10 abril 2015

CONFORME A MÚSICA

tangoaroeira










Andares da crise

Janio de Freitas, na Folha
 
Recebidos, até para não fugir à regra da Presidência, como operações desastradas, o convite recusado pelo ministro Eliseu Padilha e o convite aceito pelo vice Michel Temer, para a coordenação política do governo, compõem a primeira operação promissora da ininteligível Dilma Rousseff do segundo mandato.
O período de Eliseu Padilha como ministro de Fernando Henrique mostrou, além de inteligência do companheiro de Nelson Jobim na advocacia, um político sagaz e hábil. Foi o que agora a sua recusa ao convite confirmou. E mais ainda o seu passo seguinte: a ele é atribuída a sugestão de Michel Temer como o dotado das condições políticas e pessoais para obter de Eduardo Cunha e Renan Calheiros um refreamento dos seus ímpetos atuais, e enfim ouvir e talvez negociar.
Temer é calmo, mantém certa distância respeitosa e elegante, conhece o território e detém um posto-chave para as circunstâncias. Não o de vice-presidente da República, que hoje Eduardo e Renan supõem olhar de cima. O de presidente do PMDB, e portanto deles, visto e ouvido no partido com atenção e seriedade.
Como coordenador político ligado às duas principais partes a serem coordenadas, Michel Temer será um fator de constrangimento para as atitudes provocativas que têm suas impróprias fontes nas presidências da Câmara e do Senado. Com isso, “a crise” transfere-se, sob o correto nome de “problema”, da Presidência da República para o PMDB. Eduardo Cunha e Renan Calheiros perdem a liberdade de afrontar o governo e seus representantes, porque ao fazê-lo estarão afrontando o respeitado presidente do seu partido. O que, com muita probabilidade, levaria o próprio PMDB a uma crise muito prejudicial ao partido que sonha com iniciar nova inserção nas eleições, em linha própria.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros não precisam mudar as respectivas estratégias, se as têm, mas, se não quiserem a crise em casa, lhes conviria mudar a linguagem e os modos excessivos de suas táticas. O que pode até, quem sabe, beneficiá-los, já que os seus desgastes emitem sinais claros. E para o governo será o bastante a justificar o convite ao vice Michel Temer.


(Extraído do TIJOLAÇO, de Fernando Brito)

Nenhum comentário:

Postar um comentário