30 outubro 2012

ELEIÇÕES, UM BALANÇO






Um balanço das eleições municipais

Emir Sader, no Blog do Emir




As eleições municipais foram sobredeterminadas pelas eleições de São Paulo. Em primeiro lugar porque é o centro dos dois partidos mais importantes do Brasil nas últimas duas décadas. Em segundo, pelo peso que a cidade tem no conjunto do país – pelo seu peso econômico, por ser sede de dois dos 3 maiores jornais da velha mídia. Esse caráter emblemático foi reforçado porque o candidato opositor ao governo federal foi o mesmo candidato à presidência derrotado há dos anos, enquanto o candidato do bloco do governo federal foi indicado pelo Lula, que se empenhou prioritariamente na sua eleição. E pelo fato de que São Paulo era o epicentro do bloco da direita, que se estendia ao Paraná, Santa Catarina e aos estados do roteiro da soja, no centro oeste do Brasil

As eleições municipais tiveram claros vencedores e derrotados. O maior vencedor foi o governo federal, que ampliou o numero de prefeituras conquistadas pelos partidos que o apoiam, mas principalmente conquistou cidades importantes como São Paulo e Curitiba, arrebatadas ao eixo central da oposição. Ao mesmo tempo que a oposição seguiu sua tendência a se enfraquecer a cada eleição, ao longo de toda a ultima década, perdendo desta vez especialmente a capital paulista, mas também a paranaense e em toda a região Sul, Sudeste e Centro Oeste, em que os tucanos não conseguiram eleger nenhum prefeito nas capitais.

No plano nacional, avança claramente a base aliada, com dois dos seus partidos fortalecendo-se: PT e PSB e enfraquecendo-se relativamente o PMDB. Houve uma certa fragmentação no interior da base aliada e mesmo no bloco opositor, mas nada que mude a tendência, que se consolida ao longo da década, da hegemonia do bloco governamental, apontando a que nas eleições de 2014 Dilma apareça como a franca favorita,

A eleição de São Paulo se dá na contramão da tendência que se havia consolidado nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, em que o Nordeste, de bastião da direita, se havia tornado bastião da esquerda, pelo voto popular dos maiores beneficiários das politicas sociais que caracterizam o governo federal desde 2003. Por outro lado, se havia deslocado o bastião da direita para os estados mais ricos do sul, do sudeste e do centro-oeste, com São Paulo – onde os tucanos tinham a prefeitura e o governo do Estado – como eixo fundamental desse bloco opositor.

A derrota em São Paulo, a nova derrota do seu ex-candidato duas vezes à presidência e a incapacidade de eleger sequer um prefeito em toda essa região, demonstra como a direita se enfraquece também onde concentrava seu maior apoio.

Por outro lado, somando erros do PT e campanhas com forte apoio de governos estaduais que detem, aliados do governo derrotaram o PT em várias cidades importantes entre elas Belo Horizonte, Recife, Salvador e Fortaleza, como as mais significativas. Somente em um caso – Salvador – essa derrota se deu para a direita. Revela erros – em alguns casos gravíssimos do PT, como Salvador e Recife – do PT e limitações da ação de Lula e de Dilma para compensar esses erros. Um grande chamado de atenção sobre fraquezas do PT, sem que afete em nada a projeção eleitoral presidencial para 2014.

A derrota em São Paulo é um golpe duro para os tucanos, que sempre contavam com um caudal grande de votos paulistas para ter chances de compensar os votos do nordeste dos candidatos do PT e agora se veem enfraquecidos em toda a região onde antes triunfavam. Eventuais candidatos presidenciais como Aécio – quase obrigado a se candidatar, embora com chances muito pequenas de um protagonismo importantes, quanto mais ainda de vencer – ou Eduardo Campos – sem possibilidades de se projetar como líder nacional foram dos marcos do bloco do governo, que já tem Dilma como candidata para 2014 -, são objeto de especulações jornalísticas, à falta de outro tema, mas tem reduzidas possibilidades eleitorais.

O julgamento do processo no STF contra o PT foi um dos temas centrais de Serra e revelou sua escassa influência eleitoral diante da imensidade dos problemas das cidades brasileiras e do interesse restrito da população, apesar da velha mídia tentar fazer dele o tema central do Brasil. Nas urnas, o povo demonstrou que sua transcendência é muito restrita a setores opositores e à opinião publica fabricada pelos setores monopolistas da velha mídia. Os implicados no julgamento ao basicamente dirigentes paulistas do PT, mas a eleição em São Paulo demonstrou como o julgamento e a influência da velha mídia continuam a ser decrescentes.

Outros temas podem ser analisados a partir do resultado eleitoral, mas eles não alteram em nada fundamental o transcurso da politica brasileira, que segue centrada em torno da resistência do governo aos efeitos recessivos da crise capitalista internacional, para elevar os índices de crescimento da economia e seguir expandindo as políticas sociais.



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A força dos governos estaduais nas eleições
municipais


Vinícius Mansur


Brasília - A tentativa de um olhar nacionalizado sobre as eleições municipais, apesar de extremamente válida e necessária, pode esconder a importância dos governos estaduais no processo. Um levantamento feito pela Carta Maior demonstra que em 16 dos 26 estados do país os partidos dos governadores são os líderes em número de prefeituras conquistadas em 2012.

São eles: Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo.

Dentre os outros 10 estados, em 6 os partidos dos governadores alcançaram a segunda colocação: Acre, Alagoas, Goiás, Mato Grosso, Rio Grande do Norte,Santa Catarina. Em outros 2, Rio Grande do Sul e Tocantins, eles ficaram em terceiro. Em Sergipe, o partido do governador Marcelo Déda (PT) ficou em quarto. Na Paraíba, o PT, do governador Ricardo Coutinho, ficou apenas em nono, apesar de ganhar a capital João Pessoa. 

O levantamento não inclui o número total de candidatos que, ainda que sendo de outras siglas, venceram com o apoio do governador, dado que provavelmente ampliaria em muito o peso dos governadores. 

Outro dado não levantado, que neste caso ajudaria a contrabalancear o peso da máquina estadual, seria o número de eleitores governados por partido em cada estado. Afinal, o fato de ter o maior número de prefeituras não implica necessariamente em governar o maior número de eleitores. O caso de São Paulo é emblemático. O PSDB, que governa o estado há 18 anos, conquistou 27%, ou 175, das 645 prefeituras paulistas. O PT, porém, com apenas 10,5% das prefeituras, ou 68, entre elas a capital, governará 45,21% do eleitorado.

O levantamento confirma um senso comum: a máquina estadual influi mais sobre os municípios menores, enquanto as capitais tem mais independência.

Nos 16 estados onde os partidos dos governadores alcançaram a liderança em número de prefeituras, somente em 7 capitais ganharam os candidatos do seu partido ou apoiados pelo governador: Macapá, Fortaleza, Belo Horizonte, Belém, Recife, Rio de Janeiro e Boa Vista. Nos outros 10 estados, somente em 4 os governadores conseguiram emplacar seus candidatos em capitais: Rio Branco, Maceió, João Pessoa e Florianópolis. 

