31 janeiro 2015

A GRANDE IMPRENSA SÓ PENSA NAQUILO

O DNA da História


Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa



Os jornais de sexta-feira (30/1) destacam, em suas primeiras páginas, o déficit das contas públicas que marca o encerramento do ano fiscal de 2014, a decisão da Petrobras de reduzir o ritmo de obras e a perspectiva de suspender o pagamento de dividendos aos seus acionistas, além de referências à disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e, claro, novos registros sobre a crise de abastecimento de água na região Sudeste. O desemprego caiu para 4,8% no ano passado, mas apenas a Folha de S.Paulo cita esse fato na primeira página.
O conjunto do noticiário pode ser visto a olho nu, ou sob as lentes da mídia, que supostamente mostram as frações mais relevantes da realidade. Houve um tempo, no jornal O Estado de S.Paulo, que se aplicava na produção da primeira página o conceito batizado com o imodesto nome de “DNA da História”: tratava-se de uma orientação geral para que os editores indicassem para os destaques, preferencialmente, as notícias que tivessem mais potencial para representar a contemporaneidade.
Mas esse é um tempo passado. Hoje em dia, a observação da imprensa exige que se aplique sobre seus conteúdos a lente da interpretação de motivos. No caso do noticiário econômico, por exemplo, essa lente revela o efeito dissimulador sobre o significado de fatos aparentemente contraditórios convivendo numa mesma página: num texto, o Brasil afunda em uma crise grave; em outros, o desemprego continua caindo e o investimento direto de capital estrangeiro segue em alta.
Há detalhes que poderiam ajudar o leitor a entender as entrelinhas que serpenteiam abaixo dos títulos. Por exemplo, o rendimento do trabalho subiu 33,1% entre 2003 e 2014 e houve uma mudança no eixo do desenvolvimento, sob o ponto de vista dos salários: pelo quinto ano consecutivo, constata-se que os trabalhadores da região metropolitana do Rio de Janeiro ganham mais do que seus colegas da capital paulista. Paralelamente, pode-se observar que o desempenho da indústria paulista continuou em queda, no período escolhido pela imprensa para mensurar os dados econômicos.
Dois olhares
O noticiário significa pouco se o leitor não colocar os indicadores em perspectiva, ou seja, numa economia globalizada, cada aspecto da realidade local precisa ser confrontado com a realidade planetária. Por exemplo, se há um ajuste na política econômica em função do déficit das contas públicas, convém avaliar os potenciais efeitos colaterais sobre a saúde do organismo ao qual o Estado deve servir.
Não são poucos os casos em que um remédio para o coração provoca a falência múltipla de órgãos. Essa foi a constatação feita nesta semana, por exemplo, pelos eleitores gregos.
A mídia genérica que alcança a maioria do público leitor tem um viés catastrofista em relação ao Brasil, mas não consegue distorcer tudo. Por exemplo, num canto de página da edição de sexta-feira (30/1) do jornal O Estado de S.Paulo o indivíduo enxerga o título de três linhas em uma coluna: “Brasil fica em 5º como destino de investimentos”. Abre com uma visão positiva, mas em seguida desanda para o pessimismo.
Já no especialista Valor Econômico, a mesma notícia tem outra interpretação, mostrando que, num cenário internacional de retração, o Brasil subiu de 7º para 5º lugar entre os destinos de investimentos produtivos.
Quando um dos grandes diários de circulação nacional se vê obrigado a publicar uma notícia positiva, imediatamente se seguem os “poréns, contudos, todavias”. No caso do investimento estrangeiro direto, não dá para esconder o fato de que o Brasil subiu duas posições na disputa global por dinheiro aplicado em negócios – que é diferente do que vai para o mercado de ações. Também não se pode omitir, sob pena de sacrificar a credibilidade, que o Brasil superou todos os países europeus, segundo os dados da ONU.
Se colocada em destaque, a notícia abriria a possibilidade, por exemplo, de expor o modelo adotado pela Europa para combater os efeitos de longo prazo da crise financeira de 2008, em comparação com a escolha brasileira de estimular o mercado interno a partir de projetos sociais que resgataram milhões da pobreza e da política de valorização da renda do trabalho.
No texto de apenas quatro parágrafos, a notícia positiva só aparece no primeiro parágrafo e é soterrada pelos aspectos negativos. No entanto, o texto que foi distribuído pela ONU avalia o desempenho da América Latina, informando que o investimento estrangeiro caiu em praticamente todos os países da região, inclusive o México. No Brasil, aumentou 8%.
Também acontecem coisas boas. Mas a chamada grande imprensa só pensa naquilo.
 
