16 abril 2014

ONDE ESTÁ A AFINIDADE


Marina aceita a vice de Campos e põe
suas desavenças no armário


Antonio Lassance, na Agência Carta Maior
Arquivo


Marina Silva demorou mais de seis meses para se tornar vice de Campos. A longa espera foi resultado de indefinições e desavenças nada triviais.

Ficou claro o quanto as diferenças entre ambos são grandes. Até aí, tudo bem. Diferenças fazem parte da política.

Mas não custa nada extrapolar um pouco e analisar Marina como uma neoeleitora convertida à candidatura presidencial de Eduardo Campos. Se o eleitor mediano, aquele que só decide em quem votar de última hora, levar o mesmo tempo que Marina levou, Campos estará perdido. Estamos a menos de seis meses da eleição.

Na propaganda eleitoral, o PSB jogava, até dias atrás, com uma deliberada ambiguidade. Marina e Campos apareciam lado a lado como se estivessem num mesmo patamar, sem hierarquia. Convenhamos, nem a série fictícia Batman e Robin funcionava sem um mínimo de hierarquia.

Para uma campanha presidencial, e mais ainda para um eventual governo, isso é nitroglicerina pura. Campos e Marina vão dizer que tudo é muito democrático. Pode ser, mas que tem cara de confusão, lá isso tem.

Uma candidatura pode e deve ter mil e uma pessoas pensando, debatendo, divergindo. Mas uma candidatura presidencial não pode ter uma cabeça de Jano, em que cada qual não só pensa como fala e decide coisas diferentes. Isso está longe de ser democracia; é confusão, pura e simplesmente.

A combinação Campos-Marina traz os ingredientes de um princípio de incêndio a cada semana, a cada questão, a cada decisão a ser tomada. E tome mais seis meses de espera.

Mesmo com a definição, feita nesta segunda-feira (14), de que Campos é o candidato a presidente, e Marina, a vice, as chances da confusão continuar são grandes.  

Se, de um lado, Campos e Marina continuam sendo políticos muito diferentes, por outro, o marketing eleitoral da dupla se alimenta dessa providencial ambiguidade, eterna enquanto dure, ou seja, até 5 de outubro.

Campos precisa difundir a ilusão de afinidade entre ambos para colar um pouco mais em Marina. Com isso, espera ganhar alguns pontos nas pesquisas. Marina tem que fingir que concorda inclusive daquilo que discorda.

A vice de Campos vai ter que segurar sua onda e a de sua Rede. Terá que se conformar em guardar boa parte de suas desavenças no armário. Seu antipetismo vai ter que funcionar como anestésico, do tipo “dos males, o menor”.

Campos rompeu com o PT há menos de um ano, calculando cada segundo de seu afastamento para emendá-lo ao calendário eleitoral que exigia novas alianças, realinhamentos estaduais, desincompatibilizações, recomposição de governos.

O rompimento de Marina antecede o de Campos em uma campanha eleitoral - a de 2010. É mais antigo e mais curtido - não no estilo facebookiano, e sim no do velho couro esticado e raspado na faca.

Em seu último programa eleitoral de rádio e TV, Campos falou bem do governo do presidente Lula. Marina acenou com a cabeça, mais como se estivesse passando de carro sobre um quebra-molas do que propriamente concordando com algo - todos sabem que Marina discorda do que Campos disse sobre Lula.

A birra de Marina estava lá, trancada, batendo delicadamente na porta, querendo sair de dentro do armário. Se Campos não subir nas pesquisas, e rápido, que se prepare para  ouvir pancadas no lugar do  toc toc. E cuide para que o guarda-roupas não venha abaixo, em plena campanha.


(*) Antonio Lassance é cientista político.




Créditos da foto: Arquivo

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