Também é interessante notar a capacidade de cada partido em transformar seu poder estadual em municipal. O PSB é líder em número de prefeituras em todos os 5 estados que governa. O PSDB também é líder em 5, porém governa 8. O PMDB lidera em 4 dos 5 estados que dirige. O PSD está na dianteira em 1 dos 2 estados que comanda. O DEM tem 1 estado, mas não é o líder. Já o PT é o primeiro em apenas 1 de seus 5 estados, demonstrando que, apesar do crescimento, ainda tem grandes dificuldades de se interiorizar. 

Confira os16 estados onde os partidos dos governadores são líderes

Amapá
O PSB, do governador Camilo Capiberibe, não tinha nenhuma prefeitura e passou a ter 3, empatando com o PT na liderança. Após muito relutar, o partido ainda apoiou o vencedor do 2º turno da capital Macapá, Clécio Luís (PSOL). O estado tem 16 municípios apenas. Em terceiro está o PMDB com 2 prefeituras.

Amazonas
O PSD, partido do governador Omar Aziz, saiu do zero para chegar a 23 prefeituras. O partido, entretanto, apoiou a candidata do PCdoB na capital Manaus, derrotada pelos tucanos. Em segundo está o PMDB, que caiu de 24 para 18. O PDT está em terceiro com 4.

Bahia
O PT, do governador Jaques Wagner, ainda que tenha perdido o 2º turno na capital Salvador, saltou de 65 para 93 prefeituras no estado. Em segundo está o PSD, com 70, e em terceiro o PP, que saiu de 37 para 52.

Ceará
O PSB, do governador Cid Gomes, passou de 22 para 40 prefeituras, ganhando inclusive a capital Fortaleza, há 8 anos governada pelo PT, partido que tem o segundo maior número de prefeituras no estado: passou de 14 para 30. O PSD vem em terceiro com 27.

Espírito Santo 
O PSB, do governador Renato Casagrande, passou de 13 para 23 prefeituras. O partido, porém, apoiou a candidata petista na capital Vitória que sequer avançou ao 2º turno. A ilha será governada pelo PPS. O PMDB está em segundo, caindo de 22 para 14. O PDT vem em terceiro, passando de 3 para 8. 

Maranhão
O PMDB, da governadora Roseana Sarney, pulou de 16 para 47 prefeituras. A capital São Luiz, entretanto, foi ganha pelo PTC, sem apoio do PMDB. Em segundo vem o PRB, que passou de 10 para 24. Em terceiro, o PV, com 20 prefeituras, uma a mais do que em 2008.

Mato Grosso do Sul
O PMDB, do governador André Puccinelli, caiu de 27 para 23 prefeituras, mas segue na liderança no estado. Em seguida, PSDB e PT aparecem com 12 prefeituras, sendo que na eleição passada os tucanos tinha alcançado 11 e os petistas 10. Na disputa da capital Campo Grande, entretanto, o PMDB foi derrotado pelo PP.

Minas Gerais
O PSDB, que governa o estado de forma ininterrupta desde 2003, ganhou 142 prefeituras, 15 a menos do que as 157 conquistadas em 2008. O PMDB passou de 118 para 119. Em terceiro está o PT, que saiu de 109 para 115. O PSB triunfou na capital Belo Horizonte com o apoio dos PSDB.

Pará
O PSDB, do governador Simão Jatene, saltou de 12 prefeituras em 2008 para 32 em 2012, incluindo a capital Belém. O PMDB caiu de 39 para 28, mas está em segundo lugar. O PT baixou de 27 para 24 e está em terceiro. 

Paraná
O PSDB, do governador Beto Richa, passou de 40 para 76 prefeituras. A capital Curitiba, entretanto, foi ganha pelo PDT (um ex-tucano, Gustavo Fruet), sem o apoio do PSDB. O PMDB está em segundo, mesmo com a queda vertiginosa de 136 para 56. O PT vem em seguida, passando de 32 para 40.

Pernambuco
O PSB, do governador Eduardo Campos, passou de 47 para 58 prefeituras, incluindo a capital Recife. O PTB caiu de 31 para 25, mas é o segundo partido no ranking. O PSD vem logo após, com 21.

Piauí
O PSB, do governador Wilson Martins, pulou de 38 para 53 prefeituras. O partido, entretanto, apoiou o candidato derrotado pelo PSDB na capital Teresina. O PTB é o segundo partido com mais prefeituras, mesmo caindo de 72 para 41. O PMDB é o terceiro, baixando de 35 para 25. 

Rio de Janeiro
O PMDB, do governador Sérgio Cabral, é o líder, ainda que tenha diminuído seu controle de 35 para 22 prefeituras. O partido ganhou também a capital. O PT é o segundo, crescendo de 7 para 10. O PP é o terceiro, caindo de 14 para 8.

Rondônia
O PMDB, do governador Confúcio Moura, passou de 12 a 15 prefeituras sob seu comando. Em seguida vem o PP, que pulou de 2 para 8, e o PT, que passou de 3 para 6. A capital Porto Velho foi vencida pelo PSB sem o apoio do PMDB.

Roraima
Apesar da queda de 8 para 4 prefeituras, o PSDB, do governador José de Anchieta Júnior, é o partido com mais governos municipais no estado. O PR é o segundo, ampliando de 2 para 3, e o PMDB o terceiro, passando de 1 para 2. Roraima tem apenas 15 municípios. A capital Boa Vista foi ganha pelo PMDB com apoio do PSDB.

São Paulo
O PSDB, que governa o estado a 18 anos, se mantém em primeiro, apesar da queda de 202 para 175 prefeituras. Em segundo está o PMDB, que subiu de 68 para 90, e em terceiro o PT, que passou de 60 para 68, incluindo aí capital do estado.

10 estados onde os partidos dos governadores não preponderam

Acre
O PT tem 4 mandatos de governador consecutivos, porém perdeu a hegemonia em número de prefeituras. De 11, em 2008, passou para 5 em 2012, ficando em segundo no estado, atrás do PSDB, que lidera 6 das 22 prefeituras. Em terceiro vem o PMDB com 4. O PT, entretanto, manteve o controle da capital Rio Branco. 

Alagoas
O PSDB, partido do governador Teotônio Vilela, passou de 13 para 19 prefeituras, ficando atrás apenas do PMDB, que passou de 19 para 25. Entretanto, o PSDB ganhou a capital Maceió. O PP vem em terceiro, caindo de 22 para 15. Já o PSD, que não tinha nenhuma, tem 8.

Goiás
O PSDB, do governador Marconi Perillo, manteve exatamente o número de prefeituras conquistadas no pleito anterior: 52. Os tucanos perdem, por pouco, para o PMDB, que mantém a liderança mesmo caindo de 59 para 57 prefeituras. Em terceiro vem o PSD, com 21. O desempenho do PSDB é considerável, tratando-se do principal governador afetado pelo escândalo Cachoeira. Na capital Goiânia, entretanto, a vitória foi do PT. 

