21 novembro 2014

A RAPOSA E O GALINHEIRO

Touching Earth
Pairando no Universo, o mercado


Homem de "mercado"






por Roberto Requião*
 
 
Há certamente alguma coisa muito errada num país em que o ministro da Fazenda “precisa” ser escolhido pelo setor financeiro.
 
O capitalismo “financeiro” não é, e é incrível que pretenda ser, um fim para si mesmo.
 
Sua arrogância é tal e tamanha que o leva a esquecer porque existe.
 
Um dia — antes que se apropriasse do setor real da economia e o de poluir com seu excesso de imaginação e derivativos –, ele foi fundamental para promover as inovações e os investimentos que estimularam o crescimento econômico e a prosperidade geral.
 
Por duas vezes no mundo, nos anos 20 e nos 80 do século passado, o fundamentalismo monetário, tornou artigo de fé o “mercado perfeito que se auto-regulava”.
 
E colhemos duas crises mundiais pelas mesmas causas: a sua profunda imoralidade e o delírio do risco alavancado quando desregulado.
 
Agora chega!
 
Primeiro, porque não há controle eficaz quando o agente da ação acumula a função de ser seu próprio fiscal.
Todos combatem com razão, o aparelhamento das agências reguladoras feito pelo PT com seus “companheiros” de passeata.
 
Todos defendem a escolha de agentes profissionalmente “competentes, diligentes e independentes”.
 
Ninguém defende que os membros da Anatel “devem” ser indicados pelas empresas de telecomunicações!
 
Já devíamos ter aprendido que a tentativa de “captura do fiscal pelo fiscalizado” é problema universal ligado à natureza humana e deve ser prevenido.
 
Segundo, porque devemos aceitar como um axioma que um “homem do mercado” conhece necessariamente o funcionamento do mercado e a “última” teoria monetária (supondo que ela exista e está bem consolidada)?
 
Seguramente ele sabe menos sobre as implicações macro e microeconômicas das medidas monetárias do que, por exemplo, um inteligente e honesto profissional que vem durante anos tentando encontrar relações estáveis entre as manobras da taxa de juro real e seus efeitos sobre a taxa de câmbio real.
 
Ou entre os condicionamentos que a “dominação fiscal”, o excesso de demanda pública e a política salarial distributivista, impõe sobre a potência da taxa de juro real de longo prazo.
 
Pelo contrário, o mais provável é que a miopia do “homem do mercado” o leve a não ver nada além das minúsculas “opões” especulativas abertas por sua própria ação, o que, do ponto de vista macroeconômico, é de uma pobreza lamentável.
 
Tome seu tempo, senhora presidenta. Escolha livremente, com cuidado e segurança, na administração pública, na academia ou mesmo no mercado, o substituto do ilustre ministro Guido Mantega, que pagou um alto preço por sua fidelidade ao partido e ao seu governo.
 
 
 
*É senador da República e escreveu a partir de artigo de Delfim Netto publicado aqui.



(Extraído do VIOMUNDO, de Luiz Carlos Azenha)




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