13 abril 2014

DESAFIOS POLÍTICOS

Uma parábola rooseveltiana: adivinha
para quem


Antônio Lassance, na Agência Carta Maior



 Olhemos a situação do país. A sensação é a de que o mundo vai acabar. Surge uma crise após a outra. A economia vai mal e não consegue reagir, por mais que o governo já tenha tentado de tudo.

O comando do país está nas mãos de alguém que esbanja otimismo, que pede a todos que tenham confiança, mas apresenta resultados pífios. Mesmo seus aliados estão insatisfeitos e muitos já viraram as costas.

Ao que parece, a pessoa a quem milhões de eleitores dedicaram seu voto, confiando em sua capacidade administrativa e em sua fama de competente, não parece estar respondendo à altura. Tem um estilo ultracentralizador e se prende excessivamente a detalhes pouco importantes.

Estamos falando do presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Delano Roosevelt. Até o início da década de 1940, o país ainda não havia se recuperado da grande depressão do início dos anos 1930. Ao contrário, teve uma recaída que a oposição chamou de “a recessão de Roosevelt”.

O presidente tinha um estilo rígido de gestão baseada em comando e controle, além de gastar seu tempo cuidando de tudo nos mínimos detalhes. A construção do Pentágono só começou a sair do papel depois de Roosevelt ter discutido o projeto e feito inúmeras recomendações, como se arquiteto fosse. Dizia que o prédio era grande demais, se transformaria em um alvo fácil para ataques, justo onde funcionaria o quartel general das operações de guerra. Reclamava até que tinha muitas janelas.

Roosevelt é hoje considerado um dos grandes presidentes americanos, junto com Lincoln. Foi o único a ter sido eleito três vezes. Ganhou a guerra. Tirou o país da recessão. Muitos cogitam até que, se não tivesse morrido em 1945, daria um rumo à política externa que livraria o mundo da Guerra Fria. Difícil saber. 

Mas uma coisa é certa: não foi como arquiteto, nem cuidando de detalhes que Roosevelt se tornou “grande”. Também não foi por seus resultados, muitos deles tardios, que ganhou aprovação.

Rossevelt tinha apoio popular e venceu seus adversários políticos deixando claro seu projeto de nação, enfrentando o sistema financeiro que havia levado o país à bancarrota e à depressão, criando um sistema de proteção social amplo e, sobretudo, apontando para o futuro.

Em 1944, já debilitado fisicamente, mas ainda um gigante na política, Roosevelt trouxe a ideia de uma nova carta de direitos, voltada a orientar a economia do país para que cumprisse objetivos de igualdade social.

Seria uma “carta de direitos econômicos” para garantir emprego, segurança alimentar, habitação, vestuário, lazer, assistência média, previdência social, educação - coisas com as quais todos supostamente deveriam concordar.

Em meio a isso tudo, uma heresia: tornar a economia livre da competição injusta e dos monopólios. Não uma economia antimercado, mas um mercado repleto de pequenos empreendedores, mais do que de empresas mamutes.

Roosevelt estava reinventando seu terceiro mandato. É isso que grandes presidentes fazem. Criam novidades que mobilizam o apoio popular, surpreendem os adversários com uma agenda renovada de mudanças, desafiam o mercado a se comportar como mercado, e não como cartel ou monopólio.

Esta é uma história que acabou de completar 70 anos. Permanece incrivelmente atual, não só para o país de Roosevelt. Serve para o Brasil também, a quem interessar possa. Para bom entendedor, meia parábola basta para saber de quem estamos falando.


(*) Antonio Lassance é cientista político.

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