Mato Grosso
O PMDB, partido do governador Silval Barbosa, é o segundo no ranking de prefeituras, mas apresentou um crescimento de 21 para 29. Quem lidera é o PSD, com 39. Em terceiro está o PR, que caiu de 32 para 14. Na prática, entretanto, os 3 partidos estão alinhados ao comando do senador Blairo Maggi (PR). Barbosa era vice do ruralista e já considerado maior produtor de soja do mundo, que deixou o governo em 2010 para se candidatar ao Senado. Maggi tem relação íntima com o PSD, partido que congrega grande parte dos representantes do agronegócio e tem como líder a senadora Kátia Abreu, e os rumores sobre sua ida para o partido são constantes. O controle da capital Cuiabá ficou com o PSB, que foi apoiado pelo PR.

Paraíba
O PT, do governador Ricardo Coutinho, ganhou apenas 5 prefeituras, perdendo uma com relação as conquistas de 2008. Porém, elegeu o prefeito da capital João Pessoa. Na liderança estão o PMDB, que se manteve com 58, em segundo está o PSB, que passou de 11 para 35. O PSDB é o terceiro, mesmo tendo caído de 41 para 28.

Rio Grande do Norte
A única governadora do DEM no Brasil, Rosalba Ciarlini, não conseguiu emplacar a liderança nas prefeituras do estado, mas seu partido é o segundo, passando a controlar 24 municípios, ante os 17 conquistados na eleição anterior. A capital foi ganha pelo PDT sem o apoio do DEM. Em primeiro vem o PMDB, que subiu de 37 para 50. Em terceiro está o PSD, com 21.

Rio Grande do Sul
O PT, do governador Tarso Genro, é o terceiro partido em número de prefeituras, passando de 61 para 72. Em primeiro vem o PP, que caiu de 146 para 136, e em segundo está o PMDB, que caiu de 143 para 132. A capital Porto Alegre foi ganha pelo PDT sem o apoio do PT.

Santa Catarina
O PSD, do governador Raimundo Colombo, é o segundo partido com mais prefeituras: 54, incluindo a capital Florianópolis. Em primeiro vem o PMDB, que caiu de 109 para 106, e, em terceiro, o PP, que caiu de 56 para 46.

Sergipe
O PT, do governador Marcelo Déda, é apenas o 4º partido em número de prefeituras, continuando com 7, assim como em 2008. Em primeiro vem o 
PSD, com 12. Em segundo o PSC, que subiu de 8 para 11. Em terceiro o PSB, que caiu de 11 para 10. A capital Aracajú foi ganha pelo opositor DEM.

Tocantins
O PSDB, do governador Siqueira Campos, é a terceira força do estado, passando de 16 para 20 prefeituras. Em primeiro vem o PSD, com 31, e em segundo o PMDB, que caiu de 38 para 24. A capital foi ganha pelo PP sem o apoio do PSDB. 


Fonte: Agência Carta Maior




POLÍTICA E MÍDIA


Mídia derrotada mais uma vez pelo PT de Lula



Por Ricardo Kotscho, no Balaio do Kotscho  




haddad agencia Mídia derrotada mais uma vez pelo PT de Lula
Perderam para Lula em 2002.
Perderam para Lula em 2006.
Perderam para Lula e Dilma em 2010.
Perderam para Lula e Haddad em 2012.
A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no Alvorada.
Pouco importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida da grande maioria dos brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos empresários da mídia, resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da miséria, e dando início a um processo de distribuição de renda que mudou a cara do País.
Lula e o PT continuam representando para eles o inimigo a ser abatido. Pensaram que o grande momento tinha chegado este ano quando o julgamento do mensalão foi marcado, como eles queriam, para coincidir com o processo eleitoral.
Uma enxurada de capas de jornais e revistas com quilômetros de textos criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o julgamento nos principais telejornais nos últimos três meses, todas as armas foram colocadas à disposição da oposição para o cerco final ao ex-presidente, mas a bala de prata deu chabu.
Na noite de domingo, quando foram anunciados os resultados, a decepção deve ter sido grande nos salões da confraria do Millenium, como dava para notar na indisfarçada expressão de derrota dos seus principais porta-vozes, buscando explicações para o que aconteceu.
Passada a régua nos números, apesar de todos os ataques da grande aliança formada pela mídia com os setores mais conservadores da sociedade brasileira, o PT de Lula e Dilma saiu das urnas maior do que entrou, como o grande vencedor desta eleição.
"PT — O maior vencedor" é o título do quadro publicado pela Folha ao lado dos mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o PT "foi o campeão em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o mais votado no 1º turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior número de eleitores".
De fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá governar cidades com 37,1 milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do País. Com cidades habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB, principal partido da base aliada.
"Em relação aos resultados das eleições de 2008, o total de eleitores governados por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os eleitos ontem e no primeiro turno deverão assumir", contabiliza Ricardo Mendonça no mesmo jornal.
Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário: "Já os partidos que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores do que entraram. Na comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais oposicionistas, terão 309 prefeituras a menos. Puxados  para baixo principalmente pelo DEM, irão governar para 10,5 milhões de eleitores a menos".
Curiosa foi a manchete encontrada pelo jornal "O Globo" para esconder a vitória do PT: "Partidos ficam sem hegemonia nas capitais". E daí? Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só me lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e defendeu, quando não havia eleições diretas.
O que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José Serra, que perdeu de novo para um candidato do PT que nunca havia disputado uma eleição, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos votos, terão que encontrar primeiro um novo candidato.
Ao bater de frente pela segunda vez seguida num "poste do Lula", o tucano preferido da mídia corre agora o risco de perder também a carteira de motorista.


POLÍTICA




O VENCEDOR FOI LULA (2a. Parte)

Paulo Moreira Leite


Desculpem mas sou obrigado a lembrar que, na contagem de votos do primeiro turno escrevi uma nota neste blogue com o titulo: “O  vencedor foi Lula.”



O óbvio ululante, como eu dizia,  confirmou-se ontem, quando o PT conseguiu o principal troféu da campanha, que foi a eleição em São Paulo.

Há  um aspecto local nesta eleição. A escolha de um prefeito envolve preferenciais politicas e fidelidade de tipo ideológico, mas não se resume a isso.

O fator municipal pesou bastante. A rejeição à gestão de Gilberto Kassab – que o destino tirou do palanque de Fernando Haddad e colocou na campanha de José Serra – contribuiu muito. Kassab estava de malas prontas para embarcar na campanha de Haddad da forma mais discreta possível até que a entrada de Serra na campanha provocou uma mudança de rumo.

Como disse Antônio  Donato à Folha, se Kassab estivesse no palanque de Haddad teria sido difícil fazer o discurso de oposição, tão útil para a vitória.

A própria rejeição a Serra, que tem a ver com a cidade e com sua decisão de abandonar a prefeitura antes do fim do mandato, também tem elementos locais.

Há outros elementos, porém. No primeiro turno de 2012 o PT foi, na soma de todos os votos do país, o partido que mais votos recebeu, que mais cresceu no número de prefeituras.

O PSDB caiu tanto que sua maior vitória foi celebrada em Manaus, o que, do ponto de vista nacional, está longe de ser uma grande façanha.

A vitória de Lula não envolve uma questão pessoal mas um dado político. Não é só um político popular que está pedindo votos.

A presença de Lula num palanque ajuda a trazer votos porque seu governo estabeleceu um novo parâmetro para as escolhas do país.