 

VIDA PRIVADA DE PESSOAS PÚBLICAS

O sexo dos políticos e os conflitos
do jornalismo


Mário Magalhães, no Observatório da Imprensa



Com as eleições de 2016 no horizonte e o clima de campanha eleitoral permanente herdado dos confrontos de 2014, o jornalismo brasileiro terá de novo que calibrar seu comportamento acerca de controvérsia encarada de maneiras distintas mundo afora: quais os limites toleráveis na cobertura da vida privada de postulantes a funções públicas ou no exercício delas, mais propriamente a respeito de seus amores e sexualidades?
A abordagem consagrada pela imprensa no país costuma proteger os políticos da difusão de informações sobre seus relacionamentos não públicos.
Essa é a cultura nacional, e da minha parte está bem assim. Num exemplo, se determinada figura pública mantém outros namorados ou namoradas além do titular dos retratos palacianos, isso constitui assunto íntimo.
Reconheço, contudo, que são vigorosos os argumentos contrários, adotados em larga escala pelos meios de comunicação norte-americanos: se alguém se dispõe a participar da administração pública e por isso interfere no cotidiano dos cidadãos, precisa aceitar que seu dia a dia seja escrutinado publicamente. Teme-se também que relações afetivas secretas possam se tornar instrumento de chantagem contra o político e, portanto, ameaçar o interesse público.
A atitude jornalística mais nefasta, como confirmam os últimos meses de certo noticiário, é a insinuação, no estilo ordinário da imprensa amarela ou marrom. A fórmula da baixaria se condensa hoje na expressão maliciosa “homem de confiança”.
Se o jornalismo considera importante e legítimo expor vínculos amorosos de políticos, que os exponha. Mas cultivar a maledicência equivale à desqualificação mais vulgar do ofício informativo.
Nos Estados Unidos, com suas irrefreáveis carolice, hipocrisia e patrulhas da libido, quando um político é surpreendido com a regra três, mesmo em relações consensuais entre maiores de idade, a informação é veiculada, e a carreira, liquidada. Que o diga Bill Clinton.
Na França, ao contrário, a existência de duas famílias de François Mitterrand, uma de domínio social e outra na moita, era manjada nas redações. Mas o secret de Polichinelle só foi compartilhado com o povaréu quando o presidente morreu.
Como se descobriu em janeiro do ano passado, os franceses mudaram: a partir do furo de valor duvidável de uma revista, mostrando que Hollande, xará de Mitterrand, saía de moto para costurar para fora, o jornalismo em conjunto debruçou-se sobre a tempestade conjugal no Élysée. Entre as alegações buscando prestigiar a informação que originara a crise, estava a de que os filhos da pátria tinham o direito de saber que o namorador, rumo aos seus pulinhos de cerca, cometia o desatino de circular com débil proteção da segurança.
Brasil
Com governantes no poder, o jornalismo brasileiro costuma ignorar escapadelas ou convivências não oficiais.
Quando um presidente da República supunha ter um filho fora do casamento – assumido legalmente por ele, mas escondido dos refletores –, o opção quase unânime foi não noticiar. Inexistia relevância pública na informação, e prevaleceu o silêncio. Corretamente, como, no meu tempo de ombudsman, eu respondia aos leitores que me procuravam reivindicando reportagens sobre o tema. Tratava-se de matéria essencialmente particular.
Alguns anos atrás, a Agência Brasileira de Inteligência expediu informe reservado dando conta de um affaire entre um ministro e uma ministra de Estado. Mesmo na queda do ministro, suspeito de promiscuidade com empreiteiras, os muitos repórteres que tiveram acesso ao documento nada publicaram. Fizeram bem, porque não havia interesse público – talvez “do” público futriqueiro – no suposto xodó ministerial.
(É diferente quando os protagonistas de um romance clandestino o tornam público, como Zélia Cardoso de Mello e Bernardo Cabral, na atmosfera burlesca da era Collor.)
Noutra quadra, eu preparava o perfil de uma expoente da República quando comprovei que ela mantinha um namorado na surdina. Escrevi sobre a influência do dito-cujo na militância da senhora, pois era fato político significativo. Mas não ensaiei insinuação sobre outras conexões, pois elas não diziam respeito a ninguém além do casal enamorado e do marido desatento.
Às vezes, contudo, a descompostura alheia obriga a veiculação de estocadas indignas.
Na década de 1990, num mata-mata eleitoral para prefeitura, a campanha de uma candidata espalhou que a adversária manifestava “conduta sexual atípica”, ou, no raciocínio desmiolado de quem proferiu as palavras, era homossexual.
Já nos anos 2000, propaganda de uma candidata a prefeita indagava na TV sobre o contendor: “É casado? Tem filhos?”.
Nos dois episódios, o jornalismo tinha obrigação de noticiar. Mas não escarafunchou a intimidade dos candidatos. Acertou.
Para os anais: os eleitores rejeitaram a intolerância oportunista e derrotaram os concorrentes que apelaram à insensatez.
História
Não ultrapassar os limites civilizados da privacidade não implica calar na hipótese de testemunhar ou ouvir testemunho de ações de um político que os eleitores merecem conhecer, para avaliá-lo, julgá-lo e eventualmente sufragá-lo. Desde envolvimento com pedofilia a agressão a companheiro ou companheira.
A tradicional recusa brasileira em abordar o sexo dos políticos não se sustenta, contudo, ao reconstituir o passado.
No balanço sincero da história, seria aberrante não contar em obra jornalística ou historiográfica de fôlego o que o presidente Juscelino Kubitschek pretendia fazer no Rio quando ocorreu o desastre automobilístico que o matou. Ele não viajava para cá a fim de comer um sanduíche de rosbife no saudoso Gordon.
Bem como seria incompreensível narrar a vida de Tancredo Neves ignorando uma longeva relação fora do matrimônio.
Idem uma biografia do argentino Ernesto Che Guevara que não tentasse esclarecer, confirmando ou negando (as que eu li divergem), se ele e a alemã Tamara Bunke eram amantes. Ambos combateram na guerrilha deflagrada na Bolívia e foram mortos em 1967.
Seria desclassificante evocar a trajetória de Marilyn Monroe e John Kennedy apagando o bundalelê entre os dois. Não seria contar vidas, mas omitir e descaracterizar.
Sem falar do rabicho entre D. Pedro I e Domitila de Castro Canto e Melo, como entender a proeminência da Marquesa de Santos nas intrigas imperiais?
Exemplos não faltam.
Porém, cavucar honestamente o passado difere da informação invasiva contemporânea com possível impacto em embates eleitorais. Salvo eventual cenário extraordinário, notícias sobre quem-come-quem ou se-gosta-de-menino-ou-menina carecem de importância pública, portanto jornalística.
O jornalismo não deveria ser bedel dos desejos, e sua contribuição indispensável à democracia prescinde de mexericos.
***
Mário Magalhães é jornalista
 
