Aécio tem linha
A principal novidade do programa de Aécio Neves é política. Pela primeira vez desde 2002, o PSDB apresenta um candidato que caminha pelas próprias pernas, com uma linha política clara.
Paulo Moreira Leite, em seu blogue
Explico. Em 2002, José Serra disputou a presidência sem assumir que era herdeiro de FHC e sem propor uma alternativa clara às ideias de Lula.
Numa estratégia que iria repetir oito anos depois, a campanha parecia sugerir que, em muitos aspectos, Serra estava mais preparado para realizar aquilo que Lula pretendia fazer.
Em 2006, Geraldo Alckmin não foi capaz de mostrar por que pretendia chegar à Presidência.
Em 2010, Serra tentou apresentar-se como o melhor candidato para continuar a obra de Lula. Fez isso até nos jingles do primeiro turno.
Em 2013, Aécio anda em faixa própria. Forma e conteúdo se complementam. O programa é limpo, sem ruídos. Nem tudo o que se vê na tela é espontâneo mas nada parece ensaiado. Aécio parece à vontade na missão de pedir votos.
O candidato a presidente não é escravo do adversário.
Claro que toda mensagem de um candidato de oposição tem um sujeito oculto, que é o governo de plantão, mas o programa não parecia contaminado por ele.
Aécio não ataca diretamente o governo Dilma – ninguém faria isso com uma adversária com mais de 60% de aprovação popular – mas tenta construir uma visão diferente do país e dos brasileiros.
Corteja o empreendedorismo, numa época em que todas as pesquisas de opinião ensinam que uma parcela crescente dos brasileiros gostaria de ser o próprio patrão.
Não diz que a vida está pior – seria complicado, com os números de renda e emprego – mas conversa com cidadãos que se queixam da alta dos preços e falam da inflação.
Aécio entra na conversa e lembra que o Real é uma herança do governo Fernando Henrique.
Programas políticos não são produtos de jornalismo, dos quais se deve esperar rigor na informação e competência nas análises. (Isso nem sempre ocorre nos dias de hoje mas vamos combinar que esta é a mercadoria prometida ao leitor...)
Obras da propaganda, os programas políticos trabalham no campo da verossimilhança, e não da verdade. Precisam ser críveis, o que é diferente de verdadeiros.
No programa, Aécio pode falar da inegável vitória de FHC sobre a inflação e ignorar que no último ano de mandato a alta de preços chegou a 12% e o país teve de pedir socorro ao FMI.
Também pode elogiar o empreendedorismo sem mencionar o papel essencial do crédito popular estimulado pelos governos do PT.
Vale reclamar das perdas inflacionarias e não dizer que hoje em dia mais de 80% dos reajustes salariais tem permitido ganhos acima da inflação.
Estas incoerências e omissões fazem parte da propaganda política. Ninguém espera que os programas de Dilma venham a fazer uma apresentação equilibrada dos defeitos e virtudes de seu governo.
Uma campanha eleitoral não é apenas uma disputa de ideias e projetos. É uma disputa para o eleitor escolhe quem tem mais credibilidade.
O programa mais delirante pode fazer sentido numa conjuntura determinada e ser um desastre em outra situação.
Tudo depende da credibilidade de quem critica – e de quem responde a crítica. Numa posição, ou em outra, é preciso conversar com a realidade, com aquilo que o eleitor experimenta em seu dia a dia.
No Brasil de 2013, a credibilidade está com Dilma. Seu esforço será conservar essa situação por um ano e quatro meses. Tentará preservar os avanços de todas as maneiras. Se conseguir isso, dificilmente será derrotada.
Os adversários vão agir na posição contrária. Contam com a mídia para tentar um segundo turno.
Este será o debate até outubro de 2014.
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