Muitos eleitores têm uma ideia do que pode vir a ser um governo com apoio de Lula sem sequer saber quem será o candidato.  Isso é que permite o lançamento de um poste que, se for capaz de mostrar virtudes e competências próprias, pode se tornar um vitorioso.

Os avanços obtidos na distribuição de renda, seja entre as pessoas, seja entre regiões,  se projetam na memória de cada brasileiro toda vez que ele toma o caminho das urnas – e isso influi na decisão.

Este processo envolve, também, os votos obtidos por legendas aliadas. O PSB foi o segundo grande vitorioso neste pleito mas é bom recordar que ele faz parte do bloco de partidos aliados de Lula. Não podem ser contados como votos de oposição, como tantos observadores sugerem. Se há uma porção nacional nesta decisão, ela faz parte do mesmo universo.

Em pleitos passados o PT abriu mão de crescer no Nordeste para favorecer uma aliança com os socialistas – que retribuíam com o apoio integral a Lula em eleições municipais.

Embora não sejam partidos idênticos e até possam vir a se separar em pleitos futuros, até o momento o PT e o PSB se apresentaram como aliados federais separados no plano local – e é assim que se apresentam para o eleitorado.  Ninguém sabe o que o futuro reserva a estes aliados.

Mas até domingo passado, os dois partidos estavam sob a projeção de Lula, o que ajuda tornar sua vitória, ontem, ainda maior do que se costuma reconhecer.

Fonte: colunas.revistaepoca.globo.com  









POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA






OS NAVIOS ENCALHADOS



por Mauro Santayana

Severo Gomes – sua morte prematura, há 20 anos, ao lado de Ulysses Guimarães, foi lembrada estes dias – era uma inteligência peregrina. Sabia quase tudo do Brasil e não escondia sua ação em favor do golpe em 1964; explicava-a como desvio político equivocado. Mais tarde, conforme dizia sorrindo, transformara-se em um democrata infiltrado no governo autoritário. Ministro de Agricultura do governo Castello Branco e, mais tarde, de Indústria e Comércio de Geisel, tinha uma visão desolada do sistema administrativo brasileiro.
 

Getúlio agira bem, ao tentar construir uma burocracia de Estado, com o Dasp e os concursos públicos – mas se esquecera de que não tínhamos, no subdesenvolvimento de que padecíamos, de onde retirar um corpo de bons gestores da coisa pública. Bem que ele tentou, mais tarde,  suprir essa dificuldade, com a criação da Fundação Getúlio Vargas, mas os seus sucessores não insistiram nessa necessária formação de quadros.

Severo gostava de contar a sua amarga experiência como Ministro da Agricultura e, mais tarde, da Indústria e Comércio. No Ministério da Agricultura, ele levou todos os meses de gestão sem saber exatamente quantos departamentos havia, nem o que realmente faziam os seus funcionários. Pelo que vira, dizia, o governo se parece a uma frota de navios encalhados, cada um deles preso ao próprio banco de areia, e no meio de denso nevoeiro. Da nave capitânea à última embarcação, os comandantes gritam, da ponte, as ordens, determinando rumo e velocidade, mas os navios permanecem parados. Como os tripulantes sabem que os barcos não se movem, jogam cartas e alguns enchem a pança, porque os celeiros estão cheios de ração.

A imagem é irônica, no estilo de Severo, e  exagerada. Há sempre, em qualquer repartição pública, geralmente entre os mais modestos, aqueles que tentam trabalhar com zelo – e, às vezes, com excesso de zelo. Graças a eles, as coisas funcionam, ainda que devagar. Mas, funcionam em que sentido? Os barcos que avançam, avançam para qual destino? O fato é que temos, hoje, no Brasil, um governo que se identifica na esquerda, mas a máquina administrativa, com seus executivos médios, continua empenhada na prática do neoliberalismo.

O presidente Fernando Henrique Cardoso tratou de colocar, nos postos de decisão (no governo e  nas agências reguladoras) homens convencidos de que, fora da submissão à nova ordem internacional, não há salvação. São esses homens que controlam a máquina do Estado. Acusa-se o governo do PT de “aparelhar” o Estado. A diferença é aquela apontada por Nelson Jobim: os apparatchíki de antes – e que, na sombra, continuam mandando – pertencem às elites, conhecem línguas estrangeiras, seguem com atenção os movimentos do mercado, de que são fundamentalistas fanáticos, e se vestem com esmero.

Enfim, esses que remanescem são competentes naquilo que pretendem. Sendo assim, foram eficientes na transferência maciça de dinheiro, pela ponte internacional do Paraná: emitiram, antes, portaria do Banco Central, que isentava da fiscalização da Receita Federal os carros fortes que iam e vinham do Paraguai. Souberam manipular, com as sutilezas das engrenagens financeiras, as contas CC-5, e, mediante fundos marotos, transferir dinheiros mal havidos ao Exterior, a fim de ali serem lavados e aromatizados. E agora se encontram entre os que aprovam financiamentos do BNDES a empresas estrangeiras, como é o caso da  Telefônica da Espanha e perdoam a sonegação bilionária do Banco Santander, calculada em 4 bilhões – cobrada pela Receita Federal.

Os que conhecem os mecanismos do poder sabem que não é fácil governar. A leitura das melhores biografias de grandes governantes mostra como é difícil tomar decisões das quais depende a salvação ou perdição dos povos. É sempre atual citar Richelieu, quando diz que os homens, em sua vida pessoal, quando erram, podem contar com a salvação eterna. Os Estados, que só têm vida temporal, não dispõem desse consolo: eles se salvam ou se perdem na decisão de um segundo. É sobre esse fio de navalha que devem caminhar todos os dias os governantes. 

Para chegar ao poder, Lula teve que negociar com os empresários, e contou com a ajuda inteligente de José Alencar. Com isso, elegeu-se e empossou-se, mas ele e sua sucessora não conseguiram  que o governo assumisse o pleno controle da máquina administrativa.

É inegável que houve avanços consideráveis no caminho da emancipação de milhões de famílias, mediante as políticas compensatórias do governo, e que essas ações favoreceram  a economia como um todo, e que – apesar de sua fragilidade essencial – a educação deu grandes passos, com o Enem, o Prouni e o programa nacional de formação técnica. Mas são apenas algumas naves que, com a tripulação mudada em boa parte, conseguem avançar no rumo escolhido, vencendo os encalhes e devassando o nevoeiro. As outras avançam com as luzes apagadas, na rota contrária ao interesse nacional.
 

Fonte: JB Online


A IMPRENSA E AS ELEIÇÕES


A grande imprensa e as eleições

Por Armando Boito Jr.

É possível colher informações úteis na grande imprensa e aproveitar ideias esclarecedoras que são apresentadas por alguns analistas. Mas, são exceções. Além de não praticarem o jornalismo objetivo e investigativo, no geral, a grande imprensa e os “grandes especialistas” fazem das tripas coração para ocultar do público fatos e ideias que não lhes convém divulgar.


1. Numa conversa de “alto nível” nas emissoras de TV, ninguém quer ser um desmancha prazer. Afirmar que a eleição presidencial de 2014 está decidida seria o mesmo que falar um palavrão na frente da garotada. No entanto, é óbvio que a presidenta Dilma Rousseff, que já era franca favorita, saiu da campanha eleitoral mais favorita ainda, posto que os três principais partidos da base governista – PT, PMDB e PSB – governam agora, nos municípios, 65 milhões de eleitores, contra minguados 25 milhões dos dois principais partidos de oposição (PSDB e DEM).

