04 junho 2013

PORTUGAL EM CRISE

Mário Soares quer derrubar o governo


Mauro Santayana, na Agência Carta Maior


A esquerda europeia retomou ontem as ruas, em protestos convocados pelos portugueses, contra a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. Ainda que a grande imprensa e as autoridades policiais tenham reduzido a dimensão dos atos, eles foram expressivos. Mas, é natural que tenha sido assim. 

Por mais importante sejam os movimentos de massas, eles, por si sós, não mudam a História. Os protestos são facilmente reprimíveis pela força policial – a menos que os policiais a eles se adiram, como ocorreu na Queda da Bastilha, quando a Guarda Civil de Paris armou o povo, na jornada de 14 de julho de 1789.

O que faz as revoluções é a conjunção entre as ideias bem organizadas e a ação estratégica dirigida pelos líderes populares.

Quinta-feira, Mário Soares – o veterano intelectual e líder civil da Revolução dos Cravos, de 1974 – empolgou as forças de esquerda, ao proferir a aula magna da Universidade de Lisboa. Aos 89 anos, o ex-presidente e ex-primeiro ministro, fustigou a política de “austeridade”, exigida pela troika, ou, melhor, pela trinca, supranacional – o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu - que está asfixiando a Europa e prejudicando o mundo inteiro.

Ao lembrar a Revolução dos Cravos, disse Mário Soares: “Não podemos deixar que tudo isso seja destruído, que o país seja desmantelado e vendido a quem pague mais. Essa austeridade nos leva ao abismo, a ele nos empurra. E tudo, para que? Para enriquecer o mercado. A crise do euro não é só financeira e económica, é também social, política, ética e ambiental. O neoliberalismo, a ideologia que provocou a crise, contra as pessoas e em favor do dinheiro, está moribunda e não vai poder perdurar muito”. O auditório, de pé, repetiu, aos aplausos, a sua frase final: “Contra o medo, e com patriotismo”. Mário pretende criar nova maioria parlamentar e a queda do governo chefiado por Passos Coelho. 

Mário Soares, ao exigir a queda do governo, pregou a união das esquerdas e do centro, para recuperar a mensagem da Revolução ocorrida há 39 anos, e da qual é um dos poucos sobreviventes. Trata-se de estabelecer um programa comum de ação, a partir de pontos consensuais, que preservem a democracia e os direitos de todos os cidadãos. A organização política dos povos massacrados pelo neoliberalismo é o único caminho para impedir a consolidação da ditadura mundial dos banqueiros sob um regime fascista. A direita reforça sua posição no mundo, e a violência dos desesperados, como os atentados recentes de Boston e Londres, em lugar de enfraquecê-la, fortalecem-na. Estamos vivendo situação muito semelhante à dos anos 30, que resultou na tragédia dos campos de concentração e na sangueira da 2ª. Guerra Mundial.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.




Nenhum comentário:

Postar um comentário