 
 

NA MESMA TECLA

Parem, meninos,  a briga não é essa


Alberto Dines, no Observatório da Imprensa



Quando os sábios se enfrentam, apartá-los só prejudica os que desejam aprender, diz um velho preceito oriental. A controvérsia entre os dois cineastas – Eduardo Escorel e Jorge Furtado – sobre a crítica da mídia no Brasil, pelas amostras oferecidas, tem condições para converter-se numa valiosa contribuição ao próprio media criticism.
Tudo começou na edição de setembro de 2014 da sofisticada revista piauí, quando o cineasta, editor e professor de cinema Escorel fez a resenha do documentário O Mercado de Notícias do cineasta, encenador, produtor e publicitário Jorge Furtado.
O embate ficou em banho-maria e nesta semana, quatro meses depois, acaba de ser retomado pelo gaúcho Furtado em seu site “Casa do Cinema de Porto Alegre” [ver “O mercado de notícias – dúvidas” (Escorel) e “‘Eu preciso de umas aspas suas’” (Furtado)].
Este observador entra na liça pela porta dos fundos, isto é, para observar e lamentar o desperdício de energias. Surpreendido como muitos admiradores do contemporâneo de Shakespeare, Ben Jonson, que compôs em 1626 uma comédia sobre a recém-nascida imprensa periódica, por mera curiosidade indagou de Furtado como descobrira a tal obra.
A curiosidade justifica-se: como biógrafo lidara extensamente com duas outras comédias de Jonson, “Volpone, ou a Raposa” e “Epicene, ou a Mulher Silenciosa” (escritas e encenadas em 1606 e 1609) e, como interessado na história da imprensa, localizara obras teatrais posteriores sobre o mesmo tema mas nunca tão próximas do início do moderno jornalismo (1605, com o lançamento em Strasbourg do primeiro mensário de que se tem notícia).
A informação chegou semanas depois, trazida de forma casual e despretensiosa pelo próprio Furtado quando entrevistado pelo Observatório da Imprensa (ver aqui). Ele a pescara na História Social da Mídia, de Asa Briggs e Peter Burke (Zahar, 2004, pág. 64). A edição standard da obra de Jonson estende-se por onze volumes (1922-1923) e com isso desativa-se um dos tópicos da contenda Escorel-Furtado: só por um acaso seria possível encontrar obra tão raramente citada em tão extensa bibliografia e escondida atrás de um título tão pouco elucidativo – The Staple of News, que a tradutora da obra de Briggs & Burge converteu em “A Matéria da Notícia”, diferentemente da opção mais chamativa de Furtado e da parceira na tradução, Liziane Kugland (staple, além de grampo, também significa mercadoria, commodity ou matéria).
Na mesma tecla
O importante desta história é que o fenômeno não é novo: o teatro levou 21 anos para usar a imprensa como tema; o cinema, mais ágil, apenas 14. Inventado em 1895 pelos irmãos Lumière, em 1909 o veterano ator Van Dyke Brook dirigiu o primeiro filme sobre a imprensa, The Power of the Press.
Mas o pomo da discórdia parece ser a interdição que pesa sobre o debate a respeito do desempenho e procedimentos jornalísticos na grande imprensa brasileira. É um fato indiscutível, incontestável e lamentável. No entanto, as exceções apontadas por Furtado são arroladas de tal maneira que parecem insignificantes, ninharias.
Embora apenas dois jornais brasileiros tenham oficializado a função do ombudsman, aFolha de S. Paulo tem o seu há 25 anos, um quarto de século. Ninharia? Apenas um ano depois de promulgada a Constituição Cidadã, a Folha oferecia à sociedade uma contrapartida que não pode ser desprezada, nem minimizada. Quantos países da América Latina têm ouvidorias ou defensorias do leitor? Zero.
Ao citar o programa Observatório da Imprensa como o único da TV, Furtado parece estranhar que seja transmitido numa rede de TV pública. Ser alternativa é uma das funções da TV pública, porém nosso horário não é alternativo, é nobre, nobilíssimo – 20 horas – e reprisado na mesma noite às 24h para os notívagos (jornalistas & cia).
A entrevista com Jorge Furtado ao OI na TV fazia parte de uma série de oito especiais em homenagem aos 25 anos da criação da função de ombudsman pela Folha. Da série participaram onze ouvidores da Folha em duplas de dois (apenas Renata Lo Prete não conseguiu liberar-se da intensa agenda de trabalho), acrescidos da então ouvidora de O Povo (Fortaleza, CE), Daniela Nogueira. Foi complementada com a entrevista do cineasta-ombudsman Jorge Furtado (aqui) e do humorista-gozador-da-mídia, Fábio Porchat (aqui).
É pouco? No dia em que o Observatório voltar a ser compartilhado pela TV Cultura, a audiência dobrará. E no dia em que as páginas e cadernos de TV da imprensa diária ocuparem-se da nossa programação, mais cidadãos participarão do debate midiático.
A homenagem aos ombudsman foi apresentada de 19/8 a 28/8/2014, ela sim em horário alternativo (melhor dizer, suplementar) porque o programa ao vivo continuava a ser apresentado às 20 horas. E, como acontece com todas as edições, os programas estão disponíveis no site do Observatório. Breve o programa completará 17 anos de existência e o site, 19.
Bagatela, irrisório? Em quase duas décadas batendo na mesma tecla – “Você nunca mais lerá jornal do mesmo jeito” – tentamos injetar uma dose regular de ceticismo numa sociedade impregnada pelo culto da celebração e pela devoção a equívocos. Faz bem à saúde dos povos, embora entre nós ninguém goste de aplaudir dúvidas ou conviver com desconfianças e descrença. Em outras palavras – ninguém gosta de marginalizar-se. Todos querem ser maioria, de preferência esmagadora maioria.
Primado da mesmice
A divergência entre os dois eminentes cineastas parece incubar-se numa paradoxal identidade: a atitude blasé, entediada, que Furtado utilizou para cutucar Escorel e este poderá utilizar para atacar o que lhe parece uma fúria iconoclasta de Furtado.
Precisamos urgentemente de ambos. Na segunda-feira (26/1), os rivais Folha e Estadãoostentavam com grande destaque em suas nobres páginas de opinião o mesmíssimo Ives Gandra Martins. Em ambas o reputado tributarista escrevia sobre liberdade de expressão, identicamente qualificado pelos anfitriões como professor emérito das escolas de Comando e Estado Maior do Exército e Superior de Guerra, além de filósofo. Em ambas a mesma acintosa omissão: o autor é um dos primeiros brasileiros a ingressar na prelazia ultraconservadora conhecida como Opus Dei, é seu principal supernumerário e porta-voz mais influente.
Casualidade, evidentemente. No Globo os opinionistas do dia eram outros, mas lá comparece regularmente Carlos Alberto di Franco, pontífice dos cursos de jornalismo da mesma Opus Dei.
Migalhas, mixaria, abobrinhas. A mesmice está nos tornando insensíveis e cegos, incapazes de discernir e assustar. Incapazes principalmente de escolher a boa briga.
 