2. Silêncio! Falar ou escrever que a oposição se escondeu como um bichinho acuado seria o mesmo que soltar o diabo no meio da procissão. No entanto, é óbvio que a oposição não pôde se apresentar como tal. Nenhum candidato ou partido oposicionista (?) ousou falar contra o governo Dilma. Esconderam-se, ao contrário dos candidatos e partidos da situação que faziam questão de ostentar sua posição política pró-governo. Não queriam cair em desgraça. Falaram, quando muito, contra o partido da presidenta, agitando com o Mensalão, num tipo de discurso que explora o que há de mais atrasado na cultura política nacional que é a posição antipartido em geral. José Serra repetiu o tempo todo, como se fosse um achado literário, a vulgar expressão “a turma do PT” para se referir ao partido do governo. Ora, em 2014, será a própria chefia do executivo federal que estará em disputa. O que é que a oposição dirá ao eleitorado? Vai remendar a bandeira rota do mensalão? Vai se apresentar como continuadora do Governo Dilma? Nesse caso, apenas reforçarão a tendência da grande maioria do eleitorado em votar na reeleição da presidenta.

3. Falar que a agitação em torno do Mensalão e a exploração da homofobia evidenciam a inviabilidade eleitoral do programa político real da oposição, nem pensar! Seria atrapalhar a democracia que exige a “alternância no poder” – sempre que o poder não agrada a grande imprensa, claro. No entanto, se o PSDB confinou-se no discurso moralista contra a corrupção e na exploração do preconceito homofóbico é porque o seu programa real, que é um programa neoliberal ortodoxo, está em crise em toda América Latina e cada vez mais desmoralizado na Europa. Onde encontrar o programa real, e não o programa retórico, do PSDB? Nas manifestações dos seus cardeais, deputados, economistas e intelectuais no dia-a-dia da luta política e, no mais das vezes, voltadas para um público restrito. Os tucanos vituperam contra a recuperação do salário mínimo – ameaçaria a previdência e a estabilidade da moeda, contra os programas de transferência de renda – o Bolsa Família não teria “porta de saída”..., contra as quotas sociais e raciais – ameaçariam o justo critério meritocrático e a unidade nacional..., contra o “protecionismo” para a produção industrial local – criaria cartórios..., contra a redução dos juros – esse desatino que nos afasta do famigerado centro da meta de inflação, a política de investimentos do BNDES etc. etc. Convenhamos que essas belas ideias, se reunidas num só pacote e apresentadas ao grande público, são a senha certa para o fiasco eleitoral. Melhor mesmo ficar na agitação contra a corrupção – dos outros partidos, é claro...

4. E Aécio Neves, a estrela ascendente do estagnado PSDB? Pegaria mal chamar atenção para o fato de que as “suas grandes vitórias” nas eleições municipais consistiram em eleger candidatos a prefeito pertencentes a um partido da base governista – o PSB – e não candidatos oposicionistas do próprio PSDB? Aécio foi a Campinas fazer comício para o candidato vitorioso Jonas Donizette, mas a propaganda desse último fazia questão de ostentar sua condição de apoiador da presidenta Dilma e de manter distância do partido de Aécio. Donizete entoava nas rádios campineiras jingles enaltecendo o governo e a figura da presidenta Dilma, nada de elogio ao tucanato. Essa foi uma das “vitórias” que Aécio organizou para a “oposição”!

5. Falar que a maioria definiu o voto politicamente seria cometer o pecado mortal de valorizar a vitória dos candidatos odiados pela grande imprensa e pelos “grandes especialistas”. No entanto, se a população votou em nomes desconhecidos, como o de Fernando Haddad em São Paulo, não seria, justamente, porque usou como critério para definir o voto o campo político que esse nome, até então desconhecido, representava? Carisma de Lula? Mas, além de ninguém saber ao certo o que poderia significar “carisma”, a grande imprensa e os “grandes especialistas” sempre disseram que carisma não se transfere... E o “conceito” de “poste”? Vale lembrar que a expressão foi muito usada na época da ditadura militar para indicar o seguinte: a maioria sufraga os nomes, conhecidos ou não, que se declarem contra a ditadura, isto é, o voto em “poste”, como foi dito da candidatura senatorial vitoriosa de Orestes Quércia em 1974, era – corretamente – avaliado como um voto politizado, e não como voto personalista. Mudaram-se os tempos, mudaram-se os interesses, mudaram-se, sem pejo, os conceitos.

6. Seria falta de modos perguntar, numa mesa redonda de um canal qualquer de TV, quantas vezes a antiga UDN, à qual o PSDB se parece cada vez mais, derrotou o varguismo agitando a bandeira da luta contra a corrupção? José Serra, depois de obter 78% dos votos nos Jardins, o bairro onde reside a alta burguesia paulistana, e míseros 16% no proletário bairro de Parelheiros, terá, a exemplo do candidato presidencial udenista, o Brigadeiro Eduardo Gomes, a franqueza e a resignação para desdenhar os votos dos “marmiteiros”?

7. Nas mesas redondas, quadradas e retangulares montadas pelas emissoras de TV, não se diz nada que extrapole a alternativa PT/PSDB; mas, esperar uma discussão sobre a possibilidade de acumulação de forças de um programa político popular, alternativo ao programa do governo atual, seria iludir-se quanto à natureza de classe da grande imprensa e dos “grandes especialistas”.

8. Onde se pode ler, ver e ouvir mais bobagens, abobrinhas e ideias repletas de segundas intenções? No jornalismo político, no jornalismo econômico, no cultural ou na imprensa esportiva?

* Armando Boito Júnior é professor do Departamento de Ciência Política da Unicamp


Fonte: www.altamiroborges.blogspot.com.br 


ELEIÇÕES EM SÃO PAULO

A derrota de um cadáver político insepulto em SP


Dennis de Oliveira, na Revista Fórum





 Em uma rápida análise feita com base nas matérias publicadas sobre o segundo turno das eleições municipais em São Paulo, elencamos os temas presentes nas declarações dadas à imprensa ou registradas pela imprensa em comícios e outros atos de campanha dos dois candidatos. O tema mais falado por Serra foi o mensalão, seguido de saúde e o kit anti-homofobia. Já Fernando Haddad priorizou saúde, mensalão e a taxa de inspeção veicular.
HaddadSerra
Saúde (31,82%)Mensalão (39,13%)
Mensalão (18,18%)Saúde (21,74%)
Taxa Inspeção Veicular (13,63%)Kit-antihomofobia (13,04%)
Educação/creches (9,09%)Transporte (9%)


