27 abril 2015

ESFORÇO PARA NOS CONFUNDIR

A má informação


Mino Carta, na Revista CartaCapital



Ilustra esta página a primeira capa deste ano, belo exemplo do jornalismo que CartaCapital pratica. Honesto, fiel à verdade factual, responsável, crente da melhor lida com o vernáculo. Naquela mesma ocasião, a mídia nativa dedicava seu verbo mais retumbante à chacina na redação do Charlie Hebdo e clamava contra mais um atentado contra a liberdade de imprensa e de expressão.
CartaCapital optou por outra visão das coisas da vida e escolheu o assunto que iria inquietar o País nos meses seguintes, dominar a cena política e criar problemas crescentes para o governo recém-empossado de Dilma Rousseff. A mídia, com as habituais exceções, preferiu banalizar a tragédia. Abandonou-se à correnteza, seguiu o exemplo do jornalismo mundial, conforme manda a tradição colonial. Com os resultados almejados: até brasileiros foram em espírito à la place, assim como hoje marcham de corpo presente pelas avenidas aos gritos deforadilma. 
A cretinização é fenômeno mundial e os comportamentos midiáticos contribuem notavelmente para tanto. O massacre cometido na redação do jornal satírico parisiense é crime hediondo. Ganha, porém, uma repercussão que outros fatos tão graves não têm, sem contar as interpretações rasteiras. Vale perguntar aos nossos botões, desde que saibamos ouvi-los, por que não vamos à praça ou à avenida, diante de outros crimes contra a humanidade, perpetrados ou não por grupos islamitas?
Não nos incomodamos, por exemplo, se 250 estudantes são sequestradas pelo Boko Haram e delas nada mais se sabe. Ou com a chacina de cristãos em pontos diversos do mapa africano. E perfeitamente indiferentes recebemos as notícias da espantosa situação dos fugitivos da miséria e da prepotência que atravessam o Mediterrâneo em busca de praias seguras, e que soçobram pelo caminho. Falam de milhares de mortos, entregues à sanha de organizações criminosas e tragados pelas ondas de rotas odisseicas. Vítimas da desigualdade social de um mundo cada vez mais injusto, com o beneplácito da aceitação passiva do neoliberalismo e do silêncio de quem teria condições de reagir.
A tragédia mediterrânea resulta, em primeiro lugar, dos erros seculares, da violência e da arrogância dos poderosos do Ocidente, a decidirem unilateralmente, a partir daqueles que veem como seus exclusivos interesses, os destinos da África e do Oriente Médio. E de todos aqueles que não sabem, ou não querem, ouvir seus botões. 
Aqui na nossa cena, o ataque midiático à razão mira, entre outros alvos, a situação da Petrobras, nossa estatal que Fernando Henrique Cardoso pretendia privatizar. Pois a inegável crise da companhia alegra jornalões e revistões. Os fatos falam claro, mas o primeiro objetivo é atingir o governo e o PT.  Entre os participantes da festa, ninguém, obviamente,  se digna avisar o público a respeito do efeito negativo da queda do preço do petróleo sobre os balanços de todas as companhias petrolíferas do mundo. Transparente, de todo modo, é outra manobra: a tentativa de agarrar pelos cabelos a fugidia oportunidade de reconduzir a Petrobras ao projeto do governo FHC. Não é por acaso que nas páginas da imprensa se aventa como inevitável a venda do pré-sal, a despeito do enérgico desmentido do presidente Bendine.
Certos comportamentos em outros tempos eram definidos como entreguistas. Nada de surpresas. Exemplo: nas mais altas esferas da Fiesp, órgão mais representativo da mentalidade da indústria brasileira, há quem defenda com olhos radiantes a substituição das empreiteiras brasileiras pelas chinesas.
O relato das efetivas condições da Petrobras está na reportagem de capa desta edição, para concluir que a situação é melhor, muito melhor, do que gostaria a mídia nativa.
 
 
 

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