 
 

29 janeiro 2015

A IMPRENSA COMO AGENTE DA DESESTABILIZAÇÃO POLÍTICA

Os leitores não são idiotas



Carlos Castilho, no Observatório da Imprensa



Vocês já notaram que quando alguém é atingido por uma bala perdida, a polícia invariavelmente atribui o fato a um tiroteio entre facções rivais do narcotráfico? A explicação até pode ser verdadeira em casos pontuais, mas a frequência com que é usada gera algumas suspeitas de que passou a ser um clichê para explicar o que dá trabalho justificar, ou esconder a participação de PMs no incidente.
O exemplo é apenas um dos que aparecem com regularidade suspeita nos nossos noticiários envolvendo episódios de violência urbana, que hoje são a base dos telejornais e páginas web de empresas jornalísticas. O crime só não bate o escândalo da Operação Lava Jato, o pessimismo econômico e as fofocas anti-Dilma no noticiário dos jornais impressos, que se especializaram no jogo do poder deixando para as televisões o filão do sensacionalismo.
O recurso regular a explicações batidas e quase automatizadas põe em evidência o fato de que a questão central não é buscar uma solução para o problema, mas simplesmente dar uma satisfação ao leitor, ouvinte, telespectador ou internauta. O público passou a ser um conjunto de idiotas a serem anestesiados por explicações triviais, para não dizer simplesmente enganosas.
Explicar uma bala perdida na cabeça de um menino de dez anos dá trabalho para a polícia porque vai exigir investigar um entre 13 casos do mesmo tipo registrados em menos de quatro dias no Rio de Janeiro, por exemplo. É claro que a polícia não tem condições de checar os detalhes de cada um desses episódios, mas recorrer a uma explicação simplista reproduzida incondicionalmente pela imprensa é sacramentar um procedimento burocrático que não mexe uma vírgula no problema da insegurança urbana.
A imprensa também não tem condições de resolver o problema, mas sua função seria investigar os casos mais representativos e tirar deles as lições sobre como preveni-los. Um caso bem investigado pode fornecer dezenas de lições para a polícia e para os nossos gestores municipais, hoje mais preocupados em arrecadar votos do que em resolver o drama de quem foi alvo de uma bala perdida ao sair de uma pizzaria, por exemplo.
A contabilidade macabra da imprensa sobre as vítimas de balas perdidas em cidades como Rio e São Paulo não acrescenta nada ao dia a dia dos sobreviventes, salvo a sensação de que em algum momento a paciência vai acabar. Se e quando isto acontecer, a imprensa vai reproduzir declarações de governantes, políticos e policiais culpando os vândalos de sempre, os radicais do PT ou, com alguma imaginação, até eventuais seguidores do Estado Islâmico ou da Al Qaeda.
O que se nota é que a reserva de tolerância está acabando, mas ninguém nos círculos tomadores de decisões parece que estar levando a sério os sinais de irritação do público, especialmente nas grandes metrópoles como Rio, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.
A imprensa deveria funcionar como alarma avançado da exaustão social, mas prefere ficar apostando neste ou naquele protagonista do jogo do poder. Nossos editores, salvo raras exceções, preferem não olhar para o que rola na periferia e tratam a maior parcela do público leitor, ouvinte, telespectador ou navegador virtual como pessoas desprovidas de capacidade crítica. Eu não sei até que ponto eles estão enganados, mas tudo indica que o que chamamos de audiência finge que concorda, mas no fundo tem seus próprios pontos de vista – que só se manifestam de forma emocional e pouco estruturada nas chamadas explosões populares. Quando o circo pega fogo e o vale-tudo substitui a razão.
Um público como o carioca e o paulista, cujo contato com a violência urbana deixou de ser esporádico para ser institucional, pode ser tratado como idiota durante algum tempo, mas não o tempo todo. Quando a paciência acaba, aí já é tarde demais e a espiral suicida da violência gerando violência passa a vigorar irremediavelmente.
A rotinização da violência pela imprensa tem um limite psicológico determinado para capacidade de tolerar o insuportável. Quando este limite á alcançado, quem primeiro recorrer ao autoritarismo assume o poder, porque oferece à sociedade a ordem e a paz que ela procura, não importa se ela for inspirada pela direita ou pela esquerda. A história está cheia desses exemplos e não é preciso ser nenhum teórico para saber disso.
O papel da imprensa numa conjuntura difícil como a que estamos vivendo é não tratar as pessoas como idiotas incapazes de pensar, mas oferecer a elas os elementos para que possam tomar decisões. Mas se a preocupação com a sobrevivência financeira determina as alianças políticas e as estratégias editoriais, a imprensa perdeu seu papel como fator de equilíbrio social e passa a ser um agente da desestabilização política. 
 
 

28 janeiro 2015

PROBLEMAS SIMILARES

Dilma, 2º mandato: que chances tem a presidenta de sair do atoleiro?

A atual presidência enfrenta alguns problemas econômicos e políticos muito similares ao que Lula enfrentou quando assumiu seu mandato em 2003.

 
Antonio Lassance, na Agência Carta Maior
Arquivo


Já vimos esse filme
 
A segunda presidência Dilma enfrenta um conjunto de problemas muito similares ao que Lula enfrentou quando assumiu seu primeiro mandato, em 2003. 
 