Percebe-se a presença de uma agenda “negativa” nos discursos de Serra, uma campanha que procurou se pautar muito mais pelo “perigo do PT”, discurso que beira até o ressentimento, do que um discurso propositivo. A ausência de programa – ele foi só apresentado em outubro – foi acompanhada da apresentação de um monte de promessas desconectadas na área social, como o aumento de salários de professores, a bolsa-creche, o bilhete único de seis horas, a jornada de 7 horas nas escolas. Isto ocorreu após a percepção de que o discurso fundamentalista-religioso ampliou a sua rejeição, o fez perder mais votos e ainda afastou líderes históricos do partido, como Fernando Henrique Cardoso e José Gregori.
Os resultados pífios nas primeiras pesquisas de intenção de voto fizeram o candidato disparar contra tudo e contra todos. Acusou o PT de fazer baixaria, passou a agredir a própria grande mídia sempre simpática a ele (note-se que o tema mensalão foi o assunto principal da agenda midiática) e tentou se posar de popular. Ao perder as eleições, desejou boa sorte ao adversário vencedor sem citar o seu nome. A derrota foi vergonhosa pois contou com tudo a seu favor – a máquina do governo, a mídia favorável e o fato do adversário entrar na corrida eleitoral como um desconhecido.
Histórico do oportunismo serrista
Durante o governo do seu correligionário Fernando Henrique Cardoso, Serra ficou à margem durante um tempo, fez críticas à condução econômica e atuou como uma “sombra” da equipe liderada por Pedro Malan. Apresentava-se como um “nacionalista”, apesar de ter papel importante na privatização das estatais – inclusive com suspeitas de corrupção, conforme demonstra o livro-reportagem A privataria tucana.
Depois resolveu se apresentar como um defensor dos consumidores de medicamentos, apresentando-se como o criador dos genéricos. Uma tremenda mentira, pois o decreto que criou os genéricos foi assinado em 5 de abril de 1993 pelo então ministro da Saúde Jamil Haddad e o presidente da república da época Itamar Franco (clique aquipara ler o decreto). Mentira que foi corroborada pelos meios de comunicação hegemônicos.
Nas eleições de 2002, tentou se apresentar como um situacionista pero no mucho, buscou dar um perfil de centro-esquerda a sua candidatura, convidando a deputada federal Rita Camata para ser a sua vice. Mas fez uma campanha tipicamente terrorista afirmando que o Brasil passaria por uma crise igual à da Argentina caso Lula fosse eleito. Ficou famosa a frase da atriz Regina Duarte dizendo que “tinha medo” do Lula. A campanha de terrorismo ideológico lembrava muito as movimentações da classe média contra o governo de João Goulart que descambaram no golpe de 1964.
Voltou à carga em 2010 aí já apelando para um conservadorismo de costumes, trazendo o tema do aborto para a campanha, buscando apoio nos setores mais retrógrados das organizações religiosas, como a TFP. E, finalmente, neste ano, insistiu de início no fundamentalismo religioso com o tema do material escolar do MEC de combate à homofobia (chamado pejorativamente de “kit-gay”).
Estes comportamentos errantes ideológicos são acompanhados de um oportunismo eleitoral. Foi eleito e abandonou a prefeitura um ano depois para se candidatar a governador, apesar de ter prometido ficar todo o mandato, em 2006; apoiou Gilberto Kassab, então no DEM, contra o candidato do seu próprio partido, Geraldo Alckmin, nas eleições municipais de 2008. Em função da impopularidade da atual gestão de Kassab procurou não se apresentar como candidato da situação – só o fazendo quando foi interpelado pelos seus adversários – assim como não o fez nas eleições presidenciais, em que procurou se afastar do legado da gestão do seu correligionário Fernando Henrique Cardoso.
Esta derrota de José Serra nas eleições municipais em São Paulo consolidou um processo de decadência política que vem se arrastando há anos. Vindo do movimento estudantil e depois desempenhando um papel relativamente importante na luta pela redemocratização do país durante a ditadura militar, Serra foi engolido pela própria prepotência, autossuficiência e desejo pelo poder marcado pelo egocentrismo. É um cadáver político embalsamado pela mídia hegemônica, esta mesma que ele ataca quando não se faz suficiente par ungi-lo à vitória.


GOVERNO E PUBLICIDADE


Verba publicitária e sadomasoquismo



publicado em 30 de outubro de 2012 às 11:49

Por Fernando Ferro, 

Os jornalecos e almanaques reacionários de oposição, tipo Veja, vez por outra têm um de seus capangas acusando jornalistas de “chapa-branca” na tentativa de encurralar qualquer visão séria e democrática sobre o Partido dos Trabalhadores e os governos do PT. Por trás destas críticas reside um viés ideológico como porta-voz da direita no Brasil, bem como um certo mal estar pela perda da sustentação financeira com o dinheiro oficial.

A partir do governo Lula, praticou-se uma distribuição mais justa em termos regionais na descentralização dos receptores do dinheiro da publicidade oficial. Nosso governo incorporou no mailing dos meios de comunicação do Estado brasileiro desde redes regionais até o sistema de rádios comunitárias e jornais espalhados por diversas regiões do Brasil. Este gesto atraiu o descontentamento dos Civitas da vida, que querem monopolizar e concentrar os meios e suas receitas. Apesar da mudança, ainda é profundamente concentrada a distribuição das verbas oficiais de comunicação.

Observa-se que dos R$ 161 milhões repassados à emissoras de rádios, TV, jornais, revistas e sites, desde o início do governo Dilma, R$ 50 milhões foram destinados apenas para a TV Globo, quase um terço de toda a verba – ao todo,  o Sistema Globo de Comunicações recebeu R$ 55 milhões.  Já a “imparcial” revista Veja, por sua vez, recebeu R$ 1,3 milhão; e o os tentáculos on-line da Editora Abril também receberam mais R$ 353 mil. Enquanto isso, a revista “parcial” Carta Capital recebeu, no mesmo período, R$ 119 mil.

Em outros termos, pagamos uma mídia para nos atacar, nos destruir e se organizar em quadrilhas, como no caso recente da dobradinha Veja/Cachoeira.

Isto não é justo. Não é correto. Precisamos rever a distribuição de verbas publicitárias, que hoje se constituem num verdadeiro acinte à democracia. Não se trata apenas de regular os meios de comunicação, devemos promover uma justa redistribuição das verbas publicitárias do Governo.

Por fim, é bom que se note que aqui não foram incluídos os repasses das verbas publicitárias das empresas estatais de economia mista, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Correios, Grupo Eletrobrás, Petrobrás, etc.

Ora, parece que tomamos gosto por rituais de sadomasoquismo midiático ou praticamos a gentileza dos submissos.


Fernando Ferro é deputado federal (PT-PE) e vice-líder da Bancada do partido na Câmara

Fonte:  www.viomundo.com.br 

26 outubro 2012

POLÍTICA

Ditadura gostava de criminalizar
a política


Paulo Moreira Leite




Eu estava nos EUA, em 2000, quando George W. Bush tornou-se presidente por decisão da Suprema Corte. Havia ocorrido uma fraude na Flórida, que necessitava recontar seus votos. A Suprema Corte, de folgada maioria republicana, decidiu interromper o processo e deu posse a Bush. Nós sabemos as consequências.

Em 2009, quando Manoel Zelaya foi deposto em Honduras, a Corte Suprema local deu respaldo ao golpe.
O mesmo ocorreu no Paraguai, quando Fernando Lugo foi afastado do cargo sem direito de defesa, por uma acusação que, está demonstrado agora, não tinha fundamento em provas – mas em denúncias que, conforme a oposição não teve medo de anunciar, envolviam fatos que “todo mundo sabe.”

