21 novembro 2014

ENTENDI MAS NÃO COMPREENDI

Alguma coisa está errada na procura pelo
ministro da Fazenda


Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo


Trabuco, do Bradesco
Trabuco, do Bradesco
Alguma coisa está muito errada num país quando é ‘preciso’ indicar alguém do mercado financeiro para o Ministério da Fazenda.
Foi o que disse, num artigo para a Folha, com sabedoria ferina, o ex-ministro Delfim Netto.
Agora: e quando o candidato preferencial do governo ao cargo é presidente de um banco que, poucos dias atrás, estava no centro de uma acusação fundamentada de evasão fiscal via paraíso fiscal?
Sei que o PT adotou o pragmatismo como razão de vida, mas há momentos em que nem o pragmatismo explica o inexplicável.
No último trabalho de Fernando Rodrigues na Folha antes de ser demitido, ele mostrou que o Bradesco – bem como o Itaú – usou Luxemburgo para deixar de pagar 200 milhões de reais em impostos.
Vamos ao contexto.
No mundo inteiro, coibir manobras fiscais – o codinome para sonegação – é uma das maiores prioridades dos chefes de governo.
No encontro do G 20, este foi um dos pontos sublinhados pelos presentes, entre eles Dilma.
As economias das nações são brutalmente golpeadas quando as maiores empresas deixam de pagar os impostos devidos.
O ganho é apenas dos acionistas. A sociedade é altamente prejudicada.
As contas dos países, com a sonegação em alta escala, ficam perigosamente desequilibradas, e daí decorrem sérios problemas econômicos.
O Brasil vive este desequilíbrio, aliás, como prova uma controvertida tentativa do governo de fazer uma gambiarra na questão do superávit.
O Bradesco foi flagrado num caso de evasão. E mesmo assim seu presidente é cortejado para ser ministro da Fazenda.
Que mensagem é passada para a sociedade? Mais: para as corporações que, como o Bradesco, se valem de paraísos fiscais? Mais ainda: para as empresas que não usam este tipo de artifício?
Na Suécia, a Ikea foi citada na mesma lista de usuários de truques fiscais. O governo imediatamente manifestou sua repulsa ao que a Ikea fez e anunciou medidas para acabar com a festa.
No Brasil, autoridade nenhuma falou nada sobre o caso que envolve Bradesco e Itaú. Nem a Receita Federal emitiu ao menos um sussurro que mostrasse que ela ao menos tomou conhecimento e está investigando.
E eis que o Bradesco está no noticiário – mas cortejado para ceder seu presidente ao cargo mais importante da equipe de Dilma.
Num quadro clássico de um programa antigo de humor, alguém fazia uma pergunta aguda. A resposta vinha cheia de malabarismos verbais.
O homem que respondeu dizia, no final: “Entendeu?”
O autor da pergunta devolvia: “Entendi, mas não compreendi.”
Quanto a mim, como muitos brasileiros, entendi mas não compreendi o convite ao presidente do Bradesco.
 
 
 

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