Lula tinha à sua frente uma inflação em alta - maior que a atual. Aplicou uma política monetária ortodoxíssima, bem mais conservadora do que Dilma acaba de baixar. 
 
A situação do Brasil era - tomando emprestada a expressão de um editorial de Carta Maior - de completo atoleiro econômico e também político.
 
No PT e, mais ainda, nos movimentos sociais, houve choque e decepção com ações que foram consideradas uma traição ao programa e à história do Partido. 
 
Lula trouxe um ex-representante de um banco internacional e deputado recém-eleito pelo PSDB, Henrique Meirelles, para ser o presidente do Banco Central. Encaminhou uma reforma da Previdência Social que deixou o sindicalismo, principalmente o cutista, atônito. 
 
As dificuldades de Lula com o PMDB pareciam intransponíveis. O PMDB chegou a ficar de fora da primeira composição ministerial e era uma fonte constante de atritos com o Planalto. 
 
A tentativa de trazer o partido para o Governo, na reforma ministerial de 2004, selou as pazes apenas com os peemedebistas do Senado. 
 
O PMDB da Câmara estava e permaneceu em pé de guerra. Curiosamente, o líder da resistência era o deputado Michel Temer, vice-presidente da República de Dilma e, hoje, principal bombeiro da relação entre PMDB e PT. Temer chegou a ameaçar de expulsão os peemedebistas que desacatassem a orientação partidária e fossem compor o governo.
 
Se o início do governo não foi um mar de rosas, depois ficou muito pior. Em 2005, Lula seria ameaçado por um grande escândalo. As acusações do chamado mensalão abalariam as bases políticas de sua presidência e ameaçariam seu mandato. O fantasma do impeachment era real e imediato.
 
O presidente, àquela época, foi posto em uma situação de cerco da oposição midiático-partidária muito parecido com o que se viu contra Dilma, durante a campanha eleitoral de 2014, e que tende a persistir ao longo de seu mandato.
 
Ou seja, alguns dos riscos que Dilma enfrenta atualmente são muito similares ao que Lula enfrentou de 2003 e até o final de seu mandato.
 
As diferenças entre as duas presidências, porém, não são nada triviais. O cenário internacional é bastante diferente e desfavorável. Os riscos da crise hídrica são novos e ninguém ainda sabe como tratá-los, nem o Governo Federal, nem os estaduais. O "modo dilmista de governar", bem distinto do padrão lulista, ainda não parece ter mudado substancialmente. E a comunicação de ambos é muito, mas muito diferente mesmo.
 
Mas isso já é assunto para uma próxima análise.
 
(*) Antonio Lassance é cientista político.




