Laurindo Lalo Leal Filho(*)
A cobertura da situação política no norte da África revela a precariedade informativa produzida pela mídia tradicional no Brasil. A queda do ditador da Tunísia e as primeiras manifestações populares no Egito foram tratadas por parte considerável desses meios, especialmente pela televisão, como se fossem raios em céu azul.
Quando as manifestações explodiram nas ruas do Cairo, em 25 de janeiro, ninguém estava preparado para cobri-las de forma aprofundada e abrangente. O Jornal Nacional deu uma nota coberta (com imagens das agências internacionais de notícias) de exatos 29 segundos.
Nessa data já fazia mais de um mês que um jovem tunisiano se imolara dando início à revolta, ampliada depois para outros países da região. No Egito, no dia 17 de janeiro, um homem de cerca de 50 anos colocou fogo nas roupas em frente à Assembléia do Povo. E no dia 18 ocorreram atos semelhantes em Alexandria e outra vez no Cairo.
Nada foi suficiente para disparar o alerta nas redações brasileiras. A maioria segue a pauta matinal ditada pelo G1, o portal de notícias da Globo, generalizando dessa forma a indolência da cobertura.
Nos dias seguintes, com a intensificação do movimento popular no Egito, a cobertura passou a ser mais constante. O que não quer dizer que tenha sido explicativa. E aí está o grande problema dos nossos noticiários televisivos.
Na aparência são dinâmicos e eficientes. Equipes de reportagem vão para o local dos fatos, repórteres se misturam à multidão e dialogam com os manifestantes, transmissões são feitas muitas vezes em tempo real dando ao telespectador a sensação de estar bem informado.
Mas na essência as coisas são diferentes. Informação não é sinônimo de comunicação e muito menos de contextualização. O que a TV faz é in-formar, ou seja colocar na forma os acontecimentos, separando cada um deles segundo os seus interesses, embalando-os em papel celofane vistoso e entregando-os de bandeja ao telespectador. Em casa, diante da TV, ele é até capaz de agradecer pelo brilho da informação recebida.
Comunicação é outra coisa. É tornar um fato comum a todos a partir das várias visões que ele pode proporcionar. Só assim se tornará concreto, síntese de múltiplas determinações, como já assinalava um filósofo do século retrasado. Mas para tanto só a informação não basta. É preciso pesquisa, interpretação, método de análise e, mais do que tudo, debate.
O Brasil talvez seja a única grande democracia do mundo onde não existem debates políticos em redes nacionais de TV. O caso do Egito explica. Num debate plural certas informações não selecionadas pelos telejornais e escondidas do telespectador viriam à tona, tornar-se-iam comuns a todos e, aí sim, estaria sendo exercida a comunicação real. É o que temem os donos da mídia.
Se os debates fossem constantes, há muito tempo muito mais gente saberia que o Egito é controlado por uma ditadura bancada pelos Estados Unidos. Como outras da região. E, por certo, surgiriam vozes mostrando como determinados meios de comunicação brasileiros atuam como meros reprodutores da ideologia veiculada pelos grandes conglomerados internacionais de informação.
Lembram sempre da revolução iraniana na tentativa de associar a Irmandade Muçulmana egípcia aos aiatolás. Espalhando com isso a ideia de que o controle do país, mesmo sem Mubarak, deve permanecer nas mãos dos grupos que sempre o sustentaram. É o fato colocado na forma, in-formado.
Ficamos sem alternativa. Sem a palavra daqueles que apontam para o fim do regime e não apenas da atual ditadura. Vozes que ecoam, por exemplo, pela Al Jazira e Telesur mas que aqui não chegam.
E nem mesmo a minoria privilegiada brasileira (cerca de 10% da população), assinante de canais pagos de TV, pode vê-los. As operadoras entopem os assinantes de vendas e religião e, num ato nítido de censura, excluem Al Jazira e Telesur.
Com o passar dos dias o espaço na TV para crise no norte da África vai diminuindo. Logo chegará aos 29 segundos iniciais para depois sumir. Até um fato novo surpreender outra vez as redações.
