Luís Nassif
Agora o quadro começa a clarear e mostra que o Ministro da Fazenda Guido Mantega está prestes a fazer um gol de placa, daquelas mudanças de paradigma que ocorrem de dez em dez anos, devido às inúmeras resistências que provoca.
Desde o início da era chamada neoliberal, especialmente após o Plano Real, a norma tácita do Banco Central era a de jamais surpreender o investidor externo, assegurando total previsibilidade nas ações cambiais. Acabou-se com a interferência do BC no mercado de câmbio, o que permitia segurar as cotações apenas retirando do investidor a segurança absoluta.
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Por previsibilidade não se entenda um dólar estável que permitisse ao exportador planejar suas ações. A previsibilidade era de apreciação permanente do real e de possibilidade dos chamados ganhos de arbitragem, sem riscos.
O investidor tomava crédito em yen, ou dólar, internava no Brasil, recebia reais, aplicava em taxas de juros altíssimas, tendo a garantia de, na saída, encontrar a cotação mais favorável ainda do que na entrada. Ganhava com os juros e ganhava com a apreciação cambial.
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A cada ano o investidor ia ganhando com essa dupla combinação de juros e câmbio. Periodicamente, eventos internos ou externos provocavam desvalorizações do real. No momento seguinte, o BC voltava a subir os juros e os capitais retornavam para mais uma rodada de apreciação e de ganhos.
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Esse jogo pernicioso foi mantido nos oito anos da era Henrique Meirelles. Sem conseguir influencia a política monetária, restou à Fazenda propor a acumulação de reservas cambiais potentes, para amenizar o baque na rodada seguinte de desvalorização.
Mas criou-se uma armadilha. Sentindo-se mais garantidos com essa rede de segurança, os investidores passaram a ser mais ousados ainda na aposta na apreciação do real.
Qualquer tentativa de recorrer a outras ferramentas monetárias era descartada pela combinação mercado-cobertura financeira. Ora se dizia ser impossível controlar as cotações, porque definidas nos mercados futuros. E só se poderia combater expectativas de alta da inflação com juros altos e ajuste fiscal.
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Agora o jogo mudou, em uma tabelinha que lembrou os grandes momentos do Maracanã.
Primeiro, assumiu o BC um economista de sólida formação monetária e sem histórico de cumplicidade com o mercado ou com a heterodoxia.
Enfatizou a permanência das ferramentas ortodoxas contra a inflação. Mas, ao mesmo tempo, passou a se valer de outras ferramentas – como prazos de financiamento, compulsórios – tirando o peso das costas exclusivas dos juros.
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Ontem, anunciou-se finalmente que o BC passará a operar no mercado – através do Fundo Soberano. Restaura-se a mesa de operações do BC que, nos tempos mais drásticos de escassez de divisas, assegurava o controle do câmbio. Na sexta-feira, o próprio Alexandre Tombini, presidente do BC, alertava o mercado para evitar aventuras com o câmbio.
O mercado reagiu com moderação, ainda esperando para ver.
Mas está ficando cada vez mais claro que desta vez o jogo será para valer.
*Matéria publicada no site do Luis Nassif
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