Créditos da foto: Arquivo

A MÍDIA HEGEMÔNICA COMO PARTIDO DE OPOSIÇÃO

A guerra da comunicação


Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa


Os jornais destacam nas edições de quarta-feira (28/1), mas não esclarecem, a frase da presidente da República na qual ela conclama seus ministros à “batalha da comunicação”. Nos textos sobre a reunião ministerial, no entanto, esse tema fica em plano secundário, e as reportagens se concentram em outras pautas. O Estado de S.Paulo e a Folha de S. Paulo escolheram o foco na questão econômica e o Globo preferiu destacar o escândalo da Petrobras entre os assuntos tratados.
No trecho em que a presidente se refere às relações do governo com a mídia, foi dito o seguinte:
“Nós devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação, sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente. Nós não devemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam ao boato, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública (...). Sejam claros, precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas”.
Em seguida, ela deu alguns exemplos de temas que reclamam mais clareza nas manifestações do Poder Executivo: a tese de que algumas das medidas anunciadas eliminam direitos dos trabalhadores, queixas sobre mobilidade urbana e a crise de abastecimento de água. Segundo a presidente, os integrantes do governo devem “falar mais”, comunicar sobre desafios, iniciativas e acertos.
Ao analisar o discurso presidencial, o observador deve levar em conta que as estruturas de comunicação de instituições públicas costumam ser muito lentas ao reagir a circunstâncias negativas no ambiente midiático. Mesmo quando o gabinete de crise está em operação permanente, como nos períodos de campanha eleitoral, demora muito para chegar a um ponto comum na análise de cada evento, criar uma proposta e só então levá-la para aprovação da autoridade principal.
Então, deve-se considerar que a fala da presidente Dilma Rousseff ainda se refere a questões que foram levantadas na primeira semana de seu novo mandato, quando a imprensa explorou aparentes contradições entre seu discurso de posse e manifestações de três de seus ministros. No entanto, o que não está dito nos jornais é que a chefe do governo anda preocupada com o efeito de frases imprecisas num contexto comunicacional que lhe é claramente desfavorável.
Falta transparência
O discurso da presidente, proferido quase um mês depois de sua última manifestação oficial, precisa ser lido em sua circunstância original. Ela ainda tratava da declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre redução de direitos previdenciários e trabalhistas, da manifestação do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, sobre mudança no cálculo do reajuste do salário mínimo, e da referência do ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, à providência divina no caso da falta de chuvas.
Esses episódios foram exaustivamente explorados pela imprensa, deixando o governo sob intenso bombardeio durante três semanas, justamente no período imediatamente posterior à sua posse, quando a sociedade esperava um esclarecimento sobre os rumos do seu segundo mandato.
Faltou iniciativa e transparência a Dilma Rousseff, e ainda que seus estrategistas tenham recomendado cautela no enfrentamento de uma mídia visceralmente hostil, essa postura só agrava a situação.
A política de comunicação do governo federal revela um temor excessivo ao poder da mídia tradicional. O cuidado que a presidente e seus principais auxiliares demonstram ao evitar, por exemplo, o debate sobre a democratização da mídia, denota o medo de ver suas palavras distorcidas e de enfrentar a acusação de que o governo tem o propósito de controlar a imprensa. Por outro lado, um governo do Partido dos Trabalhadores não pode fugir dessa questão.
As relações entre os governos petistas e a mídia tradicional sempre foram pautadas pelo cinismo: os dois lados fingem que estão participando de um diálogo, mas ambos sabem que o pano de fundo é um conflito inconciliável.
A presidente Dilma Rousseff está equivocada: o que está em andamento não é uma “batalha da comunicação”, como se referiu em seu discurso. O que há é uma guerra aberta, na qual o objetivo da imprensa é tirar seu grupo do Palácio do Planalto. Esse objetivo quase foi alcançado na eleição presidencial do ano passado.
