16 julho 2014

ENTRE O JORNALISMO E A PANFLETAGEM

Sobre o artigo em que Mino Carta declara
apoio a Dilma


Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo



Nada a objetar
Nada a objetar
Causou um certo alarido dias atrás, na comunidade jornalística, um texto de Mino Carta em que ele declarava apoio a Dilma.
Com sua habitual elegância estilística, Mino ponderou que fatalmente as duas candidaturas oposicionistas mais fortes atrairão o que existe de mais reacionário no país.
Mino falou, especificamente, dos barões da imprensa. Mas é claro que a lista dos interessados em que o relógio volte, e com ele antigos privilégios e velhas mamatas, vai muito além.
O que as pessoas se perguntavam é se Mino não estaria infringindo alguma lei sagrada do jornalismo.
Não, não estava.
Mino estava apenas sendo honesto e transparente. E seguia uma prática comum no jornalismo americano: declarar, em editorial, apoio a algum candidato.
Quem conhece Mino Carta sabe que não existe risco nenhum de o noticiário da Carta Capital sofrer qualquer tipo de adulteração ou manipulação por conta da escolha.
Isso quer dizer o seguinte: a Carta Capital não vai inventar fatos que favoreçam Dilma e prejudiquem Aécio ou Eduardo Campos.
É simplesmente zero, igualmente, a possibilidade de que uma pesquisa encomendada pela revista seja maquiada para promover Dilma.
O apoio não funciona como nada além de uma recomendação aos leitores. É como se a revista dissesse: “Caso interesse a vocês, esta é minha posição. Se não interessar, um abraço.”
É uma atitude adulta, e que contrasta com a falsa neutralidade presente no restante da mídia, que tenta vender aos leitores uma mercadoria falsa: a isenção. A Folha chega às vezes a publicar a centimetragem dedicada a cada candidato, como se espaço – e não tom – provasse equidistância.
Compare a Carta Capital com a Veja na postura diante dos candidatos. Na mesma semana do artigo de Mino, a  Veja publicou uma reportagem na seção de política que dizia o seguinte sobre Aécio: “Conhecê-lo é amá-lo.”
É mesmo?
Segundo a Veja, sim. A suposta prova disso estaria na baixa rejeição de Aécio. Claro que para Dilma o parecer era o oposto: conhecê-la, para a Veja, é não amá-la.
A Veja conhece e ama Aécio faz tempo.
Nas eleições de 2010, entre o primeiro e o segundo turno, quando era uma barbada a vitória de Dilma sobre Serra, a revista deu uma capa com Aécio.
Nela, avisava que Aécio decidira se engajar definitivamente na campanha de Serra. Até ali, desgostoso depois de perder a indicação no PSDB, ele pouco fizera por Serra em Minas.
Sensacionalmente, a revista informava seu leitor:  a história mostrava que candidato que ganhasse em Minas ganhava a presidência.
Isto queria dizer, segundo a lógica da Veja, que se Aécio fizesse Serra ter mais votos entre os mineiros que Dilma, a presidência seria dele.
Deu no que deu.
Como prática jornalística, a da Carta Capital é mais íntegra. Se, repito, a Carta Capital apenas faz uma recomendação, e logo retorna ao noticiário como ele é, a Veja tenta induzir o seu leitor com argumentos nem sempre conectados com a realidade.
Uma revista expõe sua opinião e, a despeito dela, preserva seu jornalismo. A outra não declara abertamente sua preferência, mas ela existe e é tão forte que transforma o jornalismo em panfletagem disfarçada.
A atitude da Carta Capital não apenas é defensável como louvável, pela honestidade de intenção envolvida nela.
A da Veja — e  seu modelo é seguido em diferentes medidas por toda a grande mídia – é, numa palavra, indefensável.
 
 
 

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