15 novembro 2010

ECONOMIA: A GUERRA CAMBIAL


F A L T A    I N F O R M A Ç Ã O


O mundo ainda não se deu conta dos prejuízos provocados pelo comportamento das duas maiores potências, sejam os EUA, ao insistirem em elevar a liquidez, seja a China, ao ignorar a ética na competição comercial
É um fato óbvio que os Estados Unidos precisam reequilibrar a sua economia e isso exige que eles desvalorizem sua moeda. Não lhes restou alternativa, após tantos meses de tentativas erráticas de gerenciar a crise social e financeira interna e de obter da China alguma indicação de que iria permitir a valorização do yuan para ajudar o esforço de recuperação americano.
Por enquanto, não foi encontrado um caminho capaz de impor aos chineses um comportamento mais adequado no comércio internacional. Juntos, EUA e China respondem por um terço da produção mundial de bens e serviços; mas é impossível aceitar que eles procurem libertar-se dos problemas de suas economias à custa da destruição do equilíbrio que resta nas demais.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem toda a razão quando diz que nós não podemos assumir mais perdas para ajudar os EUA e a China. O Brasil sempre se  comportou de maneira muito adequada desde o início da crise. Tem permitido uma dramática supervalorização do real, que ajuda os dois primeiros, mas prejudica diretamente o exportador nacional. O aumento de exportação que ainda conseguimos fazer a duras penas resulta mais da elevação de preços do que de aumento das quantidades exportadas. Há, na verdade, um empobrecimento do setor industrial brasileiro mais sofisticado, que se preparou para competir ao longo de muitos anos, investiu em inovação, mas sofre as consequências da nossa política cambial.
É preocupante a falta de informação ao mundo sobre os males que atingem as pessoas por conta do comportamento das duas mais poderosas economias do planeta e dos executores de suas políticas. São corretas as queixas quanto à política chinesa, mas é preciso insistir com os EUA que não adianta simplesmente aumentar a liquidez para solucionar os problemas, principalmente onde já existe um excesso de liquidez: suas empresas não financeiras têm 3 trilhões de dólares em caixa e os bancos mais 1 trilhão e ninguém investe e ninguém consome, porque se perdeu a confiança na capacidade do governo de tirar o país da crise. Estão correndo o risco de ter uma deflação, (quando as pessoas passam a guardar o dinheiro porque começam a acreditar que ele pode servir um pouco melhor, amanhã). Seria algo terrível para eles e muito ruim para os demais.
Para a economia americana se recuperar é preciso resolver o problema interno da quebra de confiança dos consumidores e dos setores produtivos na capacidade do governo Obama de vencer a crise. No momento, enfrenta dificuldades crescentes. Não creio que seja exagero lembrar o quanto a mensagem de confiança transmitida pelo presidente Lula aos consumidores foi decisiva para reverter os ventos da crise no Brasil.
A China não mostra real interesse em cooperar com o equilíbrio geral, desrespeita os acordos construídos para regular as relações econômicas entre os países, ignora solenemente o papel da Organização Mundial do Comércio, porque não se sente minimamente res-ponsável pelos tratados internacionais. Ganhou espaço considerável e posições dominantes em diversos mercados, reeditando práticas dos velhos países colonialistas (das quais ela própria foi vítima nos séculos passados) de incursão nas regiões mais pobres do continente africano e do próprio subcontinente asiático.
Tendo ganho musculatura, ascendendo em poucos anos à condição de segunda economia, a China passou a agir como se não tivesse necessidade de obedecer às regras de boa convivência na comunidade internacional. Simplesmente suprimiu o princípio (démodé) da ética da competição, substituindo-o pelo mais velho e cínico teorema: quanto maior for a competição, mais vale a pena ser monopolista…
A força principal do comércio exterior chinês são as exportações para os EUA, com mercadorias produzidas por empresas privadas dos próprios americanos que se instalaram naquele território para aproveitar a abertura e exportar livremente para seu mercado. O governo Obama insiste que a China não se comporta como uma “economia de mercado” e, portanto, é preciso agir contra as práticas irregulares de comércio, mas o Congresso não autoriza as medidas pela simples e boa razão de que as restrições prejudicariam importantes empresas americanas. Mas quem controla o Congresso é o setor privado e ele está ganhando dinheiro com as exportações chinesas.

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