Para quem só enxerga uma face da Operação Mãos Limpas, não custa recordar que a Justiça italiana  colocou muitos corruptos fora de combate na Itália e transformou o bunga-bunga Silvio Berlusconi no grande protagonista da política atual italiana. Os partidos foram destruídos e, em seu lugar, ficou uma rede de TV. Quem é o dono? O bunga-bunga. É tão bunga que, quando os mercados quiseram afastá-lo do cargo, foi preciso convencer Berlusconi a renunciar. Não havia quem desse a bungada de misericórdia.

Lembra da guilhotina da revolução francesa? Após dois anos de terror, de condenados em processos sumários, o saldo foi o esvaziamento da democracia e a lenta recuperação da aristocracia. Depois de guerras e ditaduras, proclamou-se o Império.

É claro que esses fatos servem de advertência e angustia diante do julgamento do mensalão.

O Supremo está diante de crimes graves, que devem ser investigados e punidos.  O inquérito da Polícia Federal aponta para vários crimes bem demonstrados.

Mas não dá para aceitar longas condenações sem que as acusações não estejam provadas nem demonstradas de forma clara e consistente. O  mesmo inquérito não oferece base para denúncias contra vários condenados. O confronto de depoimentos e as mudanças de versões da principal testemunha, Roberto Jefferson, mostra a fragilidade da acusação.

Vamos reconhecer o seguinte. Não tenho condições de afirmar, entre 38 réus, quantos foram condenados com provas e quantos não foram. Não conheço cada caso em cada detalhe. As confusões das votações e debates sobre as penas mostram que os próprios
ministros têm dificuldade para armazenar tantas informações, o que não diminui a responsabilidade de cada um deles pelo destino de todos.

Embora tivesse até uma conta em paraíso secreto, o publicitário Duda Mendonça saiu são e salvo do processo. Me explicam que seu advogado fez uma defesa técnica e nada se provou que pudesse demonstrar seu envolvimento no caso.
Me parece impecável.
E justo, porque embora se possa falar em domínio do fato, é preciso mostrar quem tinha o domínio em cada fato.
José Dirceu e José Genoíno estão sendo condenados porque “não se acredita” que não tivessem participado  de nada…Não é possível, dizem.

Dirceu era o chefe…Genoíno assinou um pedido de empréstimo e várias renovações.

O problema é que a denuncia é de 2005 e até hoje não surgiu uma prova consistente para condená-los.

Eu posso até “imaginar” uma coisa. Mas o fato de poder imaginar, admitir que faz muita lógica, não quer dizer que tenha acontecido.

O risco é alvejar pessoas sem prova, em nome da indignação popular, estimulada por uma visão unilateral. Nem todos os meios de comunicação cobrem o caso da mesma maneira. Mas é fácil perceber o tom da maioria, certo?

Assim se cria um ambiente de linchamento, que pode ocorrer até em situações que ninguém acompanha. A justiça brasileira está cheia de cidadãos – anônimos e pobres, de preferencia – que são julgados e condenados a penas longas e duríssimas até que, anos e até décadas depois, descobre-se que foram vítimas de um erro e de uma injustiça.

De vez em quando, um deles consegue uma reparação. As vezes, a vítima já morreu e seus parentes recebem alguns trocados. Às vezes, fica tudo por isso mesmo.

O cidadão tem medo de ser vítima de uma nova injustiça e não faz nada.

Nesta semana, o ministro Celso Mello comparou o mensalão ao PCC e o Comando Vermelho.

Num raciocínio semelhante, Gilmar Mendes sugeriu  que, embora não tenha cometido atos de violência, a “quadrilha”, essencialmente, agia como uma organização de criminosos comuns.

Os dois ministros têm uma erudição jurídica reconhecida. Expressaram suas convicções com competência e lógica. Não é só por educação que admito minha ignorância para falar de seus votos.

Mas essas comparações não fazem justiça à  cultura que possuem.

Nos piores momentos do regime militar, os brasileiros que enfrentavam a ditadura de armas na mão eram descritos como “assaltantes de banco”, “ladrões”, “assassinos” ou “terroristas.” Até menores de idade foram presos – sem julgamento – com essa acusação.

As organizações armadas cometeram assaltos e sequestros. Também cometeram ações que resultaram em mortes, algumas na forma de justiçamento.

Seria correto comparar Carlos Marighella ao Bandido da Luz Vermelha? Ou Lamarca ao Cara de Cavalo? Ou então, como fez um promotor  louco para puxar o saco de militares, dizer que Dilma Rousseff, da Var Palmares, era a papisa da subversão?

Deu-se o golpe de 64 com a alegação de que se deveria eliminar a subversão e a corrupção. Uma coisa leva à outra, dizia-se. E era por isso que era preciso ligar uma coisa à outra. O PCB estimulava a corrupção como forma de desagregar o país, escreveu um dos editores da Tribuna da Imprensa, um dos principais envolvidos no golpe, logo depois da vitória dos militares. Vamos ler:

–Na maioria das vezes (os comunistas) são traidores. Outras, são mercenários; outras ainda, carreiristas; outras mais negocistas satisfeitos, que recebem todo o apoio do partido, pois uma das coisas que mais preocupa os agitadores é a corrupção, e assim eles a estimulam de todas as formas, pois sabem que não há melhor forma de estimular a desagregação de um país. (Prefácio do livro  Brasil – 1 de abril, de Araken Távora)

A comparação entre o esquema financeiro político  – com todos os crimes apontados – com quadrilhas criminosas é tão absurda que eu pergunto se essa visão  estará de pé, no Supremo, quando (e se) o mensalão PSDB-MG for a julgamento. Duvido por boas e más razões que você sabe muito bem quais são.

É fantasia falar em quadrilha que opera nos subterrâneos do poder.

Por mais que muitas pessoas não enxerguem – e outras não queiram enxergar – diferenças entre os partidos políticos e organizações criminosas, eles tem projetos diferentes, visões diferentes e assim por diante.

Por mais que se queira criminalizar a atividade política – é isso o que acontece hoje – é pura miopia confundir políticos e bandidos comuns. Não é uma questão de classe social, nem de status ou coisa semelhante.
É uma questão de atividade profissional, digamos assim.

Eu acho diferente controlar o território numa favela para vender cocaína e colher contribuições financeiras para disputar uma eleição. Mesmo que se deva considerar um desvio de verbas públicas como um crime gravíssimo, eu acho que é diferente quando se comete um assalto a mão armada, um assassinato, o justiçamento,  como método de trabalho.

E eu acho que um crime com homicídio é diferente daquele que não usa violência.

Mesmo frequentando uma zona de cinzenta da política brasileira que é o mundo das finanças partidárias – quem cunhou a expressão foi o filósofo tucano José Arthur Gianotti – José Genoíno tem o direito de assegurar que só fez o que era “legítimo e necessário.”

Da mesma forma, José Dirceu tem toda razão em sustentar: “nunca fiz parte de uma quadrilha.” Quem discorda, prove.

Não vale ganhar no grito, na dedução, no discurso. A gente sabe como se tentava demonstrar – sem provas — que Marighella, Lamarca, Cara de Cavalo e o Bandido da Luz Vermelha eram as mesmas pessoas.

