Luís Carlos Lopes(*)
Nas últimas semanas, o mundo foi surpreendido por uma sucessão de revoltas populares genuínas que partiram de um profundo descontentamento com a forma de governar e de estruturar a sociedade no Oriente Médio e em alguns países árabes. Estas revoltas ganharam maior amplitude, inicialmente, na Tunísia, ex-colônia italiana e paraíso turístico europeu à beira do Mar Mediterrâneo.
O eixo político midiático imaginou uma crise na região, a partir das complexas relações Palestina-Israel com o problema do Irã. As forças que controlam as grandes mídias e o pensamento geopolítico ocidental não atentaram para que os problemas dos países onde eclodiram as revoltas eram muito graves e que a história pode surpreender-nos. Foi o que aconteceu. Inicialmente, a chama da revolta nasceu com moderação.
Parecia que o ditador tunisiano, como em outras vezes, domaria mais este levante (que, aliás, nunca foram muito grandes em seu país). Como se sabe, as forças repressivas perderam o controle da situação e as ruas foram tomadas de assalto. Estas só se acalmaram quando Ben Ali e sua gananciosa esposa passaram a estar fora do poder e do país. No entanto, estes carregaram o que puderam roubar em seus últimos dias de fausto, opressão e corrupção.
O caso tunisiano foi a primeira carta a cair, inspirando vizinhos que têm realidades similares, apesar de diferenças importantes. O caso do Egito é bem mais complexo, pois é mais rico, mais populoso e cheio de diferenças socioculturais internas. Mesmo assim, com o impressionante esforço da população, que enfrentou armas com pedras, o velho ditador foi derrubado. Faltam, no entanto, acertar o problema da sua permanência no país e da insistência dos seus ex-colaboradores a ficar no governo depois de mais de três décadas de mamata.
Sucedeu-se o caso de Bahrein, pequeno principado que abriga a frota naval americana estacionada na região e pronta para atacar a quem decidir. Neste país, o Estado usou de extrema força logo no início das revoltas. Quase ao mesmo tempo, instalou-se uma rebelião na Líbia, de modo surpreendente. Parece que neste pequeno país, com mais de mil mortes até agora, segundo as fontes disponíveis, o genocídio será campeão. O ditador Gadafi não aceita cair e até a aviação está sendo usada contra a população civil, que se manifesta contra o seu governo nas maiores cidades do país.
Por meio das reivindicações da população rebelada, é possível perceber quais os problemas que eles enfrentam, em todos os casos. Em primeiro lugar, a ilegitimidade do poder político. Os habitantes desses países foram forçados a aceitar que essas pessoas os governassem, os roubassem e os obrigassem a viver de um modo que interessassem a uma minoria. Os que não eram reis de fato os imitavam, seguindo a tradição oriental de direito familiar eterno. Os que já eram soberanos mantinham e ainda mantêm hábitos milenares. As maiorias querem alguma coisa próxima a uma democracia direta e estão dispostas a morrer por isso. Em países com profundas contradições sociais, deve surpreender bastante a descoberta de tais níveis de corrupção, feita de modo pouco cuidadoso.
O movimento popular não deseja que isto seja mantido e pede a sua imediata supressão, assim como uma maior divisão de renda. Não se trata de um movimento de inspiração socialista, mas de socorro aos mais pobres, desempregados, mal-pagos e mais uma infinidade de problemas que os pobres bem conhecem. Deseja-se justiça social básica. Estes movimentos também não vêm se caracterizando por ser claramente anti-imperialistas.
Não se viu bandeiras norte-americanas ser queimadas nas ruas, nem ataques a política externa do gigante do Norte, mesmo havendo razões para isso. Todavia, os populares preferiram atacar os alvos internos de seus problemas, desnorteando a política dos EUA. Trata-se de movimentos espontâneos, não havendo nenhum partido político que os fomentem. Eles vêm se organizando na instantaneidade, apoiando-se em estruturas organizativas pré-existentes.
As religiões existentes nesses países não atrapalharam nem tentaram dirigir absolutamente as rebeliões. Entretanto, viu-se a unidade entre política e religião a favor dos interesses populares. Na famosa praça Tahrir, agora símbolo universal da liberdade dos povos escolherem seus próprios caminhos, marcharam juntas cristãos e muçulmanos. Estes incidentes, entretanto, trazem novas lições sobre as relações políticas internas de qualquer país. Alertam também para que os possíveis interesses externos podem fazer água ao concordarem com situações iníquas, só porque seus responsáveis lhes dão passe-livre. Um belo dia, o efeito da manipulação pode estancar e a coragem, recuperada do nada. Um mundo melhor será sempre mais justo, com liberdade, autodeterminação e justiça social.