Assim seguimos bem informados mas sem sabermos o que realmente ocorre, sem comunicação.
Quando as manifestações explodiram nas ruas do Cairo, em 25 de janeiro, ninguém estava preparado para cobri-las de forma aprofundada e abrangente. O Jornal Nacional deu uma nota coberta (com imagens das agências internacionais de notícias) de exatos 29 segundos.
Nessa data já fazia mais de um mês que um jovem tunisiano se imolara dando início à revolta, ampliada depois para outros países da região. No Egito, no dia 17 de janeiro, um homem de cerca de 50 anos colocou fogo nas roupas em frente à Assembléia do Povo. E no dia 18 ocorreram atos semelhantes em Alexandria e outra vez no Cairo.
Nada foi suficiente para disparar o alerta nas redações brasileiras. A maioria segue a pauta matinal ditada pelo G1, o portal de notícias da Globo, generalizando dessa forma a indolência da cobertura.
Nos dias seguintes, com a intensificação do movimento popular no Egito, a cobertura passou a ser mais constante. O que não quer dizer que tenha sido explicativa. E aí está o grande problema dos nossos noticiários televisivos.
Na aparência são dinâmicos e eficientes. Equipes de reportagem vão para o local dos fatos, repórteres se misturam à multidão e dialogam com os manifestantes, transmissões são feitas muitas vezes em tempo real dando ao telespectador a sensação de estar bem informado.
Mas na essência as coisas são diferentes. Informação não é sinônimo de comunicação e muito menos de contextualização. O que a TV faz é in-formar, ou seja colocar na forma os acontecimentos, separando cada um deles segundo os seus interesses, embalando-os em papel celofane vistoso e entregando-os de bandeja ao telespectador. Em casa, diante da TV, ele é até capaz de agradecer pelo brilho da informação recebida.
Comunicação é outra coisa. É tornar um fato comum a todos a partir das várias visões que ele pode proporcionar. Só assim se tornará concreto, síntese de múltiplas determinações, como já assinalava um filósofo do século retrasado. Mas para tanto só a informação não basta. É preciso pesquisa, interpretação, método de análise e, mais do que tudo, debate.
O Brasil talvez seja a única grande democracia do mundo onde não existem debates políticos em redes nacionais de TV. O caso do Egito explica. Num debate plural certas informações não selecionadas pelos telejornais e escondidas do telespectador viriam à tona, tornar-se-iam comuns a todos e, aí sim, estaria sendo exercida a comunicação real. É o que temem os donos da mídia.
Se os debates fossem constantes, há muito tempo muito mais gente saberia que o Egito é controlado por uma ditadura bancada pelos Estados Unidos. Como outras da região. E, por certo, surgiriam vozes mostrando como determinados meios de comunicação brasileiros atuam como meros reprodutores da ideologia veiculada pelos grandes conglomerados internacionais de informação.
Lembram sempre da revolução iraniana na tentativa de associar a Irmandade Muçulmana egípcia aos aiatolás. Espalhando com isso a ideia de que o controle do país, mesmo sem Mubarak, deve permanecer nas mãos dos grupos que sempre o sustentaram. É o fato colocado na forma, in-formado.
Ficamos sem alternativa. Sem a palavra daqueles que apontam para o fim do regime e não apenas da atual ditadura. Vozes que ecoam, por exemplo, pela Al Jazira e Telesur mas que aqui não chegam.
E nem mesmo a minoria privilegiada brasileira (cerca de 10% da população), assinante de canais pagos de TV, pode vê-los. As operadoras entopem os assinantes de vendas e religião e, num ato nítido de censura, excluem Al Jazira e Telesur.
Com o passar dos dias o espaço na TV para crise no norte da África vai diminuindo. Logo chegará aos 29 segundos iniciais para depois sumir. Até um fato novo surpreender outra vez as redações.
Assim seguimos bem informados mas sem sabermos o que realmente ocorre, sem comunicação.
(*)Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.
(Transcrito do site http://www.cartamaior.com.br/ )
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