01 setembro 2015

AS MANIPULAÇÕES

A mulher de César não basta ser honesta... 


Empresa de São Paulo que forneceu faixas à campanha de Dilma, posta em nome de laranja, foi autorizada a funcionar pela Junta Comercial e pela Fazenda do Estado
O Jornal Nacional denunciou destacadamente que a campanha de Dilma adquiriu hum milhão de reais de faixas em uma empresa paulistana posta em nome de uma empregada doméstica, o que em direito chamamos laranja, ou sócio de palha. Foi apresentada uma entrevista com a infeliz, que diz nada ter recebido e viver miseravelmente.
A notícia era requentada, mostrada como tendo origem em denúncia de Gilmar Mendes, que assumiu a liderança pelo impeachment no país. Se o STF tiver que julgar a deposição da Presidente, esta poderá alegar sua suspeição, tal a intensidade de sua atividade político-partidária, sempre denunciando tudo que pode levar a detonar um dos lados do espectro político.
O mercado de faixas, como muitos outros de pequenas empresas, sazonal e frágil, só funciona intensamente em eleições. Criam-se então empresas de fundo de quintal, total ou parcialmente informais. São a elas que TODOS os políticos que recorrem.
A procurada pela campanha de Dilma tinha o agravante dos verdadeiros donos, um casal, terem outras empresas em seus nomes. Como estas deviam ter problemas jurídicos, optaram por montar a fajuta, em nome da doméstica, talvez para conseguir ludibriar o fisco.
Alguém quer conferir se a informalidade é comum no setor? É só pedir para o responsável pela campanha de Aécio dar o nome das empresas onde comprou faixas pelo país; faça o mesmo com os deputados eleitos, qualquer um deles, que comprou faixas, da situação ou oposição. Depois vá ver se essas empresas registraram os funcionários, recolheram INSS, pagaram o ICMS, se mantiveram-se ativas.
Interessante é que o registro da empresa fraudulenta se deu em São Paulo e a única desonestidade existente ma notícia foi o uso fraudulento do nome da doméstica. Para funcionar a empresa também precisava da emissão de talões de notas fiscais pela Secretaria da Fazenda. Ambas são órgãos do governo estadual, mas o Jornal Nacional achou irrelevante saber da origem e do verdadeiro crime mostrado na notícia (o que não significa que se deveria apontar o governador Gerado Alckmin como culpado, o que seria injustiça também).
Será que a campanha de Dilma, ou como é mais certo, o responsável em São Paulo por compra de faixas, sabia de tudo isso? Comprou por preços tão baixo que deveria desconfiar do vendedor? É algo para ser investigado, mas passa a interessar bem menos, pois o julgamento principal, a punição já se deu, a consequência política foi obtida com a divulgação da notícia. Todo o resto passa a ser perfumaria, não merecerá espaço nobre no jornalismo.
Nem se pode dizer que o Jornal Nacional estava errado, pois a campanha de Dilma de fato comprou um milhão de reais em faixas de uma empresa posta em nome de uma empregada doméstica, que não recebeu um tostão. Foi mais um golpe brilhante para manter a Presidente na lona, reduzir sua popularidade, mais uma vez ficou provado que Dilma tem que sofrer impeachment. Até a pobre doméstica ela lesa, não perdoa.
Se mentores da campanha de Dilma conferiram se empresa funcionava  legalmente (registro na Junta, tinha notas fiscais) onde está o crime denunciado como se fosse o maior escândalo? E podem até ter tido o capricho de ter examinado o distribuidor cível e fiscal, para ver se era correta a ponto de não ter ações fiscais e civis contra ela (o que ninguém faz ou é obrigado a fazer). Não encontrariam nada que a desabonasse. 
No outro dia, sábado, mais uma notícia requentada:o empréstimo de recursos a Cuba, via BNDES, para construir um porto, noticiada também como escândalo pela Revista Época (a notícia no Jornal Nacional, vende mais revista, que por sua vez é da mesma organização). O prazo seria mais longo que o normal, os juros mais facilitados, Lula teria interferido para facilitar a negociação e a construção pela Odebrecht. Tudo é apresentado como se fosse algo anormal, corrupção, fato que se tenta provar por desenhos de bico de pena escurecidos, a câmara focando uma folha de onde se destaca uma linha, técnicas enfim de apresentar uma notícia como negativa.
Uma das linhas de maior destaque apontava um dos crimes: Dilma é amiga dos cubanos...que teria sido dita por Lula. O que de fato deveria interessar, não foi ventilado: o prazo e os juros são ilegais? O negócio foi bom ou ruim para o Brasil? Quanto valerá agora esse porto, com os EUA entrando, atrasado em relação ao Brasil, na corrida para investir e negociar com Cuba? Qual o problema de um ex presidente brasileiro fazer força para que uma empresa brasileira seja escolhida para fazer  uma obra financiada por banco público brasileiro? Lula teria feito alguma patifaria não revelada? No ar, quando muito, levanta-se e deixa no ar a a suspeita.
Se alguém quiser saber de um dos estimuladores do ódio aos petistas na sociedade, eis aí um bom exemplo a ser considerado. É dose todo dia.
Voltando ao caso da compra das faixas em empresa fajuta, exigir que o proprietário se apresentasse com documentos para conferência  e que provassem a origem do lícita do capital da empresa, é um exagero, mas serve de lição para as próximas campanhas do PT ou de outros partidos progressistas se tomarem seu lugar no futuro : não se é obrigado juridicamente a saber se a compra de campanha ou a doação está sendo efetuada em uma empresa montada fraudulentamente, mas para essas forças é obrigação política ter esse cuidado. Corre-se ainda o risco do politicamente equivocado se transformar por efeito de engenharias processuais e campanhas de mídia, em ilícito jurídico, que gerará processo, que podem até dar em nada, mas politicamente terá resultados desastrosos. Há dois mil anos atrás já se ensinava que a mulher de Cesar não basta ser honesta, tem que parecer honesta.
Percival Maricato, no Jornal GGN



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