O eixo político midiático imaginou uma crise na região, a partir das complexas relações Palestina-Israel com o problema do Irã. As forças que controlam as grandes mídias e o pensamento geopolítico ocidental não atentaram para que os problemas dos países onde eclodiram as revoltas eram muito graves e que a história pode surpreender-nos. Foi o que aconteceu. Inicialmente, a chama da revolta nasceu com moderação.
Parecia que o ditador tunisiano, como em outras vezes, domaria mais este levante (que, aliás, nunca foram muito grandes em seu país). Como se sabe, as forças repressivas perderam o controle da situação e as ruas foram tomadas de assalto. Estas só se acalmaram quando Ben Ali e sua gananciosa esposa passaram a estar fora do poder e do país. No entanto, estes carregaram o que puderam roubar em seus últimos dias de fausto, opressão e corrupção.
O caso tunisiano foi a primeira carta a cair, inspirando vizinhos que têm realidades similares, apesar de diferenças importantes. O caso do Egito é bem mais complexo, pois é mais rico, mais populoso e cheio de diferenças socioculturais internas. Mesmo assim, com o impressionante esforço da população, que enfrentou armas com pedras, o velho ditador foi derrubado. Faltam, no entanto, acertar o problema da sua permanência no país e da insistência dos seus ex-colaboradores a ficar no governo depois de mais de três décadas de mamata.
Sucedeu-se o caso de Bahrein, pequeno principado que abriga a frota naval americana estacionada na região e pronta para atacar a quem decidir. Neste país, o Estado usou de extrema força logo no início das revoltas. Quase ao mesmo tempo, instalou-se uma rebelião na Líbia, de modo surpreendente. Parece que neste pequeno país, com mais de mil mortes até agora, segundo as fontes disponíveis, o genocídio será campeão. O ditador Gadafi não aceita cair e até a aviação está sendo usada contra a população civil, que se manifesta contra o seu governo nas maiores cidades do país.
Por meio das reivindicações da população rebelada, é possível perceber quais os problemas que eles enfrentam, em todos os casos. Em primeiro lugar, a ilegitimidade do poder político. Os habitantes desses países foram forçados a aceitar que essas pessoas os governassem, os roubassem e os obrigassem a viver de um modo que interessassem a uma minoria. Os que não eram reis de fato os imitavam, seguindo a tradição oriental de direito familiar eterno. Os que já eram soberanos mantinham e ainda mantêm hábitos milenares. As maiorias querem alguma coisa próxima a uma democracia direta e estão dispostas a morrer por isso. Em países com profundas contradições sociais, deve surpreender bastante a descoberta de tais níveis de corrupção, feita de modo pouco cuidadoso.
O movimento popular não deseja que isto seja mantido e pede a sua imediata supressão, assim como uma maior divisão de renda. Não se trata de um movimento de inspiração socialista, mas de socorro aos mais pobres, desempregados, mal-pagos e mais uma infinidade de problemas que os pobres bem conhecem. Deseja-se justiça social básica. Estes movimentos também não vêm se caracterizando por ser claramente anti-imperialistas.
Não se viu bandeiras norte-americanas ser queimadas nas ruas, nem ataques a política externa do gigante do Norte, mesmo havendo razões para isso. Todavia, os populares preferiram atacar os alvos internos de seus problemas, desnorteando a política dos EUA. Trata-se de movimentos espontâneos, não havendo nenhum partido político que os fomentem. Eles vêm se organizando na instantaneidade, apoiando-se em estruturas organizativas pré-existentes.
As religiões existentes nesses países não atrapalharam nem tentaram dirigir absolutamente as rebeliões. Entretanto, viu-se a unidade entre política e religião a favor dos interesses populares. Na famosa praça Tahrir, agora símbolo universal da liberdade dos povos escolherem seus próprios caminhos, marcharam juntas cristãos e muçulmanos. Estes incidentes, entretanto, trazem novas lições sobre as relações políticas internas de qualquer país. Alertam também para que os possíveis interesses externos podem fazer água ao concordarem com situações iníquas, só porque seus responsáveis lhes dão passe-livre. Um belo dia, o efeito da manipulação pode estancar e a coragem, recuperada do nada. Um mundo melhor será sempre mais justo, com liberdade, autodeterminação e justiça social.
(*)Luís Carlos Lopes é professor e escritor.
(Transcrito do site http://www.cartamaior.com.br/)
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