08 junho 2013

LEALDADE

O parceiro de fato

Maurício Dias, na Revista CartaCapital



Por duas ou três vezes, em seguida à complicada votação da Lei dos Portos, Dilma Rousseff reuniu-se com o comando do PMDB, o partido aliado numericamente mais forte da ampla base aliada do governo no Congresso.
A legenda tem quase tudo que quer, embora sempre queira mais: o vice-presidente, vários ministérios e o comando do Senado e da Câmara. Mas não oferece em troca a fidelidade devida. Os números comprovam.
Estudo com avaliação comparativa das votações da base partidária nos dois mandatos de Lula e as votações nos dois primeiros anos de Dilma (2011-2012)  mostra que “o companheiro do PT é o PSB”, como diz o cientista político Fabiano Santos, coordenador, com Júlio Canello, do Núcleo de Estudos sobre o Congresso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
“Na média, no apoio às votações no governo Dilma, o PSB tem sido o grande aliado e não o PMDB”, explica Santos, que também destaca a relação desequilibrada entre o total de partidos que apoiam Dilma e o número de votos obtidos no plenário do Congresso.
Lula, no primeiro governo, tinha cerca de 50% dos votos da Câmara. Dilma tem, em tese, cerca de 300 dos 513 parlamentares.
“Com minoria nominal, a taxa de apoio obtida por Lula foi, no entanto, melhor”, afirma o pesquisador. Por que razão, com mais partidos na base, Dilma tem mais dificuldade nas votações?
As coisas vão além, muito além, da acusação de que Dilma, Gleisi Hoffmann, chefe da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, são inapetentes na tarefa de fazer política.  “A agenda de Dilma entra em conflito com a base de apoio. Notadamente com os interesses de parlamentares do PMDB”, avalia Santos. 

Além disso, a presidenta modificou o sistema de funcionamento entre o Planalto e o Congresso. Ela envia a proposta e vai negociar com a Casa depois. Ou seja, ela não negocia antes nos gabinetes, locais mais favoráveis a transações duvidosas. Os interessados são forçados a abrir seus interesses na hora de votar.
“O fato de a coalizão nominal não corresponder sempre à coalizão efetiva leva a crer que existem razões outras que não a do suporte no Legislativo para manter uma base de apoio tão grande. E essas razões certamente são partidárias e eleitorais, isto é, têm a ver com outro jogo para além daquele que é jogado quando se discutem e se votam matérias de interesse do governo.”
Em outras palavras, há uma coalizão governativa, na qual o PT e o PSB são os parceiros mais próximos, e uma coalizão partidária eleitoral (quanto maior melhor), na qual o PT e o PMDB são os ­principais parceiros.



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