Esta crise não vai ter solução enquanto não se impuser algum custo para quem faz as patifarias
O nosso companheiro Luiz Gonzaga Belluzzo produziu um comentário magistral na última edição de CartaCapital (16/2/2011) com o título “Alertas ignorados”,* onde analisa dois importantes documentos recém-liberados, o primeiro da Comissão de Investigação do Congresso dos EUA e o segundo do FMI, tratando da crise que arrasou as finanças e produziu a tragédia do desemprego que atingiu 30 milhões de trabalhadores em todo o mundo.
Quem não leu a edição impressa, deve ir ao sítio colunistas@cartacapital.br para não perder a oportunidade de acesso às finas observações e às conclusões antológicas de meu colega, professor de Economia e brilhante articulista. A certa altura, ele “cravou” o que se pode chamar de “resumo da ópera”, utilizando expressão corrente da garotada, “foi mal…”, ao falar da falsidade da autocrítica dos agentes financeiros nos depoimentos ao Congresso americano, pretendendo eximir-se da responsabilidade moral pelos malfeitos que impuseram ao mundo.
Estou convencido de que esta crise, que não cessou de atazanar as economias europeias, mantém muito tênue o esforço de recuperação americano e, mais recentemente, revela os efeitos sociais e também políticos nas nações africanas, não vai ter solução enquanto não se impuser algum custo para quem fez as patifarias. Porque ela é uma crise moral, mais do que econômica, não é só de responsabilidade do sistema financeiro, mas também dos governos que deviam fiscalizá-lo e, por isso, muito adequadamente estão sendo cobrados nas batalhas de rua.
Como é que essas sociedades podem se conformar com o fato de que 30 milhões de trabalhadores que ganhavam a vida honestamente foram desempregados por 30 sujeitos desonestos? Não vão aceitar, simplesmente, que se socializem os prejuízos que, na realidade, se converteram em lucro dos bancos! Como diria o nosso Lula, esses “caras” não perderam nada até agora…
Vejo neste momento uma transição de governos, com o presidente que se retirou merecendo os mais altos índices de aprovação em nossa história. E vejo com enorme otimismo o modo como a presidenta Dilma Rousseff organizou o núcleo da sua equipe e, mais ainda, pelas diretrizes enunciadas que demonstram a noção clara das necessidades do Brasil e os nossos limites. Vai enfrentar o grande problema da ineficiência da máquina pública e já dispensou a ideia de fazer um “choque fiscal”, que não é necessário. Manteve Guido Mantega, um excelente ministro da Fazenda, homem calmo e prático; a indicação de Alexandre Tombini para o Banco Central foi uma decisão muito importante. No Planejamento, corretíssima a escolha de Miriam Belchior para continuar o trabalho de Paulo Bernardo, que foi um senhor ministro e assumiu as Comunicações.
Há outros sinais que permitem acreditar numa melhora dos métodos da gestão pública. Um deles foi a convocação do empresário Jorge Gerdau para participar do processo, trazendo toda a grande experiência da Fundação Dom Cabral, de Minas Gerais. São dois ícones da excelência de administração empresarial e pública.
A realidade de hoje, após 30 meses da crise, é que o crescimento mundial está em marcha lenta, ainda procurando curar as feridas na economia e nas finanças. Aquele cenário favorável dos primeiros anos do século XXI mudou radicalmente e isso nos afeta e aos demais “emergentes”, tanto em termos de crescimento interno como no comércio internacional. Só tem agora vento de frente, acabou o vento de cauda e cada um vai ter de “se virar” do jeito que puder e tiver competência.
A China continua crescendo mais que todos. A Índia praticamente cresce como nós (8% do PIB em 2010) O Brasil precisa ficar esperto e prestar atenção nos negócios da China, que já são bem mais que uma “linha de montagem” – eles são os maiores importadores e exportadores mundiais. Temos um diferencial importante, que é o vigoroso mercado interno que desabrochou com as políticas sociais e os acertos da política econômica no governo Lula. Nosso mercado interno é muito importante em termos globais, temos uma dimensão e um dinamismo semelhantes aos dos Estados Unidos nos anos 1970. As condições estão dadas para o crescimento brasileiro a taxas anuais de 5% ou 6% do PIB. Isso é objetivo perfeitamente factível pelos próximos 15 a 20 anos, a não ser que a economia mundial “vire de ponta-cabeça” pela ação demorada e simultânea de maus financistas e péssimos governos, que num futuro próximo não resistirão por tempo demasiado à pancadaria nas -ruas… Ou à lição das urnas…
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