Se quiser contrabalançar esse jogo, ela precisa ser mais assertiva, falar constantemente e diretamente à sociedade e mudar os termos desse embate, tratando a mídia hegemônica com o respeito que merece um partido de oposição.
 
 

27 janeiro 2015

PARALELOS COM O BRASIL

O valor universal das eleições na Grécia


Paulo Moreira Leite, em seu blog



A vitória do Syriza nas eleições gregas lembra uma dessas viradas históricas na vida de um país. Normalmente sóbrio, o Wall  Street Journal descreveu o ambiente de Atenas, ontem, como de “revolta popular.”
O resultado eleitoral terá profunda repercussão na Europa, onde Espanha, Portugal e Italia, enfrentam um recessão prolongada depois do colapso financeiro de 2009. Ao vencer ameaças e chantagens do mercado, o eleitorado da Grécia deu uma lição de coragem contra o prolongado conformismo que deixou o país de cabeça baixa, quando era explorado de forma selvagem.
A vitória pode produzir efeitos imprevisíveis sobre a economia mundial. É absurdo, mas possível, imaginar que, mesmo  diante de uma enfática manifestação das urnas, a União Europeia se mostre sem disposição política  para aliviar o sufoco do país,  o que pode gerar novas ondas de choque e instabilidade. A conta é simples:
A causa do resultado eleitoral é fácil de ser decifrada. Envolve questões universais, que preocupam a humanidade em toda parte — emprego, recessão, colapso de serviços públicos — e costumam resolver eleições no mundo inteiro. Até por essa razão, permite paralelos com o Brasil.
Lula e Dilma teriam sido aniquilados, levando consigo as conquistas obtidas pela população a partir de 2003, como aconteceu com os social-democratas do Pasok, caso o governo brasileiro tivesse seguido a política que Atenas praticou nos últimos cinco anos — e que era recomendada pelos centros financeiros internacionais.
Se a eleição deste domingo na Grécia reuniu conflitos típicos da luta de classes também colocou, de forma aguda, a questão nacional. A crise de 2009 colocou o conflito da soberania nacional da Grécia frente aos poderes coloniais das grandes economias europeias, que nos últimos cinco anos submeteram o conjunto da população a um programa de descontrução da economia local.
E é por que tem esse caráter nacional que a eleição abriu caminho para uma remodelagem do sistema político, anunciando uma aposentadoria prolongada — quem sabe  definitiva — de partidos tradicionais.
Após uma austeridade prolongada e selvagem, num ambiente de chantagem no qual os mercados atravessaram várias regras da democracia para impor seus interesses — inclusive para impedir um referendo onde o povo diria sim ou não às propostas de austeridade — o eleitorado foi às urnas para fazer o ajuste de contas com a pobreza, o desemprego e a falta de perspectiva.
A mensagem é clara: venceu um partido que há poucos anos tinha uma presença simbólica ao lado de legendas tradicionais — mas cresceu com um discurso firme contra os programas de pobreza. O crescimento de um partido nazista dá bem uma ideia do ambiente de radicalização e confronto em que se encontra a Grécia.
Como acontece em países onde a situação atingiu um patamar desesperado — nos últimos anos, famílias de classe média arruinada disputavam vagas na fila das instituições de caridade destinada preferencialmente a população pobre — era possível encontrar eleitores do Syriza nos bairros chiques, nas lojas de artigos de luxo, entre empresários que em outros tempos eram votos assegurados à direita, revela Helen Smith, correspondente do Guardian em Atenas.
Os bilionários programas aprovados pela Troika — União Européia, Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional — destinavam-se a confortar os credores estrangeiros, ampliando a dívida do país – sem nada deixar para os investimentos que poderiam animar a economia e os programas sociais que protegiam o povo.
É normal, assim, que empresários e ex-empresários locais, interessados em reativar seus negócios, voltassem sua atenção a uma sigla que, em outros tempos, só causaria repulsa. A vitória teria sido ainda mais expressiva se, numa manobra burocrática, o governo conservador da Nova Democracia não tivesse impedido o alistamento de uma numerosa parcela de eleitores jovens — evitando a presença, nas urnas, da parcela mais sacrificada da população, reservatório natural de votos para o Syriza.
 
