vontade de se defender caso sintam-se ameaçados por esse processo”, explicou.

Consumo sustentável
Questionado por jornalistas, Graziano disse que manterá a FAO como uma organização voltada para a pesquisa e a assessoria técnica, mas sem tirar “os pés do campo”. Ele lembrou que um dos motes de sua campanha a diretor-geral, quando venceu um ex-ministro espanhol, em junho de 2011, diz respeito ao incentivo ao consumo sustentável. “Precisamos mudar não apenas o padrão de produção, que é mais visível ao impactar sobre o meio ambiente, mas também o padrão de consumo”, afirmou.

Na opinião dele, o problema do desperdício não seria exclusividade de poucos países e pode ser encontrado da colheita ao consumidor final. Para exemplificar a questão, lembrou-se de sua passagem pelo Chile, onde fica o escritório regional da FAO para a América Latina. “Vocês sabem que é um hábito do brasileiro comer feijoada aos sábados, junto com caipirinha”, disse aos jornalistas.

“Mas no Chile não havia todos os ingredientes disponíveis, como o caso da couve. A verdura que mais era parecida eram as folhas da couve-flor. Eu ia ao varejão cedo e pedia essas folhas, até um dia em que a senhora ficou com pena de mim e me presenteou com uma couve-flor inteira”, recordou o brasileiro, afirmando que as folhas da couve-flor costumam ser descartadas, mas podem representar ¾ do produto. Valorizar produtos locais, aliás, é uma das soluções propostas por Graziano para mitigar os efeitos da volatilidade das commodities.

Durante a entrevista, o diretor-geral também falou sobre a pressão dos agrocombustíveis sobre o preço dos alimentos. Para ele, esse efeito será menor em 2012, a ponto de os agrocombustíveis “deixarem de ser o vilão da história”. Ele justificou essa versão apontando a queda de subsídios ao etanol nos Estados Unidos e o atraso na adoção de metas de uso do produto na Europa, o que reduz a demanda por matéria-prima.

No entanto, Graziano defendeu que é preciso aumentar os estoques de milho no mundo – segundo ele, um item estratégico como o petróleo. “É um insumo básico que afeta preços de carnes, lácteos e de muitos alimentos processados”, explicou. Nos Estados Unidos, por exemplo, o milho é usado na fabricação de etanol. No final de janeiro, o diretor-geral participará no Fórum Social Temático de Porto Alegre, quando espera dar impulso à sua nova política para a FAO, que prevê maior abertura à entidades da sociedade civil, como ONGs e movimentos sociais.



Fonte: www.cartamaior.com.br 








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