O mundo real das finanças de campanha, organizadas e estruturadas para permitir o acesso do poder privado ao Estado, impõe uma realidade material aos partidos que, em todo lugar, precisam de recursos para buscar votos, montar estruturas, contratar funcionários e assim por diante.

Não custa lembrar: o PCC persegue e mata policiais, planeja o assassinato de juízes. Controla o sistema carcerário em São Paulo e impõe a paz de sua conveniência em várias regiões miseráveis do Estado.

O Comando Vermelho tem ligações conhecidas com o narcotráfico colombiano e controla parte do território do Rio de Janeiro. Está intregrado à rede de tráfico de armas.

De uma forma ou de outra, estamos falando de bandidos comuns e essa distinção é necessária. São pessoas que  cometem  crimes com a finalidade de praticar mais  crimes.

A ministra Rosa Weber estabeleceu muitas distinções em seu voto.

Observadores que tentam   nivelar uma coisa e outra praticam é  uma demagogia baixa, de quem investe na ignorância e desinformação do eleitor. Achar que o julgamento mostra que  os poderosos vão para a cadeia é vender uma visão ridícula.

Primeiro, porque se houvesse mesmo essa disposição, a turma do mensalão PSDB-MG estaria sentada no mesmo banco dos réus petistas, já que respondem pelos mesmos crimes. São os mensaleiros originais.

Segundo, porque é preciso ser tolo, maldoso, para sugerir que José Genoíno pode ser chamado de rico e poderoso.

Terceiro:  se  você acha que, ah… mas há algo de errado com José Dirceu, precisa não só admitir que Genoíno não pode pagar por aquilo que se imputa a Dirceu – mas também deve lembrar que o ex-ministro da Casa Civil teve o sigilo bancário e fiscal quebrado e nada se encontrou de comprometedor.

Alvo de um linchamento de caráter político no passado, o ex-ministro Alceni Guerra já comparou seu drama pessoal ao de Dirceu e disse que eram casos semelhantes.

As duas únicas historinhas que pareciam  comprometedoras contra o ex-ministro da Casa Civil não resistiram ao confronto de provas e versões.

Quarto: embora se diga que o mensalão está provado, até agora não surgiu um caso, sequer um, de político que tenha vendido seus votos. Nenhum. (E não vou falar da emenda da reeleição em 1998, compra assumida, confessada e gravada. Nem de denuncias de troca de favores e cargos na administração pública pelo mesmo motivo…)
A base desse argumento é a visão criminalizada de que toda aliança é um ato de suborno e todo acordo político é uma negociata. Quem fala que partidos que mudam de posição depois da eleição está cometendo um crime precisa me explicar como ficam os Verdes
alemães, que ora são social-democratas, ora estão com a conservadora Angela Merkel.

Também poderia fazer isso com o PPS que mudou de lado depois de 2002, com políticos que trocam de partidos, com quem funda partidos novos. Tudo é pilantragem remunerada?

Ninguém presta. São todos “mercenários”, são “negocistas” e “traidores”, como se dizia em 64.

A melhor descrição do funcionamento das alianças políticas –e seus reflexos financeiros – foi feita por Eliane Cantanhede na biografia do vice presidente José Alencar. É tão desfavorável à  acusação que vários parágrafos da obra foram incorporados ao processo pela defesa de Delúbio Soares – como argumento de sua inocência!

Embora a denuncia tenha  suposições falsas e conclusões imaginativas demais,  estou  convencido de que, como sempre acontece em sistema de arrecadação financeira, ocorreram desvios — mas nem tudo é criminoso. Há fatos verdadeiros e é importante que sejam punidos. Mas é preciso, como se diz, separar uma coisa da outra.

É lamentável que erros do passado não tenham sido investigados e punidos. Mas concordo que erros do passado não justificam erros do presente. Mas pelo menos deveriam servir de lição para quem diz que “agora”a justiça ficou igual para todos.

Querem punir os ricos e poderosos com o mensalão?

Marcos Valério não terminou o curso de engenharia.

Os banqueiros que podem parar na prisão não tem o lastro financeiro nem político de empresários que até agora ficaram de fora.

Convém pelo menos calibrar a demagogia.

Com todas as distorções, arrecadações financeiras fazem parte da política, essa atividade criada pelo homem para resolver diferenças e defender interesses com métodos mais ou menos civilizados. Ela que torna possível,  nos regimes democráticos, que a maioria possa defender seus direitos. E também permite que a minoria possa expressar-se.

O objetivo era levantar  recursos financeiros para as campanhas eleitorais de um governo que – eu acho que nem a oposição mais cega discute isso – que reorientou o Estado no sentido de favorecer a população mais humilde.

Um fato fica para você resolver. Tudo pode ser uma coincidência histórica. Mais uma vez.

Ou pode ser que muitas pessoas estejam felizes com o STF porque essa “turma do PT está “tomando uma lição”.
Nós sabemos os vários significados de “turma do PT”—os bairros onde seus eleitores moram, o salário que recebem, escolas e hospitais que frequentam, e assim por diante.

O governo Lula tomou medidas notáveis e muito eficazes para defender a Lei, a Ordem e a Justiça.

A saber:

a)   financiou as UPPs que emanciparam os moradores das favelas do Rio de Janeiro do controle do tráfico e só não fez o mesmo, em  São Paulo, porque as autoridades  se consideram mais capazes para dar conta do PCC;

b)   protegeu a autonomia do Ministério Público, nomeando para seu comando os procuradores mais votados, embora o governo avaliasse que eles tivessem uma postura oposicionista, motivo que já levou governadores da oposição a descartar reitores e procuradores gerais que eram preferidos de suas corporações;

c)   respeitou o Supremo a ponto de nomear juízes com independência, que hoje asseguram uma maioria de votos contra o ponto de vista do PT e seus aliados;

Estamos  falando de fatos de domínio público. Não são segredos imaginados, sugeridos, deduzidos. E é um fato de domínio público que a política, sob qualquer partido, para qualquer candidato, irá entrar na zona cinzenta de Gianotti.

É curioso notar que nenhuma mudança neste sistema pode ser realizada, até agora, porque aqueles políticos que se dedicam a denunciar  Lula e o PT não querem abrir mão de seus canais com o poder econômico privado e impedem que o país adote um sistema de financiamento público de campanhas.

Com essa mudança,  seria possível corrigir as principais distorções. As verbas seriam controladas pelo Estado, com uma contabilidade oficial, e  cada partido receberia recursos em função de seus votos. A oposição não aceita. Sabe por que?

Porque tem recebido tão poucos votos que ficaria em desvantagem. Embora tenha-se feito uma oferta para garantir um piso financeiro, ela não mudou a postura.

Prefere o dinheiro privado, particular. Mas anda tão ruim de voto que, para evitar o desperdício, tem sido até abandonada por seus financiadores tradicionais.

É mesmo de dar pena, não?

Prefiro uma democracia que funcione com defeitos – que podem ser corrigidos – do que qualquer solução  sem o respeito pelos direitos integrais dos acusados, mesmo que produzida em nome de princípios que muitos aplaudem sem medir suas consequências para o país.


Fonte: colunas.revistaepoca.globo.com