Do ponto de vista da economia, as urnas de domingo se encerram com vários pontos de interrogação — a começar pela provável resistência do governo de Angela Merkel para aceitar mudanças na política da União Europeia em relação a Grécia, permitindo que o país tenha acesso a uma parcela do pacote superior a 1 trilhão de euros recém-aprovado pelo Banco Central Europeu, que poderia dar oxigênio para a economia, estimulando os investimentos, o crédito e o crescimento. O futuro do governo do Syriza irá depender, fundamentalmente, de sua capacidade de conservar o apoio popular para transformar as propostas de palanque em medidas concretas, capazes de aliviar o imenso sofrimento da população grega e abrir uma nova perspectiva para o país.
Para os brasileiros, chega a ser irônico que, seis anos depois da crise dos derivativos, os gregos tenham escolhido um governo que denuncia a austeridade e, há um mês, em Brasília, Dilma Rousseff tenha escolhido Joaquim Levy para ocupar o ministério da Fazenda, no lugar de Guido Mantega, que teve um papel decisivo na política de estímulo que permitiu ao país atravessar a crise de 2009.
A verdade é que não há termo de comparação entre os programas impostos a Grécia ao longo dos últimos anos e as propostas de ajuste que Levy e a equipe econômica. São universos separados pela geografia, pela história e pela política. Mas o afundamento do tradicional sistema político da Grécia demonstra que o eleitorado costuma ser impiedoso com partidos que não correspondem a suas promessas e compromissos. A indignação do eleitorado explica por que o desgaste do conservador Nova Democracia, que aplicou os programas de austeridade, encurvado perante a Troika, tenha sido até menor que o desmoronamento dos socialistas, eleitos com a promessa de promover o bem-estar e proteger os direitos dos trabalhadores.
O principal objetivo do ajuste consiste em recuperar a confiança dos empresários, mercadoria que, concordam monetaristas e desenvolvimentistas, é indispensável para fazer a economia capitalista funcionar. Comprometida com a perspectiva de  “arrumar a casa”, a presidente tem se demonstrado particularmente zelosa quando se trata dos direitos dos trabalhadores. É bom que seja assim, pois a experiência ensina que todo cuidado é pouco nesta matéria. Como diz um governador da base do governo: “os mercados nunca estão satisfeitos. Sempre pedem mais para mostrar que têm confiança, O risco é acabarem engolindo o governo.”
O risco, traduzido para nossos trópicos, mais alegres do que queriam os antropólogos estrangeiros, é a hipótese grega — um governo chantageado pelos mercados, que sempre podem apertar mais o torniquete.
Três dias depois de ser empossado no Ministério do Planejamento, Nelson Barbosa anunciou que estava em curso uma mudança na legislação do salário mínimo. Acabou obrigado pela presidente a divulgar uma nota à imprensa na qual dizia que tudo seguirá como está. Na semana passada, quando o Financial Times atribuiu a Joaquim Levy a afirmação de que o seguro-desemprego estava ultrapassado, o próprio ministro da Fazenda foi levado a divulgar nota corrigindo o jornal. Para que não restasse um fiapo de dúvida, o ministro Miguel Rossetto, Secretário-Geral da Presidência da República, definiu o seguro-desemprego como cláusula pétrea, conceito constitucional em que se encontra a proibição do país produzir armas nucleares, por exemplo. Numa manifestação autorizada pela presidente da Republica,  Rossetto comparou o seguro-desemprego  a direitos básicos como “salário, jornada de trabalho, férias e aposentadoria (que) fazem parte do núcleo duro dos direitos dos trabalhadores e representam conquistas civilizatórias.”